17 Outubro 2019
O Nobel de Economia foi para Banerjee, Duflo e Kremer pela abordagem “in loco” sobre as ajudas para o desenvolvimento. Eles ensinaram a distinguir os problemas individuais a serem resolvidos e a buscar soluções com método científico.
A reportagem é de Pietro Saccò, publicada por Avvenire, 15-10-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há um único modo para saber se os bilhões de dólares gastos anualmente para ajudar os pobres do mundo realmente servem para fazer o bem: é preciso fazer testes. Isto é, é preciso estudar a situação específica dos pobres que se quer ajudar, intervir em seus problemas específicos e, depois, avaliar se a intervenção foi eficaz.
Parece simples, mas, durante décadas, esse tipo de abordagem foi estranho ao mundo das ajudas internacionais. Os três economistas que demonstraram melhor do que todos a força desse método – Michael Kremer, Abhijit Banerjee e Esther Duflo (os dois últimos são marido e mulher) – receberam o Nobel de Economia 2019.
“A pesquisa realizada pelos vencedores deste ano – escreveu a Academia Real Sueca de Ciências – melhorou consideravelmente a nossa capacidade de combater a pobreza global. Em apenas duas décadas, sua nova abordagem baseada em experiências transformou a economia do desenvolvimento, que agora é um florescente campo de pesquisa.”
Em um monólogo de 2010 para a série Ted Talk, Duflo comparava a economia do desenvolvimento com a ciência médica. Investir bilhões de euros para combater a pobreza sem ter uma ideia clara do que é necessário aos pobres é como tratar de um paciente com métodos primitivos.
“Se não sabemos se estamos fazendo algo de bom, não somos melhores do que os médicos da Idade Média com as suas sanguessugas. Às vezes, o paciente melhora; às vezes, ele morre. Depende das sanguessugas? Depende de outra coisa? Nós não sabemos.”
Como a medicina moderna, a ação de combate à pobreza requer um “deliberado processo de descoberta” por meio da experimentações e avaliações dos resultados, em busca das melhores soluções para situações específicas. Em alguns casos, essas soluções podem ser aplicadas em uma escala maior, nem sempre.
É a abordagem que Kremer e seus colegas começaram a aplicar em meados dos anos 1990 para enfrentar a questão da escolarização das crianças no Quênia. Depois de selecionar escolas particularmente problemáticas, os estudiosos designaram a cada ajudas adicionais de acordo com critérios aleatórios: algumas escolas receberam livros didáticos; outras, refeições para as crianças. A distribuição aleatória servia para avaliar a eficácia de um tipo específico de intervenção. O experimento demonstrou que nem os livros nem as refeições melhoravam o desempenho escolar das crianças.
Em estudos realizados na Índia, no rastro do de Kremer, Banerjee e Duflo demonstraram que, por exemplo, na Índia, o principal problema escolar não era a falta de recursos, mas sim de professores e currículos não adaptados às exigências das crianças. Graças às suas pesquisas, hoje sabemos que, em muitos países pobres, reformas da educação e verificações dos métodos dos professores são mais eficazes do que maiores investimentos na escola.
Esse método foi aplicado em outros âmbitos. Por exemplo, na saúde: as pesquisas experimentais mostraram que um dos principais obstáculos para a disseminação das vacinas na Índia eram as dificuldades práticas de levar as crianças aos hospitais, muitas vezes fazendo uma viagem de vários quilômetros. Em muitos casos, os pais decidiam adiar a vacinação. Introduzir clínicas móveis que se deslocavam de uma localidade para outra para oferecer as vacinas elevou a taxa de vacinas de 6% para 17%. Acrescentar um quilo de lentilha de graça para quem vacinava os filhos elevou-a para 38%. As pesquisas dos três prêmios Nobel estão na base das aplicações práticas realizadas nos últimos anos em muitos países pobres.
“Durante décadas na economia do desenvolvimento, formulavam-se teorias e modelos para fazer recomendações de política econômica aos governos. Muitas vezes, porém, as intervenções mais óbvias, uma vez aplicadas, também não têm sucesso. Graças à ‘randomização’, podemos isolar os mecanismos com os quais se trabalha uma política e identificar o que funciona e o que não funciona. Há muito ceticismo sobre a bondade das ajudas ao desenvolvimento: os Nobel demonstraram que ajudas designadas rigorosamente podem ter um impacto preciso sobre a pobreza”, explica Eliana La Ferrara, diretora científica do Laboratory for Effective AntiPoverty Policies (Leap) da Universidade Bocconi, que assinou alguns estudos com Banerjee.
“Esse reconhecimento dá orgulho e esperança a todos os pesquisadores que, para entender melhor os obstáculos ao desenvolvimento, vivem frequentemente muitos meses em países pobres e em condições difíceis”, acrescenta Lucia Corno, professora de Economia do Desenvolvimento da Universidade Católica de Milão.
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Experiências contra a pobreza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU