07 Novembro 2019
O compromisso com a justiça social e a defesa dos mais fracos, a ponto de arriscar a própria vida: esse é o caminho a que os jesuítas são chamados a percorrer em todo o mundo. O seu exemplo, às vezes heroico, foi lembrado durante a missa celebrada nessa segunda-feira, 4 de novembro, em Roma, na sede da Cúria Generalícia, na conclusão do primeiro dia do Congresso do Apostolado Social da Companhia de Jesus.
A reportagem é de Charles de Pechpeyrou, publicada em L’Osservatore Romano, 06-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Foi um ato comemorativo do 50º aniversário do Secretariado de Justiça Social e Ecologia (SJES), cujo diretor, o indiano Xavier Jeyaraj, conversou com o L’Osservatore Romano. Entre os outros temas evocados durante a entrevista: a implementação das Preferências Apostólicas Universais, os laços entre a Companhia e o Santo Padre, a necessária resposta ao “escândalo da pobreza”.
Eis a entrevista.
Qual é a avaliação, ainda parcial, desse congresso?
Estamos muito satisfeitos, porque mais de 200 pessoas provenientes de 62 países – algumas das quais com grandes dificuldades – conseguiram vir a Roma para participar do evento. A primeira sessão foi muito profícua, também em nível espiritual, em particular graças às intervenções do cardeal Peter Kodwo Appia Turkson, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, e do cardeal Michael Czerny, subsecretário da Seção Migrantes e Refugiados do mesmo dicastério. Não devem ser esquecidos os comoventes testemunhos de numerosos jesuítas de todas as partes do mundo.
Quais são os destaques no centro do congresso?
Até agora, não foram abordados temas específicos, mas, de alguma forma, tentamos nos enraizar na espiritualidade, que nos inspira e nos chama a nos comprometermos mais com a resposta às preocupações da sociedade. Esses cinco dias de trabalho se realizaram recorrendo ao discernimento, como proposto por Santo Inácio de Loyola. Terça e quarta-feira foram dedicadas à reflexão sobre as Preferências Apostólicas Universais, que orientam toda a Companhia de Jesus pelos próximos dez anos: as migrações, como o Papa Francisco nos pede, estar junto com os pobres, o cuidado da Casa Comum e, por fim, os jovens que devem ser escutados e acompanhados mais, um verdadeiro desafio. A quinta-feira será dedicada ao modo pelo qual conseguimos colaborar, integrando-nos à rede daqueles que trabalham no meio do povo, mas também trabalhando com a Igreja universal e os dicastérios.
Na quinta-feira, vocês serão recebidos em audiência pelo Papa Francisco. O que esperam desse encontro?
Acima de tudo, receber a sua bênção. Depois, esperamos que ele nos encarregue de levar em frente as Preferências Apostólicas Universais que delineamos. Também queremos dizer ao Santo Padre que toda a Companhia, não apenas aqui na Cúria Generalícia de Roma, mas no mundo inteiro, está do seu lado. Como jesuítas, queremos nos comprometer mais em favor dos pobres, dos migrantes, dos fracos, dos jovens, do ambiente, exatamente como o Papa Francisco pede. As suas palavras e os seus gestos nos inspiram muito e representam um verdadeiro desafio para nós. O caminho que estamos fazendo aqui em Roma não diz respeito apenas aos jesuítas, mas a toda a Igreja.
O primeiro dia se concluiu com uma missa celebrada em memória de 57 jesuítas mártires em todo o mundo, de 1969 até hoje. Por quê?
Os “mártires” – entre aspas, porque nem todos são oficialmente reconhecidos como tais – são pessoas que lutaram pela justiça em todo o mundo e que foram mortas pela sua fé e porque acompanhavam as pessoas vulneráveis, como o Papa Francisco nos convida a fazer. Pensemos, por exemplo, no servo de Deus Rutilio Grande García, mártir em El Salvador, em Thomas Gafney, morto no Nepal, em Frans van der Lugt, na Síria, ou em Victor-Luke Odhiambo, no Sudão do Sul. Pessoas que compartilharam a vida dos marginalizados, enquanto também poderiam ter partido, que permaneceram no meio do povo para compartilhar os seus sofrimentos. Quisemos recordá-los com essa celebração eucarística. Cinquenta anos depois da criação desse secretariado, desejado pelo Pe. Arrupe, todas as províncias jesuítas do mundo querem se comprometer novamente com a justiça e a verdade, comemorando também esses mártires, a sua ação no meio do povo, guiada pela fé. Não devemos celebrar apenas o sucesso – Jesus mesmo foi morto –, mas também as pessoas que sofreram porque permaneceram com os mais fracos.
O senhor é o diretor do SJES desde 2017. Como vê a sua missão?
Enquanto a sociedade trata os pobres como pessoas das quais é preciso se envergonhar, é a pobreza, pelo contrário, que constitui um escândalo. Ela deve ser erradicada, as desigualdades devem ser condenadas mais, assim como a acumulação de tantos bens por parte de poucos. Queremos lutar contra essas chagas. Não apenas estando entre as pessoas, mas também defendendo os seus interesses, as suas causas, as suas preocupações, em todos os níveis, para construir uma sociedade justa e equitativa. E isso ficou bem evidenciado pela escolha da luta contra a pobreza entre nossas Preferências Apostólicas Universais.
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O exemplo dos mártires. Entrevista com o diretor do Secretariado de Justiça Social e Ecologia da Companhia de Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU