15 Outubro 2020
“A doutrina sobre homossexualidade, portanto, pode desenvolver-se em 'continuidades disforme' sem se contradizer e sem se fossilizar, mas 'assumindo novas formas'? A resposta do padre Aristide Fumagalli, professor de teologia moral na Faculdade de Teologia Itália Setentrional, é cautelosamente positiva”, escreve Luciano Moia, em artigo publicado por Avvenire, 14-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
“O que a doutrina da Igreja, desde sempre, julga negativamente não é tanto a pessoa homossexual, mas sim o comportamento homossexual”. Embora o Catecismo, referindo-se à Carta da Congregação para a Doutrina da Fé, A cura pastoral das pessoas homossexuais (1986), defina a orientação homossexual como "intrinsecamente desordenada", não rejeita a ideia de que a orientação sexual possa corresponder “à identidade pessoal da pessoa, ser-lhe conatural, tanto que não exige uma mudança na orientação homossexual”.
Ora, é verdade que a doutrina - como toda a história da Igreja demonstra - não é um "monólito fixado de uma vez por todas", mas pode ser comparada "a um edifício que é reestruturado para melhor corresponder ao seu sentido e à sua função no curso da história". O que não significa arrasar ao solo o prédio, mas valorizar sua estrutura e seus alicerces. Até mesmo a doutrina sobre homossexualidade, portanto, pode desenvolver-se em "continuidades disforme" sem se contradizer e sem se fossilizar, mas "assumindo novas formas"?
A resposta do padre Aristide Fumagalli, professor de teologia moral na Faculdade de Teologia Itália Setentrional, é cautelosamente positiva, como emerge de um livro publicado há poucos dias. L’amore possibile. Persone omosessuali e morale cristiana (O amor possível. Pessoas homossexuais e moral cristã, em tradução livre, Editora Cittadella, Assis) é um texto exigente e rigoroso. O prefácio é do bispo Marcello Semeraro. O posfácio de Giannino Piana.
L’amore possibile. Persone omosessuali e morale cristiana (Foto: Capa/Divulgação)
Nenhum slogan, mas uma rigorosa revisitação à doutrina sobre o assunto, das raízes bíblicas à pesquisa teológica contemporânea, para refletir sobre um dado objetivo. O juízo moral não pode ser abstrato, mas deve referir-se à condição concreta das pessoas e, nesse caso, também aos resultados científicos. A condenação dos atos homossexuais, explica o teólogo, “não contempla a possibilidade, desconhecida até a época contemporânea, de que os atos homossexuais correspondam à natureza da pessoa e expressem o amor pessoal”.
Portanto, não atos ditados pela "idolatria religiosa e egoísmo hedonista" - as duas condições que os tornam inaceitáveis - mas "uma expressão de amor pessoal cristão". Fumagalli parte de um dado científico que não pode ser ignorado. Hoje, os estudiosos em grande parte concordam em considerar a homossexualidade "a expressão de uma condição existencial que constitui e permeia, à semelhança da heterossexualidade, a identidade da pessoa".
Nenhum arbítrio e nenhuma autodeterminação por trás da homossexualidade, portanto "mas a interação de fatores biológicos, ambientais e pessoais" que remetem a fatores complexos, a ponto "que não existe sob o perfil etiológico e estrutural uma única homossexualidade", mas sim "homossexualidades múltiplas e diferentes".
Nesse enigma interior, porque essa condição assim permanece, o teólogo entra na ponta dos pés, com o respeito devido a cada pessoa independente de sua orientação sexual, no esforço de entender se o amor homossexual pode ser considerado interpessoal, respeitoso da alteridade, fecundo, casto, responsável e, portanto, cristãmente aceitável, por ser modelado no amor de Cristo.
O teólogo não nega os limites do amor homossexual em relação à "redução estrutural da alteridade sexual" e à "ausência da fecundidade da geração” (que, explica ele, pode ser compensada por fecundidade espiritual, relacional e social), mas observa que hoje “uma teologia mais atenta às vivências pessoais considera o caminho para o ideal, reconhecendo a gradualidade necessária para cumpri-lo e os eventuais obstáculos que o limitam”.
Não o idealismo abstrato do "tudo ou nada", mas a razoabilidade do "melhor possível". O fruto que essa teologia produziu em referência às chamadas situações matrimoniais irregulares, continua o texto, "pode instruir adequadamente o discernimento moral e o acompanhamento pastoral das pessoas homossexuais no caminho do amor cristão".
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O teólogo Fumagalli e “O amor possível. Pessoas homossexuais e moral cristã” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU