07 Agosto 2020
O sumo pontífice participou da negociação da dívida. Ajudou ao presidente Alberto Fernández e trabalhou com dirigentes globais.
A reportagem é de Alicia Barrios, publicada por Crónica, 06-08-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Jorge Bergoglio e Alberto Fernández, a sós, ouviram-se atentamente na reunião privada de 31 de janeiro. A humildade é uma qualidade que, para Francisco, é um dom de Deus. O presidente a teve. Ele pediu ajuda ao Papa. A resposta do padre Jorge foi imediata. Ele se ofereceu de corpo e alma.
Homem de palavra, ele o recomendou para uma série de reuniões. Cuidou pessoalmente e explicou, como um bom professor, os passos a serem seguidos. Francisco tem empatia pessoal com algumas referências importantes, como Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional, búlgara, de profunda fé, com uma visão da economia mundial que corresponde a uma sociedade mais justa.
Foi um aliado fundamental no acordo com os credores. Sem mencionar a premier Angela Merkel, que foi quem o visitou com mais frequência em seu pontificado. Francisco é um dos três chefes de estado mais importantes do mundo e o primeiro líder espiritual. Carrega todo esse poder com a mesma naturalidade que uma batina.
Opera em silêncio, ninguém percebe. Sempre com aquele gesto de eu não fiz nada. Se não fosse por conhecê-lo tanto, da mais profunda honestidade intelectual, eu pensaria que ele ensaia isso no espelho. Mas não, Bergoglio é de simplicidade sem precedentes. Sempre foi o mesmo.
Alberto Fernández fez jus às circunstâncias. Ele fez um apostolado de escuta e cumpriu à risca. Não foi soberbo. Ele apreciou a importância imensurável do papa argentino. O presidente, entre outras virtudes de qualidade singular, é um homem que escuta todos. O respeito à Sua Santidade, um reconhecimento que Bergoglio merecia, trouxe-lhe alegria. Algo que poucos conseguem entender porque não sabem.
Bergoglio ama a Argentina, é o seu lugar no mundo. Não sem dor, ele repetiu ao bispo Oscar Ojea um poema de Jorge Dragone:
“Se nos murió la Patria hace ya tiempo en la pequeña aldea. Era una Patria casi adolescente. Era una niña apenas. La velamos muy pocos: un grupito de chicos de la escuela. Para la mayoría de la gente era un día cualquiera. Pusimos sobre el blanco guardapolvo las renegridas trenzas, la Virgen de Luján y una redonda y aun escarapela. Unos hombres muy sabios opinaban: fue mejor que muriera. Era solo una Patria, nos decía la gente de la aldea. Pero estábamos tristes. Esa Patria era la Patria nuestra. Es muy triste ser huérfano de Patria, luego nos dimos cuenta”.
Esses versos são a síntese do sentimento bergogliano de que, quando foi eleito Papa, ele tomou um tempo sozinho, para aceitar, livrar-se de Buenos Aires, até sentir uma paz infinita que não era dele, como ele reconhece, mas o Espírito Santo, que até hoje não o abandona.
Tantos outros que pensam como ele foram se encontrando, como Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, com quem concordam que, sem melhorar a economia, a humanidade está se movendo em direção ao suicídio. Uma economia social não é o mesmo que uma economia socialista.
Alberto Fernández viajou sem hesitar em pedir ajuda. Ele não está sozinho, nem estará a partir de agora. Se há algo a agradecer ao Presidente, é que, juntamente com Bergoglio, eles podem realizar essa oração final com a qual, ao se despedir da Virgen de Luján, repetia sem cessar. Argentina, levante-se e caminhe. Viva a Pátria, padre Jorge.
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Argentina. O papel secreto do papa Francisco pela negociação da dívida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU