16 Outubro 2019
Compartilhamos as notícias do último boletim dos jesuítas no Haiti, um olhar próximo a um país em conflito.
A nota foi publicada por CPAL Social, 14-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Depois de mais de um mês de paralisia generalizada, a oposição política voltou a anunciar dias de protesto exigindo a renúncia do chefe de Estado. Apesar de que os manifestantes já tenham chorado a morte de vários companheiros e a polícia nunca perca a oportunidade de dispersá-los com gases lacrimogêneos e balas de gomas, todos os dias se produzem movimentos de protesto contra o poder de turno em todas as cidades do país, o que provoca o mau funcionamento de todas atividades. As escolas, hospitais, bancos, mercados públicos, transporte público, consulados e embaixadas, entre outros, apenas funcionam.
Obrigado a cancelar sua participação no 74º período de sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente da República, que permaneceu cravado em sua residência, aproveitou a oportunidade para proceder a uma varrida no nível mais alto do estado. Não menos de 16 novas nomeações foram comunicadas em menos de uma semana através do diário oficial do país, dos quais: 6 novos ministros, 5 novos delegados departamentais e 5 novos diretores gerais. O Comissionado do Governo de Porto Príncipe também foi despedido – momentaneamente – de suas funções por não querer apoiar os atos repressivos da polícia nacional contra os opositores.
Essa é a situação, o registro dos últimos dias de mobilização é extremamente pesado já que os casos de homicídio se multiplicam em todas as partes, o número de feridos dá medo, enquanto que o dano material é bastante espantoso considerando o número de empresas privadas, automóveis, casas e edifícios que foram saqueados e reduzidos a cinzas. As estações de polícia foram violentamente atacadas por manifestantes até o ponto que alguns policiais tiveram que entregar suas armas aos manifestantes.
Fazendo eco ao chamado dos bispos do Haiti a esta situação de distúrbios generalizados, a Conferência de Religiosos do Haiti (CHR), em uma nota, pediu aos líderes para vislumbrar as consequências de sua inconsistência e a formação imediata de um governo nacional de resgate. “Há violência mais atroz que viver constantemente em insegurança? Há algo pior que a terrível miséria que tira toda a esperança? Nenhum povo deve aceitar a miséria, a pobreza e a violência de maneira derrotista. Portanto, os mais altos funcionários do estado devem assumir suas responsabilidades para garantir o bom funcionamento do país e as instituições; são moralmente responsáveis pela segurança e o bem-estar da população. E, em primeiro lugar, o Presidente da República” – escreveram os bispos católicos em um documento publicado em 27 de setembro de 2019.
O Core Group, composto pelo Representante Especial do Secretário Geral das Nações Unidas, os embaixadores do Brasil, França, Estados Unidos, Alemanha, União Europeia, Espanha, Canadá e Representante Especial da Organização dos Estados Americanos, expressam sua preocupação pela deterioração da situação sociopolítica do país e, desde o 30 de setembro, esteve multiplicando reuniões com representantes de grupos políticos na Oposição, assim como os líderes políticos próximos ao poder para persuadi-los da necessidade de um diálogo político para pôr fim à crise. Uma proposta que a Oposição, em todos seus componentes, rechaçou categoricamente, antes de ser acompanhada por dezenas de milhares de concidadãos em 4 de outubro, um grande dia de manifestações em frente às instalações da base da ONU no Haiti para exigir-lhes o cessar das relações com o governo atual.
Enfim, dado que uma grande parte da população somente busca a renúncia do chefe de Estado, enquanto que este não deu sinais de querer abandonar o poder, é impossível acreditar que estamos avançando para uma eventual resolução da crise. Enquanto isso, o governo, através do ex-primeiro ministro Evans Paul, prometeu fazer uma proposta para findar a crise. A oposição já quer que essa proposta inclua a renúncia ordenada e iminente do chefe de Estado.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Haiti. Relato dos jesuítas sobre a crise do país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU