03 Julho 2019
Paulo nos obriga a manter uma distância crítica do naturaliter christianus do qual falava Tertuliano. Não, Paulo não é espontaneamente cristão, nem o somos nós. Ele chega ao cristianismo em uma dramática reviravolta, quando nada o fazia prever, o que envolveu uma inversão total de seu destino. Não é por acaso que Lucas o descreve como "caído por terra" (Atos 22: 7), atingido por uma cegueira funcional (como se tivesse que voltar a aprender o que significa ver) e guiado por outros, pela mão (Atos 22:11); ou que sua própria história o torna objeto de surpresa e desorientação: "Aquele que outrora nos perseguiu, anuncia agora a fé que antes destruía" (Gal 1:23), diziam os cristãos da Judeia.
O comentário é do arcebispo português José Tolentino Mendonça, arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, publicado por Avvenire, 29-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O cristianismo em Paulo começa com a necessária operação de instauração, ou re-instauração, do sujeito crente. Assim, a lição de Paulo é que não somos cristãos, mas nos tornamos cristãos, e isso nos obriga a romper com o conformismo teológica de um cristianismo como fato dado, que é simplesmente dado como garantido. O oposto é verdadeiro: com Paulo, o ato de crer é regulado e moldado por uma experiência de transformação.
Como ele mesmo escreve na Segunda Carta aos Coríntios: "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem" (2 Co 3:18).
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Tornar-se cristãos. Reflexão de José Tolentino Mendonça - Instituto Humanitas Unisinos - IHU