27 Novembro 2019
Os conhecimentos das famílias agricultoras em diálogo com a Embrapa, academia, institutos de pesquisa, acadêmicos e estudantes, e a sistematização da realidade frente às perspectivas e desafios na realização das atividades e pesquisa em ciência, tecnologias e inovações no Semiárido brasileiro, foram os pontos estruturantes do Seminário Ciência, Tecnologia e Inovação no Semiárido Brasileiro realizado na última sexta- feira (22), em Petrolina, realizado pela Articulação Semiárido Brasileiro, ASA, como parte das celebrações dos 20 anos da sua trajetória. O evento fez parte da programação da oitava edição da Feira Semiárido Show, que movimentou o Sertão pernambucano, dos dias 19 a 22 de novembro.
Arquivo Asacom. Foto: Rosa Sampaio
A reportagem é de Rosa Sampaio, publicada por Articulação do Semiárido - ASA, 25-11-2019.
Coordenado por Alexandre Pires, que compõe a coordenação executiva da ASA, o seminário contou com a participação da agricultora familiar, Ana Lúcia, da professora da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Rebeca Mascarenhas, do diretor da Embrapa Semiárido, Pedro Gama e do do deputado Federal, Gonzaga Patriota, representando a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Convivência com o Semiárido.
No intuito de permitir uma ampla troca de saberes das iniciativas em desenvolvimento - e quais os passos são necessários para manter e ampliar tais iniciativas em diálogo com o conhecimento e demandas das famílias agricultoras, o seminário despertou interesse de pesquisadores e pesquisadoras, estudantes e muitos/as jovens agricultores/as, que lotaram a sala Mandacaru durante toda a manhã da sexta-feira. A presença desses/as jovens foi celebrada pelo deputado Federal Gonzaga Patriota, que destacou a importância da juventude do campo, dos Institutos Federais e academia para o desenvolvimento da região.
Alexandre Pires, da ASA, analisou como oportuna a presença de pesquisadores e jovens estudantes neste seminário, “É fundamental que, o que esses/as estudantes e jovens pesquisadores/as, na maioria agricultores/as ou filho de agricultores/as, desenvolvem, seja para carreira acadêmica ou para desenvolver algum trabalho nas propriedades rurais, que essas pesquisas e estudos estejam comprometidos com essa realidade, com a realidade da construção da convivência com o semiárido”, pontuou.
A pesquisa e a inovação no Semiárido exigem a observação da realidade e partir das características socioeconômicas, culturais, entre outras; das condições climáticas; das necessidades urgentes da população, dos limites temporais; das suas singularidades, e, principalmente, das potencialidades dos agricultores e agricultoras familiares, como fundamentais para o desenvolvimento da região .
Rebeca Mascarenhas, professora de Ciências Biológicas da Univasf, trabalha com o conhecimento tradicional, como ele pode contribuir com as pesquisas acadêmicas e com o avanço da sociedade e destaca o papel dos saberes das mulheres na convivência com o Semiárido. “As mulheres são importantes e autoras fundamentais na dinâmica da convivência e também na salvaguarda do conhecimento tradicional e da manutenção da biodiversidade”, nos fala Rebeca em entrevista.
O grande desafio para as instituições de pesquisa, academia e ONGs é como contribuir para o desenvolvimento do Semiárido brasileiro, considerando sua diversidade estrutural e natural, diante os cenários que colocam em risco a produção agropecuária e a base de recursos naturais, e impedem a inclusão econômica e social de grande parte da população rural.
A agricultora Ana Lúcia, da comunidade de Lagoa do Meio, em Juazeiro da Bahia, reconhece a importância da pesquisa e das inovações para a melhoria do meio rural e a convivência com Semiárido, “A gente já percebe o resultado de algumas tecnologias e inovações, de muitas pesquisas, principalmente para que agricultores e as famílias do campo tenham como permanecer nas suas propriedades, que os jovens continuem e queiram viver no campo. Precisamos de políticas públicas que assegurem às famílias e aos jovens no campo, para que mantê-los e que não tenhamos mais o êxodo rural, essas pesquisas e as políticas públicas é importante pra gente neste sentido”, aponta Ana Lúcia.
As tecnologias e inovações para serem bem sucedidas precisam cumprir um rito de diálogo entre os sujeitos que atuam no Semiárido, e também uma ação do poder executivo no fortalecimento das iniciativas já em curso na região e na garantia e ampliação de recursos públicos para o funcionamento das instituições de pesquisa. Requer ainda das casas legislativas a criação e atualização de marcos regulatórios favoráveis ao desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e a inovações no Semiárido.
O diretor da Embrapa Semiárido, Pedro Gama destacou a importância das iniciativas que estão em curso na região para o desenvolvimento da agricultura e agropecuária na região. “Se você perguntar as pessoas mais velhas como era antes, elas irão te falar das dificuldades, hoje já vemos outras realidade, é só olhar para o nosso fundo de pasto, o que já construímos, nós tivemos por exemplo, um processo de reestruturação produtiva interessante, com algumas atividades tradicionais, estamos vendo ressurgir caprinocultura, a valorização da avicultura, da criação da galinha caipira tradicional e da apicultura, como foco inclusive para a preservação da nossa caatinga, da nossa biodiversidade. Mas ainda é preciso mais, precisamos manter os jovens no campo, fazê-lo atrativo, e isso é com investimento, tecnologias e iniciativas, para contribuir com o desenvolvimento do Semiárido”, enfatiza.
O seminário foi um momento de troca de saberes e debate sobre a convivência com a região e o futuro da produção agropastoril na região entre agricultores e agricultoras, ONGs, estudantes, pesquisadores, institutos de pesquisa e universidades.
Para contribuir com o debate do Seminário, o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada - IRPAA, organização baiana que faz parte da ASA, fez o pré - lançamento da publicação Experiências de Recaatigamento no Semiárido Brasileiro, sistematização de diversas experiências populares de recaatingamento, com base agroecológica e com enfoque na convivência com o Semiárido. A cartilha é uma ação do projeto Bem Diverso do IRPAA e parceria com a Embrapa, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF).
Com o tema "Inovações e Dinâmicas de Desenvolvimento Regional", a oitava edição da Feira Semiárido Show reuniu, dos dias 19 a 22 de novembro, agricultores, estudantes, ONGs e agentes de assistência técnica e extensão rural de todos os estados que compõem a região semiárida. A feira ocupou uma área de aproximadamente 20 hectares da Embrapa Semiárido, na zona rural de Petrolina, no sertão de Pernambuco, com estandes institucionais e exposição produtores da região.
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ASA 20 anos: ciência, tecnologia e inovação no Semiárido Brasileiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU