27 Março 2020
Com sistemas de saúde e saneamento precários, comunidade se preocupa com avanço da pandemia. Populações urbanas, ribeirinhas e indígenas, que já sofrem os impactos da hidrelétrica de Belo Monte, são as mais vulneráveis.
A reportagem é de Isabel Harari, publicado por Instituto SocioAmbiental - ISA e reproduzida por Amazônia.org, 26-03-2020.
“Ajude-nos a não morrer”. Com esse apelo, movimentos sociais e organizações da sociedade civil de Altamira (PA) organizaram uma campanha para garantir a saúde dos povos que vivem no maior município do Brasil. A iniciativa, em um primeiro momento, busca arrecadar verba para a aquisição de cestas básicas e materiais de limpeza e higiene, que serão distribuídos para 200 famílias em situação de extrema vulnerabilidade social. [Acesse aqui a campanha]
A região ainda enfrenta os impactos da hidrelétrica de Belo Monte, a quarta maior usina do mundo. Com 25 ações judiciais movidas pelo Ministério Público do Pará, além de centenas de outras da Defensoria Pública da União, a hidrelétrica é um projeto de infraestrutura marcado por um desastroso número de impactos socioambientais, como falta de infraestrutura de saneamento, educação, saúde, o aumento da violência, reassentamento de comunidades tradicionais em periferias urbanas e aumento da pressão sobre Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Cenário que pode se agravar com o avanço da pandemia.
“Nós, periféricos da cidade mais violenta da Amazônia, a maioria negros, sobrevivemos com muito esforço em tempos normais. Nós, ribeirinhos expulsos por Belo Monte, costumávamos receber tudo da floresta. Hoje estamos confinados nas periferias da cidade, ameaçados pela fome e pela doença. Nós, indígenas desaldeados, empurrados para as margens da cidade por aquilo que vocês chamam “progresso” e nós chamamos “morte”, temos ainda menos resistência a todas as doenças que vocês já trouxeram até nós”, diz um trecho da campanha.
Além da campanha para arrecadação de recursos, os movimentos estão organizando ações para cobrar um posicionamento dos governos e da Norte Energia, empresa concessionária da hidrelétrica de Belo Monte. Em carta entregue ao governo municipal, Ministério Público Federal e outros órgãos, os movimentos pedem uma reunião ampliada com representantes da sociedade civil, por aplicativo virtual e cobram medidas emergenciais para enfrentar a pandemia e seus efeitos.
Reforçam, ainda, que devem ocorrer ações conjuntas do poder público, instituições, empresas privadas e sociedade civil. “Se um destes pilares faltar ou falhar, não conseguiremos mitigar a tragédia que se anuncia em Altamira. Sua participação, portanto, não é solicitada. Ao contrário, é obrigatória”.
Dentre as cobranças estão a realização de ações emergenciais para ampliação, manutenção e reforço dos hospitais e Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a garantia de recursos à saúde para as populações ribeirinhas e indígenas que vivem em áreas remotas.
O mapeamento das famílias que receberão o auxílio inicial foi realizado pelo Movimento Xingu Vivo Para Sempre, Movimento dos Atingidos Por Barragens, Coletivo de Mulheres Negras Maria Maria, Movimento de Mulheres Trabalhadoras do Campo e da Cidade e Centro de Formação do Negro e Negra da Transamazônica e Xingu. Parte dos alimentos desta cesta serão adquiridos juntos a agricultores familiares e ribeirinhos da região de Altamira.
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Povos de Altamira organizam campanha para se proteger contra a Covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU