06 Março 2020
A primavera [no hemisfério Norte] geralmente é uma das estações turísticas mais movimentadas de Roma, em que os visitantes chegam para experimentar o esplendor da florida época da Páscoa no Vaticano ou para ver os locais históricos antes da chegada do calor opressivo do verão.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada em National Catholic Reporter, 05-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Também é quando as sete universidades pontifícias da cidade realizam muitos dos seus principais congressos durante o ano, aproveitando a temporada de viagens para atrair especialistas externos e explorar uma variedade de assuntos antes do encerramento do ano acadêmico italiano no fim de julho.
Mas, neste ano, o medo do coronavírus na Itália mudou tudo isso. Embora a grande maioria dos 2.700 casos relatados no país tenha ocorrido em regiões a meio dia de carro ao norte de Roma, diversos congressos agendados estão sendo adiados ou simplesmente cancelados, e muitos turistas estão mudando de planos no último minuto.
Em todo o Vaticano, há um notável esvaziamento. O tráfego a pé na Via della Conciliazone, a principal rua que leva à Praça São Pedro, está talvez com um quarto do seu volume habitual. E, com muitas autoridades vaticanas fora da cidade, em um retiro espiritual quaresmal de 1º a 6 de março, que o papa teve de perder devido a um resfriado, os prédios parecem estar na mesma situação.
O mais dramático tem sido o desaparecimento de centenas de estudantes universitários católicos dos EUA, chamados de volta para casa depois que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças emitiu no dia 28 de fevereiro um aviso de nível 3 para “evitar viagens não essenciais” para toda a Itália. As regiões do norte estão sujeitas a um explícito aviso de nível 4: “Não viajar”.
Pelo menos nove instituições católicas encerraram seus programas desde os avisos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças. A Universidade de Notre Dame disse à maioria dos seus alunos na sexta-feira passada que eles deveriam pegar voos de volta no domingo.
Outros estudantes passaram sua última noite em um bar perto da famosa Piazza Navona, que atende a clientela norte-americana, avaliando se deveriam assinar uma renúncia que os permitiria ficar, mas que também os obrigaria a encontrar novas habitações (alguns drinques depois, eles decidiram desanimadamente pegar o voo de volta para casa).
Apesar do esvaziamento, a vida aqui continua, em grande parte. Os Museus Vaticanos estão abertos, assim como a Basílica de São Pedro, embora as filas sejam muito mais curtas do que o normal. Mas a Pontifícia Comissão para a Arqueologia Sagrada fechou todas as várias catacumbas do país, alegando preocupação de que as condições úmidas do subsolo possam favorecer a propagação do vírus.
Entre outros cancelamentos:
- A Notre Dame e a Pontifícia Universidade Gregoriana adiaram indefinidamente um evento conjunto organizado para os dias 5 e 6 de março sobre o significado da abertura dos arquivos do Vaticano sobre o papado de Pio XII (1939-1958).
- A cúpula “A Economia de Francisco”, um grande evento internacional para destacar os ensinamentos econômicos do Papa Francisco, que originalmente pretendia levar milhares de estudantes para Roma e Assis, na Itália, de 26 a 28 de março, está sendo transferida para uma data ainda indeterminada em novembro.
- O Pacto Global sobre Educação, outro evento internacional destinado a reunir líderes mundiais e figuras religiosas para se debruçar sobre a melhoria da educação infantil global, foi transferido de maio para outubro.
- Também foi adiado um evento para teólogos sobre o impacto da crise dos abusos sexuais do clero, marcado para os dias 11 e 14 de março na Gregoriana.
A grande questão agora parece ser quanto tempo isso vai durar e se os congressos e outros eventos agendados para mais adiante no ano começarão a ser cancelados. Muitas coisas parecem depender de um aumento no número de pessoas em Roma com resultados positivos para o vírus.
O governo italiano está divulgando números atualizados da infecção nas 20 regiões do país todos os dias às 18h. No dia 4 de março, havia apenas 30 casos notificados no Lácio, a região mais ampla de Roma, de um total de 2.706 casos em todo o país. Mas o medo é de que o longo período de incubação do vírus possa estar escondendo uma série de casos futuros.
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Coronavírus: atmosfera de dúvida e medo leva a cancelar eventos em Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU