18 Setembro 2019
Nesses tempos confusos em que o Brasil está vivendo, com cerceamento das liberdades constitucionais, ameaça ao meio-ambiente, à cidadania e o crescimento de forças retrógradas entra em cartaz o filme doc-ficção Legalidade, a rebelião popular com que Leonel Brizola derrotou o golpe de 1961 e impôs a posse na presidência da República, do vice-presidente eleito João Goulart. O movimento da Legalidade, liderado por Leonel Brizola, foi o único movimento civil da América Latina a derrotar um golpe militar já instalado, estruturado e implantado em um Governo central. Pelas ondas do rádio Brizola mobilizou a população do Rio Grande do Sul e depois a do Brasil, contra a decisão dos três ministros militares – Exército, Marinha e Aeronáutica – de impedir a posse do Vice-Presidente constitucional João Goulart, trabalhista como Getúlio Vargas; após a renúncia de Jânio Quadros.
A reportagem é de Osvaldo Maneschy e Leite Filho, publicada por Brasília Capital, 17-09-2019.
Legalidade terá estreia terça-feira, 17/09/19, às 19 horas, no Cine Cultura/Liberty Mall, com debate com diretores e atores (Nota de IHU On-Line: o filme está em cartaz em Porto Alegre, desde a semana passada). Sob a direção de Zeca Brito, conta no elenco com a participação de Cleo Pires, Leonardo Machado, Letícia Sabatela, Ferando Alves Pinto e José Henrique Ligabue. Ele retrata a luta por uma causa cívica, uma revolução feita pelas ondas do rádio. A inteligência e a coragem de um líder. O poder da comunicação gerando uma verdadeira demonstração de força e civilidade. Um movimento de resistência e mobilização popular sem precedentes na história do país: a “Legalidade”.
Veja aqui o trailer do filme:
Imbatível no rádio (e depois na televisão), mestre na oratória ao melhor estilo dos grandes contadores de histórias, Brizola tinha o dom de raciocinar falando, como ele mesmo dizia, e como nenhum outro político de sua geração – fez da palavra a sua grande arma. A cadeia da Legalidade – que se formou espontaneamente para divulgar as pregações de Brizola a partir da Rádio Guaíba, que ocupou a manu militari; chegou a reunir 120 emissoras de rádio espalhadas por todo o país divulgando as proclamas e informações reunidas por jornalistas que apoiavam Brizola – exigindo respeito à Constituição e posse do vice-presidente João Goulart.
“Em Legalidade quis falar de meu país e das raízes políticas que ligam o Brasil à América Latina. A heroica façanha de Leonel Brizola liderando o povo brasileiro em ato de coragem e civismo, garantindo a posse do presidente João Goulart e a soberania da nação. Através das ondas do rádio o despertar para a constituição, o respeito ao voto popular. Um filme que trama ficção e realidade. Um romance que une visões opostas de mundo. Política, espionagem e comunicação, temas que articulam um dos momentos históricos mais intrigantes do país”, explica o diretor, Zeca Brito.
Em 1961, como em 2004, quando morreu aos 82 anos – sendo 15 deles no exílio – Brizola viveu intensamente o presente com os olhos fixos no futuro. Brizola nunca desistiu de modificar o futuro e sozinho no início, em 1961, também com a ajuda do marechal Lott, decidiu enfrentar os golpistas de Brasília e tirou, do episódio da Legalidade, uma grande lição: “Os golpes só prevalecem na desinformação”.
Nas celebrações dos 50 anos da Legalidade, em 2001, tive a oportunidade de gravar e registrar em palestra que Brizola deu no Rio: “Na Legalidade perdemos uma chance que a História nos deu de bandeja. Não tivemos consciência, não percebemos a oportunidade que a História estava nos dando. Nos iludimos com o blá-blá-blá das oligarquias. O Movimento da Legalidade foi um levante popular-militar com todas as características de um levante revolucionário. Hoje, examinando de longe, acho que eu é que estava certo, tínhamos que ter avançado. As revoluções se fazem assim, as grandes mudanças se fazem nessas arrancadas”.
Brizola dizia que há momentos que valem por dias e dias que valem por décadas. Os 12 dias da Legalidade – de renúncia de Jânio à posse de Jango – que Brizola fez questão de não ir, por discordar do desfecho da Legalidade – foram dias desse tipo.
No momento mais dramático da Legalidade, quando o Palácio Piratini esteve prestes a ser bombardeado pela FAB, Brizola manifestou pelo rádio sua decisão de resistir ao golpe até a morte, se necessário. Fato que lembra outro, ocorrido a 11 de setembro de 1973, quando o presidente Salvador Allende foi deposto e morto no Chile, depois de fazer também histórico discurso pela Rádio Magallanes, onde disse antes de ser metralhado e antes do bombardeio do La Moneda: “A História é nossa e do povo (…) Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão”.
Brizola distribuiu armas para o povo na Campanha da Legalidade, dividiu os militares e ajudou o general Oromar Osório, então comandante da guarnição de Santa Maria, a “por a tropa sobre rodas” e marchar a caminho de Brasília para fechar o Congresso, prender os três.
Leia mais
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- 1964. Um golpe civil-militar. Impactos, (des)caminhos, processos. Revista IHU On-Line, Nº 437
- Campanha da Legalidade. 50 anos de uma insurreição civil. Cadernos IHU em formação, N°40
- A Campanha da Legalidade e a radicalização do PTB na década de 1960. Reflexos no contexto atual. Mário José Maestri Filho. Cadernos IHU ideias, N°281
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Rede da Legalidade e Brizola nas telas de Brasília - Instituto Humanitas Unisinos - IHU