Há 56 anos, João XXIII publicava Pacem in Terris

Imagem: Reprodução Pontificium Consilium de Iustitia et Pace

Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 11 Abril 2019

A última encíclica do papa João XXIII foi publicada há 56 anos, em 11-04-1963. Pacem in Terris descreve o ensino ético e social católico no mundo moderno. Para Frei Carlos Josaphat, em entrevista à IHU On-Line, concedida em 2013, “Pacem in Terris inaugurou uma nova etapa nas relações da Igreja com o conjunto dos povos”.

A encíclica foi publicada poucos meses depois da Crise dos Mísseis, o episódio que deixou o mundo em tensão, sob o medo de uma guerra nuclear. João XXIII escreveu atento ao risco que a competição militar perpetrada por Estados Unidos e União Soviética poderia resultar em uma catástrofe ainda maior que a duas guerras mundiais.

Eis por que a justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra, instalado em várias nações, se vá reduzindo duma parte e doutra, simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas (Pacem in Terris, 112)

Em 2003, a Revista IHU On-Line publicou uma edição especial em comemoração aos 40 anos da encíclica. Para Patrus Ananias, João XXIII exorta por uma política que seja feita visando o bem-comum “é um documento tocado pela dimensão da transcendência e, ao mesmo tempo, encarnado. Visa ao desenvolvimento integral da pessoa e da comunidade. O papa diz expressamente que o poder que não está a serviço do bem comum perde a sua autoridade”.

Todos devem estar convencidos de que nem a renúncia à competição militar, nem a redução dos armamentos, nem a sua completa eliminação, que seria o principal, de modo nenhum se pode levar a efeito tudo isto, se não se proceder a um desarmamento integral, que atinja o próprio espírito, isto é, se não trabalharem todos em concórdia e sinceridade, para afastar o medo e a psicose de uma possível guerra (Pacem in Terris, 113)

João XXIII clama pelo compromisso cristão comum: a Paz na Terra. Eleva a sua compreensão para um contexto emergente de globalização, de transformações das Relações Internacionais. Para o Pe. Aloisio Bohnen, em entrevista de 2003 à IHU On-Line, “o cristianismo deu um passo adiante com esta encíclica ao conceber a paz como fruto não só da justiça, mas também da convivência fundada sobre a verdade, o amor e a liberdade”.


Papa João XXIII assinando a encíclica Pacem in Terris

Confira as entrevistas, artigos e reportagens publicadas pela IHU On-Line sobre a Pacem in Terris:

 

Revista IHU On-Line Nº 53 - 31 de março de 2003

A encíclica Pacem in Terris, a segunda grande encíclica de João XXIII, após a Mater et Magistra, foi publicada no dia 11 de abril de 1963. Ela foi escrita no contexto internacional dominado pela ameaça nuclear. Ou seja, a encíclica Pacem in Terris é publicada após um longo período de guerra fria durante a qual as duas grandes potências, EUA e URSS, acumulam um arsenal suficiente para destruir grandes cidades do Planeta. Em 1961, dera-se a construção do Muro de Berlim, e em 1962, o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear com a instalação dos mísseis soviéticos, em Cuba. A problemática da guerra mudara radicalmente: qualquer conflito tornava-se extremamente perigoso devio ao uso das armas nucleares. A guerra não era mais um meio aceito pela opinião pública, capaz de fazer prevalecer a justiça. A encíclica é, pela primeira vez, dirigida, não só aos membros da Igreja, mas também a todos os homens de boa vontade, como João XXIII enuncia na abertura da Pacem in Terris, sedentos de paz. Esta é uma das grandes novidades da encíclica. Seu tema é, segundo João XXIII, "a paz entre todas as nações", fundada sobre a verdade, a justiça, a caridade e a liberdade";

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“Pacem in Terris”. Os 50 anos de uma encíclica e a dimensão social do Evangelho. Entrevista especial com Frei Carlos Josaphat

 “Pacem in Terris inaugurou uma nova etapa nas relações da Igreja com o conjunto dos povos, fazendo esquecer, ao menos em parte, dolorosos desentendimentos do passado”, avalia o frei dominicano.

“A mensagem mais oportuna, mais sábia, mais operacional para o mundo moderno”. É assim que Frei Carlos Josaphat descreve a encíclica Pacem in Terris, de João XXIII, publicada há 50 anos.

Para o frei dominicano, ao lado de Mater et Magistra, a Pacem in Terris constitui “a melhor formulação ética da dimensão social do Evangelho, a qual se torna operacional pelo empenho de não ficar em uma elaboração teórica, abstrata. Mas, inaugurando uma análise dos sistemas industriais, econômicos, agrícolas, elas lançam uma grande luz sobre as raízes e causas das exclusões e desigualdades sociais”.

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Pacem in Terris: uma análise de John Courtney Murray

Há 50 anos, John Courtney Murray, SJ, ex-editor da revista America, dos jesuítas dos EUA, e perito do Concílio Vaticano II, analisou a encíclica de João XXII sobre a guerra e a paz. É interessante notar que Murray, o maior especialista em liberdade religiosa que iria ajudar a moldar o inovador documento conciliar sobre esse assunto, cita a Pacem in Terris como um "desenvolvimento da tradição". Hoje o decreto conciliar sobre a liberdade religiosa é citado como o exemplo clássico do desenvolvimento da doutrina.

O artigo foi publicado por America, 29-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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O primeiro muro caído: a Pacem in Terris completa 50 anos

Na véspera da Páscoa de 1963, exatamente no dia 11 de abril, o Papa João XXIII publicava a encíclica Pacem in Terris, a mais importante e "visionária" do seu pontificado. Mas também a mais discutida.

A reportagem é de Domenico Rosati, publicada no jornal L'Unità, 31-03-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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Unidade, liberdade e paz: a teologia pastoral de João XXIII. Artigo de Loris Capovilla

Unidade, liberdade e paz são o Leitmotiv da teologia pastoral, do serviço papal e das intuições apostólicas de João XXIII, transparentes na primeira encíclica, Ad Petri cathedram (29 de junho de 1959), e na última, Pacem in Terris (11 de abril de 1963). Filho da campanha, ruminador da palavra, servo de Deus e da Igreja, amada além das palavras, indagador de histórias dos homens, recolhedor de espigas, para que nada fosse perdido, ele volta a alimentar a lâmpada da esperança.

A análise é do cardeal italiano Loris Capovilla (foto abaixo), ex-secretário particular do Papa João XXIII e arcebispo emérito de Loreto, em artigo publicado no jornal L'Osservatore Romano, 11-04-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

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