18 Outubro 2019
Em áreas alvo de exploração irregular, o primeiro passo é a retirada de árvores menores, depois as maiores, e na sequência o fogo é usado para abrir espaço para o pasto.
A reportagem é de Carolina Dantas, publicada por G1, 16-10-2019.
As queimadas são apenas uma das etapas do ciclo de uso da terra na Amazônia. Depois do desmate, se nada de novo acontecer, a floresta pode se regenerar. Uma floresta secundária, no entanto, nunca será como uma original, mesmo que uma parte da biodiversidade consiga se restabelecer. Mas na prática o que acontece é que a mata não tem tempo de crescer de novo.
Uso da terra no Brasil (Foto: Roberta Jaworski/G1)
Em áreas alvo de exploração irregular, o primeiro passo é a retirada de árvores menores, depois as maiores, e na sequência o fogo é usado para abrir espaço para o pasto. O resultado dessa prática criminosa em terras amazônicas é uma alta de 74% nas áreas de pasto nos últimos 30 anos, de acordo com dados do Mapbiomas. Estima-se que 80% das áreas desmatadas sejam usadas para este fim.
Sim, mas demora muito tempo. O mais antigo dos indígenas Karipuna, Aripã, diz que não tem medo dos madeireiros, porque depois de um tempo a floresta volta a crescer. Eles diz que é o pasto que acaba com a terra.
De acordo com Carlos Rittl, “a estrutura de biodiversidade demora centenas de anos para se recuperar, mas a estrutura de recomposição florestal pode demorar algumas décadas”.
Segundo o coordenador do Observatório do Clima, isso não é motivo para não criar planos de recuperação da floresta. “O manejo voltado para a recuperação dessas áreas pode acelerar determinados processos, e pode ajudar no ponto de vista de carbono e melhorar à biodiversidade, mesmo que não volte a ser o que era antes”.
Pasto após queimada ao redor do território Karipuna, em Rondônia (Foto: Fábio Tito/G1)
Depois do processo de queimada, para evitar que novas sementes de árvores voltem a germinar, os agricultores usam o pasto, que cresce rápido, para começar a produção pecuária. É necessário que a área seja plana e, por isso, algumas regiões da Amazônia têm mais produção agrícola no lugar do gado, como soja e milho.
A soja dourada é vizinha da Floresta Nacional do Tapajós (Foto: Marcelo Brandt/G1)
Estudo publicado pela revista “Science” em julho deste ano mostra que o Brasil tem 50 milhões de hectares vazios. Esta área foi degradada e abandonada muitas vezes pelo agronegócio.
Para Rittl, as áreas já afetadas são suficientes para resolver a questão da expansão da produção agropecuária, sem precisar derrubar mais qualquer árvore.
“São áreas que, se houver um bom manejo de solo, elas podem oferecer espaço suficiente inclusive para a expansão da produção de alimentos, e para outras atividades, por exemplo, o plantio de árvores para fins energéticos, mas hoje infelizmente se avança em áreas de vegetação natural”, completa Rittl.
O ano de 2019 já é o pior desde 2016 na comparação da área com alertas de desmatamento na Amazônia registrados pelo sistema Deter-B, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Divulgado publicamente pela plataforma Terra Brasilis na sexta-feira (11), os dados de setembro mostram que, nos primeiros nove meses do ano, a área com alertas chegou a 7.853,91 km². Esse número é quase o dobro da comparação do mesmo período de 2018: o aumento foi de 92,7%.
Considerando todo o ano de 2018, o balanço parcial de 2019 também é maior: o avanço foi de 58,7% – os dados do Inpe mostram que o total da área incluída em alertas entre janeiro e dezembro do ano passado foi de 4.947,40 km².
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Pasto na Amazônia aumenta 74% em 30 anos; entenda em 3 pontos a relação entre pecuária e desmatamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU