09 Janeiro 2020
Propomos um hábito para cada mês do ano a fim de que, pouco a pouco, você possa gerar menos resíduos.
A proposta é de Pablo Cantó, publicada por El País, 03-01-2020.
Parar de fumar, aprender um idioma, matricular-se na academia. Os propósitos de Ano-Novo costumam ser pequenos gestos para melhorar algum aspecto de nossa vida: estarmos mais saudáveis, termos melhor forma física, podermos viajar mais... Mas o que você acharia se neste 2020 somarmos um propósito para tentar melhorar o planeta?
Em 2019, muito se falou de meio ambiente e de mudança climática. Aquilo que parecia um perigo para daqui a centenas de anos virou uma ameaça urgente. E entre os temas mais preocupantes vinculados ao meio ambiente está o cerco ao consumo de plásticos. Seu lento processo de degradação —estima-se que alguns plásticos levem centenas de anos a desaparecer da natureza — e sua fácil dispersão os transformaram em uma ameaça para os mares e para todos os animais que os habitam. E o que é pior: continuamos a utilizá-los e a jogá-los fora diariamente.
Se você quiser adotar a resolução de consumir menos plásticos em 2020, deixamos 12 sugestões para serem incorporadas à sua rotina mês a mês.
Normalmente, quando você vai ao supermercado buscar algo para comer, como algumas frutas, um doce, carne ou peixe, esses produtos acabam dentro de uma embalagem ou sacolinha plástica que, por sua vez, acaba dentro de outra sacola. Isso se o produto já não vier excessivamente embalado com filme plástico ao redor de uma bandeja de isopor. Neste janeiro, você pode se propor a evitar todos esses plásticos cuja vida termina assim que chegam à sua casa e a comida vai para a fruteira ou a geladeira. Como fazer isso? Vá ao supermercado levando tupperwares, potes e várias sacolas pequenas de tecido, e tentando comprar a granel.
Os supermercados geralmente não fazem nenhuma restrição a que o açougueiro ou o peixeiro guarde o produto diretamente num tupperware —muito menos em lojas de bairro e estabelecimentos especializados em produtos a granel — e, conforme contou ao EL PAÍS o plasticariano Javier Barrios, sócio da cooperativa online Sin Plástico, quando você se acostuma com isso se torna muito mais cômodo: ao chegar em casa, você já terá tudo nos respectivos recipientes, pronto para guardar na geladeira. Além disso, você pode tentar fazer parte de sua compra em lojas de produtos a granel. Não só poderá comprar a quantidade exata de feijões (ou macarrão, ou café, ou fruta…) que necessitar, como também evitará ter que jogar fora as bandejas ou embalagens de plástico adicionais.
O objetivo de reduzir o consumo de plásticos é ser mais sustentável. Não se trata de jogar fora todos os plásticos que tivermos em casa nem de deixar de usar todos os artigos feitos com plástico —como o teclado do computador, por exemplo—, mas sim de gerar o mínimo de resíduos possível. É muito mais sustentável, por exemplo, continuar utilizando o cantil da bicicleta até que sua vida útil acabe, em vez de jogá-lo fora só porque é de plástico. Para diferenciar os plásticos reutilizáveis dos descartáveis, em fevereiro você pode se propor a aprender o código dos plásticos.
Todos eles estão marcados com um pequeno triângulo no qual aparece um número, de 1 a 7. Esse número indica se o plástico é reciclável ou não, e se podemos reutilizá-lo. Os marcados com números de 1 a 6, por exemplo (garrafas de plástico, iogurtes…) podem ser jogados na lixeira amarela, ao contrário dos indicados com o 7 (suportes de vasos de plástico, brinquedos…). Além disso, os de tipo 2 (a maioria das embalagens de detergente ou água sanitária, por exemplo) e 4 (sacos plásticos) são reutilizáveis, ou seja, podem ter uma segunda vida.
Se você sair de casa para fazer compras levando tupperwares e sacolas, só terá de pegar novos sacos plásticos ao fazer compras imprevistas: aquela passada no mercado antes de chegar em casa porque falta algo para o jantar, um capricho ao passar na frente de uma loja… Para solucionar isso, a proposta de março é simples: ande sempre com uma bolsa de pano.
Quando dobradas, elas não ocupam espaço e podem ser carregadas num bolso do casaco, numa mochila, numa bolsa… ou inclusive podem ser a própria bolsa. Como contava a jornalista Patricia Gosálvez em seu diário de uma semana sem plásticos, publicado no EL PAÍS, uma das chaves para não ter que recorrer a embalagens desnecessárias é a organização e a antecipação. E andar sempre com uma sacola é uma forma de se antecipar.
No trabalho, com o perdão da redundância, há muito trabalho a ser feito em termos de parar de usar plásticos descartáveis. Em primeiro lugar, é muito difícil reciclar os talheres descartáveis, assim como as pazinhas para mexer o café que geralmente estão disponíveis em muitos escritórios, como você descobriu em fevereiro, depois de aprender o código plasticariano. Você pode evitar isso trazendo seus próprios talheres de alumínio, inclusive a colher de café.
Segundo o jornal britânico The Guardian, em 2017 foram compradas no mundo 1,44 bilhão de garrafas de plástico por dia. Evitar ser um desses compradores de garrafas é tão simples quanto ter uma garrafa reutilizável (existem as de vidro, de alumínio...) no trabalho que você pode encher em um bebedouro ou na torneira. Para transportar alimentos ou tupperwares, você pode recorrer a papel encerado e, se você toma café e a máquina só tem copos de plástico, pode levar sua garrafa térmica de casa ou verificar se a máquina tem a opção “sem copo”. Nesse caso, o que você precisa trazer de casa é uma xícara.
Em maio começa o frio calor no Hemisfério Sul e, com ele, o ritual de mudanças no armário: as roupas mais leves vão para o banco de reservas e roupas mais quentes vão para o time titular. E nesse processo talvez você descarte ou compre alguma peça de roupa. É um bom momento para parar para pensar na composição plástica de suas roupas.
Em seu artigo 20 Maneiras de Reduzir o Plástico em sua Rotina, o blog do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) explica que roupas feitas de tecidos sintéticos “liberam pequenos microplásticos que acabam no oceano e nos pulmões. Até os tapetes sintéticos liberam esse tipo de partículas”. Ao comprar roupas novas, procure escolher as que são feitas com tecidos naturais e, se você quiser se desfazer das que não usa mais, considere doá-las ou até consertá-las, se tiverem algum defeito.
O banheiro é um dos lugares da casa que, em geral, concentra mais plásticos em menos espaço: são frascos de gel, de xampu e de sabonete para as mãos, escovas de dente, cotonetes, lâminas de barbear, potes e tubos de creme, produtos para a menstruação e seus recipientes, esponjas e assim por diante. Junho pode ser o mês em que você considere como substituir todos esses plásticos por outras alternativas quando sua vida útil acabar. Aqui estão algumas ideias:
Escova de dente: pode ser substituída por uma de bambu com cerdas naturais.
Xampu, gel e cremes: muitas lojas de cosméticos têm à venda produtos em forma de tablete e sem embalagem. Existem de sabonetes a xampus e também cremes hidratantes. Algumas lojas de produtos a granel também vendem xampus e géis a granel para reabastecer embalagens já usadas.
Cotonetes: existem cotonetes com haste de papelão, à venda em muitos supermercados ou, para quem prefere uma alternativa que não gere resíduos, hastes laváveis e reutilizáveis à venda em lojas online especializadas.
Desodorante: pode ser substituído por alúmen de potássio (em bastão ou em pó) ou por um desodorante à base de manteiga em tablete.
Lâminas de barbear: você pode optar por lâminas reutilizáveis.
Produtos para a menstruação: existem alternativas ecológicas e reutilizáveis, como o coletor menstrual, a calcinha que absorve o fluxo, o absorvente lavável de tecido...
Esponja: você pode substituí-la por uma natural ou, se você usa sabão em barra, parar de usá-la.
Comprar uma garrafa de água de plástico toda vez que você tiver sede significa produzir uma enorme quantidade de resíduos em um ano.
Comprar uma garrafinha de água na rua não significa apenas gerar lixo desnecessário, mas também é muito provável que acabe em uma lixeira comum e não em um coletor de reciclagem. Há uma infinidade de bebedouros públicos onde você pode encher sua garrafa reutilizável ou inclusive beber da torneira se você esquecer a garrafa. Para carregar a garrafa, você pode recorrer a uma sacola de pano e assim evitar esquecê-la em casa.
Um dos movimentos que alguns países estão fazendo contra o uso de plásticos descartáveis é a proibição dos canudos. Os países da União Europeia estabeleceram 2021 como data-limite para o fim de sua utilização, e metrópoles como a Cidade do México aderiram ao mesmo compromisso. Estima-se que os canudos levam entre 200 e 500 anos para se degradarem. Agosto pode ser um bom momento para parar de usá-los.
Atualmente os canudos de papel já podem ser encontrados em muitos estabelecimentos, mas, para evitar criar mais resíduos, eles também podem ser substituídos por um reutilizável de alumínio. E nas festas em casa deve-se evitar o uso de balões, muito perigosos para a vida marinha, e ornamentos descartáveis.
Os microplásticos são pequenos fragmentos de plástico com menos de cinco milímetros. Alguns aparecem no processo de decomposição ou de quebra de recipientes maiores, mas outros, como é o caso das partículas contidas em muitos cremes ou pastas de dente, são muito pequenos desde a fabricação. É conveniente evitá-los não apenas porque são impossíveis de reciclar, mas também por causa de seus efeitos na saúde dos seres humanos que são, no momento, muito pouco conhecidos.
Substituir os produtos de higiene e beleza com microplásticos por outros que não os contenham é simples. Inclusive se você busca algum produto com efeito esfoliante, conforme explica o blog do Plano de Desenvolvimento das Nações Unidas, “é possível encontrar alternativas como produtos com sal marinho e esfoliantes à base de plantas, como sementes de damasco trituradas e casca de coco”.
É possível que, mesmo fazendo as compras com tupperwares e frascos, existam plásticos dos quais você não tenha conseguido se livrar. Você pode dedicar este mês a procurar alternativas. Muitos produtos que tradicionalmente compramos em embalagens plásticas as têm: por exemplo, o óleo pode ser encontrado em garrafas de vidro ou latas de alumínio, o leite em garrafas de vidro...
No caso de não encontrar algum produto com um recipiente sem plástico, você pode investigar se alguma loja na sua região os vende a granel. E, no caso de não encontrar alternativa alguma, Javier Barrios recomendou ao EL PAÍS os grandes recipientes (uma garrafa de óleo cinco litros, por exemplo) em vez de vários pequenos.
A faxina também costuma significar que, ao longo do ano, dezenas de plásticos acabem no lixo: embalagens de líquido para lavar louça, produtos para limpar o chão, panos descartáveis, buchas, sacos de lixo etc. A maioria desses produtos tem alternativas sem plástico, e novembro pode ser um bom mês para considerar a mudança para algumas delas quando chegar a hora de substituir os produtos de limpeza doméstica. Por exemplo:
Detergente para máquinas de lavar louça: existem tanto em tablete quanto em pó que, além disso, podem ser diluídos em água para serem usados em formato líquido.
Sabão para roupas: os formatos de pó geralmente usam embalagens de papelão.
Produto para limpar o chão: como muitos outros produtos de limpeza, pode ser encontrado a granel em lojas especializadas.
Lembre-se de guardar o recipiente antigo para enchê-lo.
Panos descartáveis: podem ser substituídos por um reutilizável de fibras vegetais ou por panos laváveis.
Bucha: existem alternativas de origem vegetal, como as escovas de fibras vegetais ou as buchas de coco; e escovas de cobre ou de aço inoxidável. E também as de estopa ou de juta de sempre, que são vendidas em rolos nas lojas de ferragens. Assim, além disso, evitamos que cheguem a casa com excesso de embalagens.
Sacos de lixo: no momento são de difícil substituição, embora muitos blogs de plasticarianos recomendem criá-los com outros resíduos, por exemplo, fazer envelopes ou pacotes com folhetos de publicidade de papel.
Nem mesmo seguindo ao pé da letra todas essas dicas o planeta se tornará sustentável, mas é o primeiro passo tanto para produzir menos resíduos quanto para aumentar a conscientização sobre a questão. Em você e nos outros: converse com seu garçom de confiança para que deixe de servir canudos de plástico ou comida para viagem em recipientes plásticos descartáveis; diga ao vendedor de frutas que seria melhor evitar as frutas embaladas, peça à sua empresa que troque os talheres de plástico por outros reutilizáveis... E tente que, no próximo ano, mais colegas, amigos e familiares se sintam encorajados a seguir esses 12 gestos.
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12 gestos para usar menos plásticos em 2020 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU