23 Setembro 2019
Nos EUA, a indústria do prolongamento da vida se choca contra barreiras éticas e as autoridades de saúde.
A reportagem é de Ana Vidal Egea, publicada por El País, 20-09-2019.
Para David Sinclair, professor de Biologia em Harvard, a causa da maioria das doenças é a velhice: 25% da maneira como envelhecemos é ligado a questões genéticas, mas 75% é relacionado a onde e como vivemos. Explica a teoria em seu livro Lifespan: Why We Age And Why We Don’t Have To (Expectativa de vida: por que envelhecemos e por que não precisaríamos envelhecer), editado recentemente nos Estados Unidos e no qual recomenda não se exceder nas refeições como questão fundamental a uma maior sobrevivência.
Sinclair lembra que é um cientista, não um médico que dá conselhos médicos, mas tanto no livro como em seu blog mostra dados, como que a metformina é um comprimido difícil de se adquirir em muitos países, mas disponível sem prescrição em outros (como na Tailândia), e que, ainda que seja indicada para diabetes, em estudos realizados ao longo de nove anos reduziu as doenças cardiovasculares em 19%, a depressão em 16% e a demência e o câncer em 4%, atrasando problemas associados à velhice. Ainda não se descobriu nenhuma pílula mágica: todas trazem perigosos efeitos secundários e algumas pesquisas ainda não foram testadas em humanos, mas o interessante e ao mesmo tempo preocupante é que se transformou em um comprimido popular entre os executivos do Vale do Silício.
Bilionários como o criador da Oracle, Larry Ellison (que já tem 73 anos) estão investindo obsessivamente em pesquisas para prolongar a vida e, o que dá na mesma, atrasar o envelhecimento. Em 1993 foi criada a Academia Americana de Medicina Antienvelhecimento, que, sem ser reconhecida pela Associação Médica Americana, já concedeu 26.000 certificados de especialização em 110 países.
Um dos ramos mais promissores é o que estuda os senolíticos, fármacos que tentam eliminar as células senescentes, tão resistentes e de crescimento tão anárquico com as cancerígenas. Na espera de resultados esperançosos para os humanos, a indústria antienvelhecimento está no auge, liderada por complementos como o resveratrol, niacina e cúrcuma.
Viver eternamente é um anseio de antigamente, bem inserido na cultura popular, quando se comentava que beber e injetar o sangue de virgens tornava a vida mais longeva. A startup norte-americana Ambrosia Medical realizava transfusões de sangue procedente de jovens afirmando que reverteria a idade de quem as recebesse. Ainda que não existisse nenhuma prova que comprovasse os resultados, os pacientes pagavam 7.500 dólares (31.000 reais) por um litro de sangue de doadores de 16 a 25 anos, arriscando-se a sofrer infecções, alergias e complicações respiratórias e cardiovasculares. Em fevereiro encerraram o negócio.
Um pequeno estudo da Universidade Stanford em 2017 demonstrou que as transfusões de plasma de doadores jovens melhoram o Alzheimer. A pesquisa deve ser feita em maior escala para a obtenção de resultados determinantes, mas os limites éticos são ultrapassados em favor do negócio: o Maharaj Institute na Flórida oferece testes clínicos de transfusões de plasma de doadores jovens ao elevado custo de 251.000 euros (1,15 milhão de reais) aproveitando-se dos que procuram uma cura desesperadamente. A pergunta é: devemos nos preocupar em viver para sempre ou em viver nas melhores condições possíveis?
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Quem quer viver para sempre? As barreiras éticas do mercado da longevidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU