Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 01 Julho 2020
As rígidas medidas de proteção contra o coronavírus na Argentina demonstram os limites que são impostos pela situação socioeconômica. No mês de junho a curva de contágio cresceu mais que as expectativas e a quarentena implementada pelo governo federal precisou voltar para a fase 1. Com 62 mil casos confirmados e 1280 mortes, o maior número de casos está concentrado na Província de Buenos Aires e na área metropolitana de Buenos Aires. A crise do país se agravou com a pandemia, somando uma retração de 26% na atividade econômica.
Os mais afetados, pelo vírus e pela economia, são os pobres, sobretudo os moradores das villas. De acordo com Ministério da Saúde da Província de Buenos Aires, 18,5% dos casos foram registrados em bairros populares, já na Grande Buenos Aires, lideranças de movimentos sociais estimavam que em meados de maio 40% dos casos eram registrados nas villas. Em maio, o caso Ramona Medina, moradora da Villa 31 e liderança do movimento popular La Garganta Poderosa, despertou para a precária situação dos territórios. A mulher de 42 anos, morreu de covid-19 depois de esperar por mais de duas horas pela chegada de uma ambulância. Dado essa situação, os chamados cura villeros, padres atuantes nas periferias da capital federal, cobraram do governo da cidade que seja disponibilizada uma ambulância para cada comunidade.
A petição foi assinada por 40 padres e respaldada pela Conferência Episcopal Argentina. Nela, os curas villeros cobram uma organização da assistência diretamente com os territórios, com a disponibilização de veículos básicos de saúde para o traslado de casos graves para os hospitais de referência. De acordo com os padres, o problema sanitário é parte de um acumulado de políticas discriminatórias e preconceitos. “Muitas vezes manifestamos a dor que produz a privação de oportunidades e direitos por se viver em bairros chamados marginais: faltam vagas em escolas, insegurança no sentido amplo, rejeição de empregos por viver em uma villa, transporte público deficiente e sistema de saúde expulsivo”, declaram.
Para os padres, a falta de ambulâncias é um problema histórico, do qual não foi resolvido nem mesmo com medidas judiciais. Na declaração denunciam que “já existem causas judiciais, mas ainda segue acontecendo de muitas vezes a ambulância chegar mais tarde que o estipulado. Em todo esse tempo passaram-se inúmeras vezes que a pessoa faleceu antes que chegasse a emergência médica. Quantas mortes poderiam ser evitadas se a ambulância tivesse chegado a tempo. Muitos moradores de bairros pobres morreram sangrando enquanto a ambulância não chegava”. Segundo os padres, a desculpa de difícil acesso das ambulâncias às villas não é verdadeira, visto que as comunidades se organizam para facilitar a chegada da equipe médica até o usuário.
Para encontrar soluções a esse problema, os curas propõem que “nas villas ou bairros populares, que mostrarem capacidade de organização para isso, o Estado proporcionará uma unidade de traslado. Não se trata de substituir o sistema oficial de emergências médicas, mas de complementar o serviço estatal. Algumas de nossas paróquias e capelas, ou outras organizações, comprometem-se de coordenar isso”.
Por fim, se dispõem a criar um grupo de trabalho para implementação da proposta e reafirmam o desejo de “ajudar para que melhore a presença do Estado em nossos bairros, articulando com a organização da comunidade. Que a Virgem, em sua invocação de Nossa Senhora da Saúde, interceda pela vida digna dos moradores das villas e bairros populares e por uma melhor integração sociourbana”.
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Argentina. Padres das favelas exigem uma ambulância por bairro popular - Instituto Humanitas Unisinos - IHU