08 Outubro 2020
Os bispos Cottrell e Welby desculpam-se em uma carta diante dos fatos vergonhosos.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 06-10-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Pelo menos 390 membros da Igreja da Inglaterra, entre eles bispos, foram condenados por abusos a crianças ou pessoas vulneráveis, entre os anos 1940 e 2018, revelou um relatório difundido nesta terça-feira no Reino Unido.
O estudo, realizado pela Investigação Independente de Abusos Sexuais Infantis (IICSA, em inglês), constituída em 2015 para examinar possíveis delitos em instituições estatais, revela que, em 2018, as dioceses receberam 449 denúncias de supostos abusos e 2.504 carências na proteção a menores.
A presidente da IICSA, Alexis Jay, declara que, durante décadas, a Igreja Anglicana “não protegeu as crianças e jovens de abusadores sexuais, mas que, por outro lado, propiciou uma cultura na qual os perpetrados pudessem se esconder”, em detrimento do apoio às vítimas.
Criticou que, ao atuar assim, o credo majoritário no Reino Unido “estava em conflito direto com seu próprio propósito moral de proporcionar cuidado e amor para os inocentes e vulneráveis” na sociedade.
O relatório lamenta que, no País de Gales – também objeto da investigação –, a comunidade anglicana nem sequer conservou registros suficientes que permitam examinar os possíveis abusos cometidos no passado.
A Igreja da Inglaterra, com a Rainha Elizabeth II no topo da hierarquia, é a religião oficial em território inglês, com ramificações na Escócia, País de Gales e Irlanda e é matriz da comunhão anglicana global. Entre outras coisas, o estudo propõe que a Igreja Anglicana melhore a gestão de denúncias e expulse os culpados de abusos; que centralize a contratação de agentes de proteção infantil em vez de deixá-la nas mãos das dioceses; que compartilhe informação sobre o traslado de clérigos entre territórios e que ajude economicamente as vítimas.
Os dois mais altos cargos da Igreja anglicana tomaram a frente e antes da publicação do relatório pediram desculpas às vítimas dos sacerdotes pedófilos.
O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, líder espiritual dos anglicanos, e o arcebispo de York, Stephen Cottrell, afirmaram em uma carta aberta que estão “verdadeiramente arrependidos pela vergonhosa maneira na qual a Igreja atuou”.
“Comprometemo-nos a escutar, aprender e atuar em resposta às conclusões do relatório”, escreveram. Os dois eclesiásticos oferecem suas “mais sinceras desculpas, de todo o coração, aos que foram maltratados e a suas famílias, amigos e colegas”.
A comissão independente de Investigação sobre Agressões Sexuais a Menores (IICSA), criada em 2015 em razão das acusações, depois desmentidas, sobre uma suposta rede de pedofilia nos níveis mais altos do poder britânico, concluiu que “a deferência à autoridade da Igreja e aos sacerdotes, os tabus em torno da sexualidade e um entorno no qual os perpetradores recebiam mais apoio que as vítimas foram obstáculos à revelação das agressões”.
O relatório também examina o caso da diocese de Chichester, no sul da Inglaterra, e do bispo Peter Ball, já falecido, que foi condenado em 2015 a 32 meses de prisão pelos delitos sexuais cometidos contra 18 jovens durante três décadas.
Em um relatório publicado anteriormente, em maio de 2019, a comissão acusou a Igreja da Inglaterra de antepor sua “reputação” às vítimas do clero. Também criticou o príncipe Charles, herdeiro do trono, por seu apoio “equivocado” a Peter Ball.
No julgamento de Ball, denunciou que ministros, deputados, diretores de escola e um membro da família real intervieram diretamente para evitar que este amigo do príncipe de Gales fosse acusado já em 1993.
Em um comunicado emitido depois da publicação deste novo informe, a Igreja da Inglaterra assegurou estar “estudando as recomendações” e prometeu uma “resposta completa nas próximas semanas”. “Toda a Igreja deve aprender as lições desta investigação”, afirmaram os responsáveis da Igreja Anglicana em matéria de proteção das vítimas.
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A Igreja Anglicana “não protegeu as crianças dos abusadores”, segundo uma investigação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU