24 Janeiro 2020
Nesta semana, soube-se que o oceano acumulou, em 2019, uma quantidade recorde de calor. Por que isso é importante? Acompanhe com as questões abaixo.
A reportagem é de Santiago Sáez, publicada por La Marea, 17-01-2020. A tradução é do Cepat.
O que aconteceu?
O calor acumulado nos oceanos alcançou, em 2019, um novo recorde. O aumento da temperatura dos mares é uma das melhores maneiras de quantificar o aquecimento global, que é “inequívoco”, segundo um estudo publicado, nesta semana, na revista científica Advances in Atmospheric Sciences. A temperatura aumentou especialmente nos 2.000 metros mais próximos da superfície.
Quanto calor os oceanos estão absorvendo?
Este ano, os 2.000 metros superficiais absorveram 228 zeta-joules a mais do que a média registrada entre 1981 e 2010. Um zeta-joule equivale a 1.000.000.000.000.000.000.000.000 joules (pouco menos de 278 trilhões de kwh). O calor absorvido pelos oceanos é equivalente ao que todos os habitantes do planeta teriam gerado se cada um tivesse 100 fornos de micro-ondas funcionando ao longo do ano, de acordo com um cálculo do jornal britânico The Guardian.
Esse número era esperado?
Sim. A tendência ascendente das temperaturas é observada há anos. Os últimos cinco anos foram os mais quentes desde que há registros. Os últimos dez anos também são os dez com as temperaturas mais altas. A água tem um calor específico muito maior que o ar (ou seja, a quantidade de energia necessária para aquecer uma certa quantidade), portanto, nos oceanos, o aquecimento tem muito mais inércia. Também é muito mais estável, então, os cientistas usam essa medida como um indicador mais confiável para estudar o aquecimento global.
Os oceanos têm muito mais capacidade de absorver calor do que o ar. Acumulam cerca de 90% do excesso de energia no planeta. Embora isso não se traduza em um aumento de temperatura tão pronunciado quanto na atmosfera, isso não significa que a energia se dissipou.
Como o aumento da temperatura dos oceanos nos afeta?
Um oceano mais quente significa tempestades e ciclones mais poderosos e destrutivos. Também altera os padrões de precipitação, tornando a chuva mais irregular e torrencial, mas também mais escassa em áreas secas.
Além disso, a água, como o restante das substâncias, se expande com o calor. Mares mais quentes significam, portanto, um aumento maior no nível do mar. Segundo o oceanógrafo Gabriel Jordà, do Centro Oceanográfico de Baleares, cerca da metade do aumento do nível do mar (uns 20 cm em média, desde inícios do século XX) se deve à expansão térmica dos oceanos. Obviamente, os oceanos mais quentes também derretem o gelo dos polos e geleiras mais rapidamente.
E como isso afeta a vida marinha?
Os oceanos são responsáveis por grande parte da produção de oxigênio, e seu aquecimento diminui as áreas nas quais ocorrem as condições de vida ideais para as espécies que o produzem. Recentemente, sabe-se que áreas sem oxigênio se multiplicaram por quatro em sessenta anos.
Além disso, fornece alimentos para grande parte da população mundial. A cada ano, a indústria pesqueira contribui com cerca de 16% das proteínas consumidas no mundo. No entanto, os habitats de vários peixes estão ameaçados.
Um dos habitats mais importantes e mais ameaçados são os recifes de coral. A temperatura oceânica mais alta significa maior quantidade e severidade das ondas de calor marinhas. Essa é a principal causa de eventos de branqueamento de corais, observados cada vez com mais frequência. A morte dos recifes põe em risco uma grande parte da biodiversidade marinha, já que os recifes são os ecossistemas mais diversos dos oceanos. Até 4.000 espécies de peixes dependem deles.
Da mesma forma, oceanos mais quentes significam alterações para as espécies migratórias, que mudam seus padrões.
Como estão relacionadas a temperatura do oceano e a atmosfera?
Os oceanos, ao acumularem a maior parte do calor adicional, agem como uma reserva. Assim, mesmo se pararmos de emitir gases do efeito estufa nesse momento, a temperatura da atmosfera continuará subindo por anos. O oceano retornaria, pouco a pouco, o calor extra que foi acumulando.
O que podemos fazer?
Tudo o que podemos fazer é eliminar as emissões de gases do efeito estufa. O restante das soluções (geoengenharia, captura de CO2 ...) são, para o oceanógrafo Gabriel Jordà, “apenas remendos”.
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Perguntas e respostas sobre o aquecimento dos oceanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU