08 Janeiro 2020
O que devemos observar na vida da Igreja em 2020? Que temas e pessoas provavelmente mudarão a trajetória da história eclesial?
A pergunta é de Michael Sean Winters, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 03-01-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em dezembro, o Papa Francisco nomeou o cardeal filipino Luis Antonio Tagle para ser o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos historicamente conhecido como o “papa vermelho”. Tagle será o responsável por criar as ternas a partir das quais o papa escolherá os bispos para as dioceses missionárias.
Contaram-me que esta nomeação foi a primeira de várias e que em breve podemos esperar um novo prefeito para a Congregação para os Bispos, já que o incumbente, o cardeal canadense Marc Ouellet, pediu que fosse substituído. A congregação de Ouellet vem atuando de forma reservada, por vezes frustrando a nomeação de prelados do tipo mais pastoral; a entrada de uma nova liderança pode alterar este cenário.
O Cardeal Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, completou 75 anos em abril passado, mas até agora não se ouviu falar de sua substituição.
De preocupação especial aos americanos provavelmente será a nomeação de um novo prelado americano para a Congregação para os Bispos, quando o Cardeal Donald Wuerl completar 80 anos em 12 de novembro. Eis um cargo cansativo, mas de extrema influência, exigindo viagens mensais a Roma mas também garantindo um assento à mesa ao se discutir candidatos ao episcopado antes de serem enviados ao papa.
No momento, só existem dois candidatos: o Cardeal Joe Tobin, que mora a 10 minutos do Aeroporto de Newark, em Nova Jersey, e o Cardeal Kevin Farrell, quem já está em Roma com prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Qualquer um seria uma excelente escolha, já que ambos são defensores de Francisco e nenhum é ex-aluno do Colégio Norte-Americano. É imperativo que o núncio apostólico e a congregação olhem para além dos muros do Colégio Norte-Americano em busca de candidatos.
Três importantes arquidioceses estão ou vacantes atualmente ou têm um incumbente que já passa da idade de aposentadoria: Atlanta, Filadélfia e St. Louis. As três apresentam desafios distintos, com Atlanta sendo o rosto da Igreja emergente, de rápido e grande crescimento da comunidade latina, enquanto a Filadélfia e St. Louis, certa vez os lares de cardeais, representam a Igreja em declínio nas regiões Nordeste e Centro-Oeste.
Na Filadélfia, a sucessão será digna de nota primeiro porque o arcebispo de saída, Dom Charles Chaput, liderou a ala do episcopado envolvida nas guerras culturais e, segundo, porque a cidade tem sido um bastião do clericalismo há mais de um século. O prédio do seminário foi vendido e refazer esta instituição dará ao novo arcebispo a oportunidade de realmente mudar a trajetória do clero naquela que permanece sendo uma grande arquidiocese.
A Diocese de Birmingham, no Alabama, é uma pequena diocese, com somente 104.125 católicos, ou 3,4% da população. Mas é também o lar da EWTN e, portanto, esta nomeação será crucial.
A Diocese de Buffalo, em Nova York, tem 727.125 católicos, ou 47,6% da população, e cada um deles ficou desmoralizado pela forma como o agora aposentado Dom Richard Malone lidou com casos de abuso sexual clerical. Os fiéis desta diocese histórica precisam de um pastor de almas dinâmico.
Estas mudanças alterarão a direção da conferência dos bispos? Ora, somos um povo de esperança, mas ainda sim devemos nos manter realistas. Como mencionei em artigo anterior, as visitas ad limina a Roma estariam impactando profundamente alguns bispos americanos. As horas que eles passam com o Santo Padre mostram que este não é o demônio que Dom Carlo Maria Viganò e seus mínions do sítio LifeSiteNews dizem que seria.
Mas também não devemos ser ingênuos. O nosso típico bispo americano pode ser um homem de oração como o papa, mas alcançou este posto na Igreja por causa de certas capacidades gerenciais e/ou por que fiz contatos úteis em Roma enquanto estudava ou trabalhava lá. É sabido que Francisco nunca trabalhou ou estudou em Roma.
E a maioria dos bispos, mesmo aqueles que admiram o papa, não conseguem reconhecer até que ponto foram influenciados pelos defensores da liberdade religiosa, das estratégias pró-vida e, no interesse da imparcialidade, pelos defensores do não intervencionismo em política externa e em programas inadequados que visariam a diminuição da pobreza.
Tenho o receio de que muitos deixaram se levar pela abordagem à evangelização sugerida pelo bispo auxiliar de Los Angeles, Dom Robert Barron, não por causa de sua eficácia, mas porque não têm alternativa. O caminho sugerido por Francisco está além do escopo da imaginação destes prelados.
Tenho também medo de pensar sobre o número de vezes que iremos ouvir que o aborto é o problema “preeminente” este ano dos eleitores católicos. Não é. E se o ex-vice-presidente Joe Biden for o candidato democrata, poderemos esperar que uma meia dúzia de padres reacionários se ponham a negar a Comunhão ao candidato visitante quando este vier às suas igrejas, muito embora tais sacerdotes não são, de forma alguma, o pastor de Biden e, portanto, não deveriam tomar este tipo de decisão. E o bispo da Diocese de Wilmington, no estado de Delaware, Dom Francis Malooly, já está com 75 anos. Podemos esperar e orar para que o seu sucessor, assim como Malooly, não se incline a transformar o altar em um campo de batalhas político.
Um outro aspecto dos efeitos dos bispos no comportamento eleitoral dos católicos: continuarão sendo insignificantes. Duas áreas da vida onde os bispos perderam credibilidade entre os fiéis? O quarto de dormir e, agora, a urna eleitoral.
O papa tem feito grandes progressos ao mudar, em diferentes modos, a cultura da Igreja Católica, principalmente quando se trata de enfrentar o flagelo dos abusos sexuais clericais. As iniciativas neste sentido devem continuar. Qualquer indício de um atraso aqui aumentará o ânimo de muitos a respeito da Igreja, levando outros tantos a abandonar a instituição.
Além da questão dos abusos sexuais, maneiras tradicionais de ser fazer as coisas, como os prelados enviarem cheques uns aos outros para comemorar um aniversário ou custear as despesas de mudança, devem ser revistas e deixadas de lado. Esta prática, às quais penso ser errado atribuir automaticamente motivos impróprios, deveriam acabar, juntando-se às mansões episcopais como uma coisa do passado.
Eu gostaria de prever que veremos os bispos tomar conta da situação da universidade deles, a Universidade Católica da América, mas tal é um confronto que ninguém parece querer travar. Para a maioria dos bispos que compõem o seu conselho, ela não faz parte de seu quintal.
O arcebispo de Washington, Dom Wilton Gregory, é o chanceler da universidade. Espero que ele tenha interesse em resolver alguns dos problemas aí existentes, mas há pouco ele completou 72 anos e, em minha experiência, os bispos só abordam os problemas que eles têm tempo hábil para resolver, e a situação que na instituição se apresenta provavelmente levará uma década para se assentar. Talvez a Congregação para a Educação Católica se interesse pelo caso.
De forma semelhante, os serviços católicos de assistência à saúde continuarão pagando milhões escandalosos aos seus CEOs, aumentando a desigualdade de renda que insulta o ensino católico e ameaça o tecido social do nosso país. Como em 20 anos passamos de um setor da Igreja administrado inteiramente por religiosas com votos de pobreza para um setor administrado por homens brancos e ricos? De novo, talvez um incentivo para uma mudança venha de Roma, onde a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica possam se interessar em escalas de pagamentos diferenciais em instituições pertencentes a ordens religiosas.
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Nomeações episcopais pendentes devem marcar a Igreja nos EUA em 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU