06 Agosto 2019
Mais de meio milhão de vítimas, quatro mil das quais exterminaram em um único dia, em 2 de agosto de 1944, quando foi liquidado o Zigeunerlager (campo de ciganos) do campo de Auschwitz-Birkenau, que na época abrigava principalmente mulheres e crianças. Esta é a data escolhida para celebrar todos os anos o Porrajmos (“extermínio” na língua romani): o dia em memória do genocídio dos ciganos e sinti perpetrado pelos nazistas e seus colaboradores de toda a Europa. Uma recorrência que se torna, caso possível, ainda mais trágica pelo fato de os preconceitos e a discriminação que pavimentaram o caminho para as câmaras de gás estão bem presentes em nossas sociedades.
A reportagem é de Guido Caldiron, publicada por il manifesto, 03-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Assim, este último aniversário uniu a memória do que aconteceu há mais de setenta anos com as ameaças de hoje. Inevitável, dadas as propostas e tons que a política italiana coloca em campo em relação a ciganos e sinti. Não por acaso, para a presidente da União das Comunidades Judaicas Italianas, Noemi Di Segni, a memória do Porrajmos, "ainda tem muito a nos ensinar". "Esta ferida aberta que nunca poderá ser curada na consciência da Europa também fala ao nosso presente - explica a presidente dos judeus italianos. - É um aviso terrível, mas também inevitável, sobre as consequências a que podem levar as palavras de ódio que por séculos atravessaram o continente, obtendo naqueles anos um terreno ainda mais fértil para passar da teoria aos fatos".
Mesmos sem explicitamente nomeado, é difícil não ver nestas palavras uma referência àquele "zingaraccia" (pejorativo de cigana, em italiano) pronunciada apenas algumas horas antes do aniversário do extermínio pelo Vice Primeiro Ministro Salvini em relação a uma mulher cigana, inclusive para responder a uma ameaça. Ao convidar não só a necessária vigilância, Di Segni enfatiza de fato como "devemos intervir com a máxima firmeza diante dos novos sinais de perigo que se reapresentam de maneira cada vez mais alarmante também pela irresponsabilidade daqueles que, nos mais altos níveis institucionais, continuam a insuflar o fogo dos horríveis preconceitos”.
Na mesma linha, Ruth Dureghello, que lidera a maior comunidade judaica italiana, a de Roma, que destaca como justamente uma página tão importante e dramática "da nossa história deveria ter nos ensinado a importância das palavras e os efeitos que elas produzem".
Para Salvini é explicitamente dirigido um editorial do Avvenire, explicando como "de um ministro se esperam palavras dignas e honrosas". Referindo-se a algumas recentes manifestações do líder da Lega Nord, incluindo a já citada "zingaraccia", o jornal dos bispos assinala como o ministro do Interior "deveria parar por um minuto para pensar em um país, o seu, o nosso, a Itália, onde todo mundo fala como ele". E onde "cada cidadão se sente livre para responder a um insulto com um insulto maior ainda ou para catalogar - para desprezá-los – os seres humanos". Quando, ao contrário, das instituições deveriam vir "atitudes que refreiem os piores instintos e corrijam a linguagem do ódio".
Porque, como recorda a Comunidade de Sant'Egidio ao celebrar o dia de Porrajmos que, aliás, ainda não foi incluído nas comemorações oficiais pelas instituições italianas, como solicitado por uma petição online que já recolheu dezenas de milhares de adesões (info@kethane.it), a memória sirva "como um aviso para combater os comportamentos discriminatório e violentos".
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"As instituições insuflam os preconceitos". Quatro mil ciganos foram mortos, num só dia, em Auschwitz-Birkenau - Instituto Humanitas Unisinos - IHU