20 Fevereiro 2019
Milhares de padres ainda estão “dentro do armário”, e o fracasso do Vaticano em lidar com a sua sexualidade criou uma crise para o catolicismo.
A reportagem é de Andrew Sullivan, publicada na New York Magazine, 21-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não temos números confiáveis sobre quantos padres da Igreja Católica são gays. O Vaticano realizou muitos estudos sobre o seu próprio clero, mas nunca sobre esse assunto. Nos Estados Unidos, no entanto, onde há 37.000 padres, os estudos independentes nunca encontraram um número menor do que 15% de gays, e alguns encontraram até 60%.
O consenso na minha própria pesquisa ao longo dos últimos meses convergiu em torno de 30% a 40% entre os párocos e consideravelmente mais do que isso – até 60% ou mais – entre as ordens religiosas, como os franciscanos ou os jesuítas.
Esse fato paira no ar como um gigantesco e insustentável paradoxo. Uma Igreja que, desde 2005, bane os padres com “tendências homossexuais arraigadas” e ensina oficialmente que os homens gays são “objetivamente desordenados” e inerentemente dispostos a um “mal moral intrínseco”, na verdade, é composta – de um modo que muito poucas outras instituições o são – por homens gays.
A enorme dissonância cognitiva que isso requer está se tornando mais difícil de sustentar. O colapso do “armário” na vida pública e privada nas últimas três décadas tornou a desproporcional homossexualidade do sacerdócio católico muito menos fácil de esconder, ignorar ou negar.
Essa mudança cultural e moral não apenas mudou a consciência da maioria dos católicos norte-americanos (67% dos quais apoiam o casamento civil para casais gays) e dos padres gays (muitos dos quais estão prestes a desistir), mas também rompeu o silêncio que há muito tempo envolvia o assunto.
Cinco anos atrás, o Papa Francisco afirmou, como um divisor de águas: “Quem sou eu para julgar?”, após ser questionado sobre um padre gay imperfeito. “Uma vez uma pessoa me perguntou, de maneira provocativa, se eu aprovava a homossexualidade”, continuou Francisco. “Eu respondi com outra pergunta: ‘Diga-me, quando Deus olha para uma pessoa gay, ele endossa a existência dessa pessoa com amor ou rejeita e condena essa pessoa?’ Devemos sempre considerar a pessoa. Aqui, entramos no mistério do ser humano”.
No esboço final do Sínodo sobre a Família de 2014, Francisco incluiu uma menção explícita aos “dons e qualidades” dos homossexuais, perguntando: “Somos capazes de acolhê-los?”. Esses sentimentos conquistaram 62% dos votos dos bispos do Sínodo – pouco menos do que era necessário para ser aprovado, mas, mesmo assim, uma evidência de uma mudança brusca de tom nos ensinamentos católicos oficiais.
Eles também desencadearam um quase pânico na direita católica. Alarmados com a possibilidade de que pessoas divorciadas e em segunda união pudessem ser acolhidas assim como os gays, os tradicionalistas lançaram uma feroz campanha de retaguarda contra o novo papado, com foco naquela que alguns chamam de “Máfia Rosa” à frente da Igreja, e abriram caminho na conexão disso diretamente com as horríveis revelações de abuso sexual que vieram à tona em 2002.
De formas cada vez mais diretas, eles argumentaram que a raiz do escândalo não era o abuso de poder, ou a pedofilia, ou o clericalismo, nem os efeitos psicológicos distorcivos do celibato e da homofobia institucional, mas sim a própria homossexualidade.
“Existe uma cultura homossexual não apenas entre o clero, mas até mesmo dentro da hierarquia, que precisa ser purificada na raiz”, declarou em agosto passado o cardeal estadunidense Raymond Burke. Dom Robert Morlino, bispo de Wisconsin, concordou. “É hora de admitir que há uma subcultura homossexual dentro da hierarquia da Igreja Católica que está causando uma grande devastação”, escreveu. “Se você me permite, o que a Igreja precisa agora é de mais ódio” ao comportamento sexual homossexual, “um pecado tão grave que clama ao céu por vingança”.
Michael Hichborn, chefe do Instituto Lepanto, de direita, pediu uma “remoção completa e abrangente de todos os clérigos homossexuais da Igreja (...) Vai ser difícil e provavelmente resultará em uma escassez muito séria de padres, mas definitivamente o esforço vale a pena”.
A indecorosa queda, no ano passado, do cardeal Theodore McCarrick, um dos mais poderosos cardeais norte-americanos da sua época, forneceu uma causa célebre para essa facção. Veio à tona que McCarrick havia abusado de pelo menos duas crianças e depois assediado sexualmente de gerações de seminaristas adultos com impunidade. Aqui, ao que parecia, era um homem gay pedófilo e abusivo na própria cúpula da Igreja, conhecido por ser sexualmente ativo com seminaristas, protegido por seus pares, e tolerado durante décadas por muitos na hierarquia, incluindo os últimos três papas.
McCarrick ofereceu uma fresta à direita. Novas organizações midiáticas online – lideradas por sites ao estilo Breitbart, como o LifeSite News e o Church Militant – agora atacam rotineiramente quaisquer incidentes envolvendo padres gays e têm uma audiência influente no Vaticano.
Um grupo de católicos conservadores ricos, a Better Church Governance, chegou a lançar uma investigação sobre a ortodoxia, a conduta e, é claro, a orientação sexual de cada um dos 124 cardeais que elegerão o próximo papa.
No centro dessa luta, é claro, estão os padres, bispos e cardeais gays, precisamente. Eles estão envolvidos em uma onda de relativa tolerância encarnada por Francisco e de hostilidade exemplificada pelo seu antecessor conservador, o Papa Bento XVI. A proibição de 2005 a padres e seminaristas gays ainda está em vigor e, de fato, foi reafirmada por Francisco em 2016. Como resultado, quase todos os padres gays “estão no armário”, por medo de se tornarem alvos ou serem demitidos, o que os torna exclusivamente impedidos de entrar na discussão. Eles ouvem sobre como façam deles e sobre como eles se tornam bodes expiatórios – muitas vezes de forma profundamente ofensiva e sempre como se não fossem um dos principais baluartes da Igreja.
“As coisas pioraram desde que Francisco se tornou papa”, disse um padre. “Eles estão equiparando todos os padres gays com o abuso sexual. Há uma caça às bruxas.”
Capelas hospitalares, assim como as dos aeroportos, podem ser lugares estranhos. Sendo raramente um refúgio para alguém por muito tempo, elas podem ser sentidas como transitórias e vazias, assim como antissépticas.
Mas, em um recente domingo ao meio-dia, em um amplo hospital nos arredores de uma cidade do Meio-Oeste estadunidense, a congregação se aglomerou pelos corredores para a missa. Eles claramente não eram estranhos uns aos outros, pois se cumprimentava, e conversavam antes do início do rito; havia idosos e jovens, negros e brancos e pardos, famílias e casais, e alguns que vieram sozinhos. A missa em si não era digna de destaque, a não ser por uma surpreendente homilia quando o padre falou sobre as alegrias de não se ter nada quando a temporada de presentes natalinos se aproximava. É uma lição que ele disse ter aprendido ao servir aos doentes, aos traumatizados, aos famintos e aos sem-teto depois de um desastre natural no exterior.
Ele contou sobre um momento em que estava voltando de um hospital de campanha ao longo de um caminho sem iluminação nas primeiras horas da manhã, cercado por um intenso sofrimento sobre a brutal pobreza, mas foi impulsionado pela fé e pela tenacidade dos mais pobres dos pobres, dos mais doentes dos doentes. Ele parou e olhou para o céu estrelado – contou – e não sentiu desespero, mas esperança.
“Sempre vem uma mensagem boa desse aí”, disse o homem ao meu lado quando a missa terminava. Eu concordei: “Uma grande multidão para um hospital”. “Ah, sim”, respondeu o homem. “Sempre. Eles vêm de toda a parte. Ele é uma estrela, esse padre.” Eu não disse nada. O Pe. Mike, como eu vou chamá-lo, tinha me enviado uma mensagem antes para rever as regras básicas: “A pedido do hospital e meu, você não deve entrevistar ninguém ou se identificar como alguém que vai contar uma história, como jornalista etc.”.
Toda a história de vida e do serviço desse homem têm que permanecer anônimos – assim como ocorreu com quase todos os outros padres com quem eu falei. Nem mesmo os seus fiéis mais devotos sabem que ele é gay.
Mas, como um ex-enfermeiro e gerente qualificado, ele é um padre natural. Nos poucos minutos que eu demorei para encontrá-lo no saguão do meu hotel, ele já tinha ficado sabendo da recepcionista que ela não estava mais celebrando o Natal depois de uma recente experiência de quase morte em um acidente de carro. Em certo momento, quando conversamos no dia seguinte no hospital, ele foi cumprimentado por uma mulher que pediu uma confissão imediata e me enxotou de lá; mais tarde, eu conheci um homem gay angustiado de uma família ultracatólica que ele estava aconselhando; e, por algumas horas no domingo de manhã, ele estava com a esposa e os filhos adolescentes de um homem moribundo.
O Pe. Mike era o curativo de todas essas feridas abertas. Ele testemunhou algumas centenas de mortes em sua carreira. Uma noite, ele me disse, ele se sentou com três pacientes na hora de suas mortes em rápida sucessão.
Tornar-se padre não foi uma decisão fácil. Mike veio de uma família conturbada, e seus pais abusivos se converteram ao catolicismo quando ele estava entrando na adolescência. Ele concordava em ir à missa aos domingos porque eles prometiam a ele um almoço depois no seu restaurante favorito, até que, aos 15 anos, ele se tornou formalmente católico. Aos 17 anos, ele foi enviado para visitar um padre para um retiro de aconselhamento individual.
“Na primeira noite em que estive lá, ele tentou agressivamente me levar para a cama com ele”, Mike me disse. “Eu estava absolutamente aterrorizado.”
Um ano depois, quando seus pais o expulsaram da casa, ele foi morar com um ministro para os jovens. “Por dois meses eu fiquei lá, e foi apenas uma luta constante de avanços e insinuações.” Ele denunciou o ministro para os jovens e até mesmo testemunhou contra ele no tribunal. Mas seu próprio padre defendeu o ministro e, apesar do testemunho de três outros rapazes, o agressor foi absolvido. “Naquela época, as pessoas realmente acreditavam nos padres”, suspirou Mike.
Apesar de tudo isso, em meados dos anos 1990, ele entrou no seminário depois de se formar na faculdade. Ele se viu constantemente submetido a avaliações psicológicas e negava as tarefas habituais de verão. Temendo que o seu testemunho adolescente contra um abusador estava impedindo a sua ordenação, ele saiu para se tornar um enfermeiro de cuidados intensivos. Mas ele ainda se sentia chamado à Igreja e, no fim, tentou o seminário de novo. Ele foi ordenado três anos depois.
Eu disse a ele que a maioria das pessoas acharia essa história bizarra, até mesmo masoquista. Por que se unir a uma Igreja que não quer você – na verdade, uma Igreja que abusou de você?
Ele se enrolou um pouco antes de finalmente desabafar: “Bem, no coração de tudo isso, tem a ver com… tem a ver com Jesus, tem a ver com… quero dizer, eu acredito em Deus.” A sua voz se levantou, ficou subitamente intensa. “Eu encontrei algumas pessoas na pastoral universitária, quando eu estava na faculdade, que eram realmente autênticas. Elas amavam umas às outras e amavam a Deus; elas amavam ‘o menor dos seus irmãos’. Elas não eram perfeitas, mas a mensagem geral era de que Jesus está aqui, Jesus está na Eucaristia e Jesus está nos rostos dos mais pobres e dos mais marginalizados.”
Elas lhe disseram que ele era obviamente chamado a ser padre, e o tempo gasto como enfermeiro aprofundou essa convicção dentro dele. “Enquanto eu servia aos meus pacientes, a maioria dos quais morreu, eu rezava com eles quando eles queriam, levava a Comunhão para eles quando podia, e foi através deles que eu me senti chamado a servir.”
É nesse contexto de enfermeiro a paciente, de pastor a rebanho, que ele hoje administra os seus conflitos como padre gay. “Toda vez que eu entro naquele hospital, não importa o que estou sentindo ou pelo que estou passando, ou o novo relatório do Grande Júri da Pensilvânia sobre os abusos sexuais, tudo muda”, disse ele. “Quando você se senta à cabeceira do leito com alguém cujo transplante falhou, torna-se um encontro de coração para coração. Às vezes, eu acho que esquecemos que, na Igreja, trata-se daquela pessoa em particular e da sua humanidade, das suas esperanças e dos seus medos, e do seu desejo de amar e ser amada.”
A maioria dos padres gays com quem eu falei nunca sofreram abusos na Igreja. Muitos já haviam chegado a um acordo com a própria orientação sexual antes de entrar no sacerdócio, mas alguns lutaram com ela no seminário, e outros, mais tarde na vida.
“Não há nenhuma experiência típica”, disse-me o Pe. Joe, como vou chamá-lo. “No começo, eu me perguntava se eu era uma fraude, porque pensava: ‘Bem, estou apenas tentando escapar para uma vida em que eu não vou ter que lidar com a minha sexualidade?’ Mas eu tinha pessoas encarregadas de mim que me desafiavam a me perguntar se isso era autêntico e eu sentia que essa era a vida e o trabalho ao qual Deus estava me chamando. É um discernimento contínuo.”
Então, houve um momento de graça. “Eu estava trabalhando em um hospital no auge da crise da Aids. Uma freira me disse: ‘O que você quer dizer a essas pessoas? Eles são homossexuais ativos, usuários de drogas’. Eu disse: ‘Eu falaria sobre a misericórdia de Deus e ficaria com elas como elas são’. Isso me ajudou a entender como Deus podia me usar mesmo que a Igreja não me aceitasse.”
Outro – chamemo-lo de Pe. Andrew – descreveu a sua escolha vocacional como “conveniente e existencial”: “Eu tinha 18 anos e estava sexualmente consciente, mas extremamente deprimido, e meu pai me encurralou um dia na cozinha e me fez ‘sair do armário’. Fui a um psicólogo, que me disse: ‘Você não vai mudar. Você precisa se aceitar’”.
O pai de Andrew não ficou feliz com essa recomendação e encerrou a terapia. Na faculdade, Andrew procurou mais tratamento, e, repentinamente, seu pai morreu. Isso o destruiu. “Eu continuei pensando na vida e na morte. Eu tinha começado a rezar de novo e a participar da missa. Estava dirigindo no deserto de Phoenix para Tucson e vi aqueles redemoinhos de poeira, e de repente ouvi na minha cabeça: ‘Ah, seja padre. Você não precisa lidar com o sexo; você pode ser respeitado’. E então meu irmão morreu em um acidente de carro.” Ainda no seu primeiro ano de faculdade, Andrew estava no seminário.
Foi lá que Andrew teve a sua primeira experiência sexual adulta. “Eu tinha 28 anos. Eu ‘saí do armário’ como bissexual. Perdi peso, desenvolvi músculos, fui percebido mais por outros seminaristas e queria ver como era ser adulto”, disse ele. “Foi difícil. Eu não me sentia atraído por beijar. Eu tivera uma experiência e não conseguia ejacular.”
Então, ele se jogou de cabeça no seu trabalho até que, aos 40 anos, enfrentou um esgotamento nervoso. Ele tirou uma licença, passou seis meses em oração e terapia e, quando voltou, enviou um e-mail explicativo aos seus colegas padres: “Como alguém que há muito tem sofrido de dúvidas sobre si mesmo, eu me dedico a levar o amor de Deus (...) a todos aqueles que, como eu, às vezes, questionam o seu mérito e valor por causa das vozes contrárias à voz de Deus”.
A descoberta veio de repente. “Eu disse ao meu terapeuta: ‘Acho que eu sou um bom padre’, e ele disse: ‘Eu aposto que sim’. E comecei a chorar”. A voz de Andrew embargou. “Ser comparado com os pedófilos é um jeito de prejudicar você.”
O fato de serem usados como bodes expiatórios feriu muitos dos padres com quem eu falei. Tornou-se um estigma duplo: visados pela hierarquia por serem gays e pelo público em geral por serem pedófilos. Muitas das pessoas com quem eu conversei, católicas e não católicas, diante do tema dos padres gays, reviravam os olhos e perguntavam sobre o abuso de crianças.
O ambiente midiático está saturado de histórias sobre abuso sexual – e com razão –, mas quase não existem exemplos públicos do número esmagador de padres gays que jamais sonhariam em atacar os impotentes.
Muitos bons padres gays, é claro, fracassam de vez em quando, quebrando o celibato em relacionamentos ou encontros adultos consensuais. Eles não são santos. Mas isso também é verdade para os padres heterossexuais. Esses homens ainda são seres sexuais, de carne e sangue. Nessas crises, eles tendem a fazer uma destas duas coisas: ou se apaixonam tão profundamente que não conseguem sustentar uma vida sem intimidade física e, assim, abandonam a Igreja ou, mais frequentemente, recalibram-se, confessam-se e reafirmam a vida celibatária.
“Os melhores padres são aqueles que erram o alvo de vez em quando, aqueles que sabem o que é ser um ser humano real”, disse o Pe. Andrew. “É uma luta santa. Eu nunca vi o celibato como um dom; sempre foi uma disciplina.”
O Pe. Joe falou de modo pungente sobre se apaixonar. “Eu tive um relacionamento breve e sexualmente íntimo há 16 anos. Foi o meu último relacionamento. Ele não queria estar com alguém que não poderia estar totalmente ‘fora do armário’ como parceiro, e ele queria se casar. Eu perguntei se poderíamos ter uma amizade que também fosse sexual, e ele disse que não.”
A dor ainda lateja. “Hoje, tenho uma amizade íntima com ele, e não somos sexualmente íntimos. Mas, quando ele tem um namorado, eu sinto: ‘Bem, quem está aí para mim?’” Nesse momento, Joe confia em amigos próximos em busca de apoio emocional. “Às vezes, eu me pergunto: ‘Quando foi a última vez que alguém me tocou?’ E eu sei que isso não é normal. Vou fazer massagem profissional de vez em quando. Meus lapsos hoje em dia são assistir pornografia no meu quarto.”
“Há uma extrema relutância em reconhecer que os padres vivem o celibato bem, mas não perfeitamente”, explicou um padre que vou chamar de Leo. “Mas como você chega a um entendimento positivo da sua sexualidade quando a Igreja diz que você não tem nem uma orientação sexual, mas apenas uma ‘atração pelo mesmo sexo’ ou ‘tendências homossexuais arraigadas’? Como você vive uma sexualidade sadia em um contexto em que a sua sexualidade é estigmatizada?”
Após a proibição de 2005 aos padres gays, o Pe. Mike se sentiu atraído pela terapia de conversão e passou um ano e meio tentando ser curado da homossexualidade. Foi somente mais tarde que ele chegou a entender como “nada disso era verdade; era tudo uma mentira”.
A preponderância de homens gays no sacerdócio, de fato, não é nenhuma novidade na história da Igreja. Por bem mais de um milênio, era um lugar-comum, e, embora houvesse denúncias ocasionais disso, elas geralmente eram seguidas de inação ou indiferença papal.
Por exemplo, como o falecido historiador John Boswell demonstrou em seu inovador e polêmico livro Christianity, Social Tolerance, and Homosexuality [Cristianismo, tolerância social e homossexualidade], um escritor cristão do século IV, João Crisóstomo, atacou as lideranças da Igreja por aceitarem muito o amor e até mesmo o sexo entre pessoas do mesmo sexo: “Aqueles mesmos que foram alimentados por uma doutrina piedosa, que instruem os outros naquilo que devem e não devem fazer (...) estes não se unem às prostitutas tão destemidamente quanto aos homens jovens (...) Ninguém se envergonha, ninguém fica corado (...) Os castos parecem ser os mais estranhos, e os que desaprovam, os que estão errados”.
Havia uma considerável preocupação cristã com o sexo em geral – seguindo-se aos ensinamento dos santos Paulo e Agostinho –, mas nenhum consenso de que a homossexualidade, se resguardada a um intenso amor mútuo e a uma amizade celibatária, era especificamente problemática.
Até Santo Agostinho tivera um caso de amor particularmente intenso com outro homem jovem. “Pois eu senti que a minha alma e a dele eram uma só em dois corpos”, escreveu, “e, portanto, a vida era um horror para mim, já que eu não queria viver como uma metade; no entanto, também tive medo de morrer, a menos que ele, a quem eu tanto amara, morresse completamente”. Essa não era apenas uma amizade espiritual, confessou Agostinho. “Eu contaminei a fonte da amizade com a sujeira da luxúria e obscureci seu brilho com a escuridão do desejo.”
Alguns especularam que a divisão nitidamente maniqueísta de Agostinho entre o espírito e o corpo está enraizada no seu desgosto pelas suas próprias tendências homossexuais. O registro histórico, no entanto, revela que, por toda a influência de Agostinho, a prática de uma intensa amizade homoerótica entre o clero foi comum nos séculos seguintes, especialmente nos mosteiros (como também era o caso dos conventos. Os dons que as lésbicas trouxeram à Igreja são igualmente extraordinários, mas, como o sacerdócio é exclusivamente masculino, e as mulheres são mantidas longe das posições de poder real, as freiras lésbicas, para o bem ou para o mal, não se envolveram nessa crise específica).
A obra-prima sobre o tema da “amizade espiritual”, de fato, foi escrita por um homem gay, São Elredo, o abade do mosteiro cisterciense de Rievaulx, na Inglaterra, em meados dos anos 1160. Ele tivera relações sexuais com homens na sua juventude, mas, ao fazer voto de castidade como monge, ele sublimou esses desejos em uma ideia de intenso amor celibatário por outro homem.
Ele tomava como modelo a relação entre Jesus e o “discípulo a quem Jesus amava”, João, descrevendo-a, em certo ponto, como um “casamento”. Elredo via a intimidade de Jesus com João – na Última Ceia, enquanto eles se reclinavam, João famosamente descansou sua cabeça no peito de Jesus – como um modelo para se ligar a outra pessoa do mesmo sexo, “a quem você pode se unir no abraço íntimo do mais sagrado amor (...) com quem você pode repousar, só vocês dois, no sono da paz, longe do barulho do mundo, no abraço do amor, no beijo da unidade”.
No século XII, padres e monges escreviam poemas de amor uns para os outros, naquela que Boswell descreve como uma “explosão de literatura gay cristã ainda sem paralelo no mundo ocidental”. Mas, talvez em resposta a essa ampla aceitação da espiritualidade gay, alguns começaram a fazer campanha por uma repressão.
Por volta de 1051, São Pedro Damião publicou um tratado, “O Livro de Gomorra”, cuja retórica é notavelmente similar às denúncias online do nosso tempo: “Absolutamente nenhum outro vício pode ser razoavelmente comparado com esse (...) na verdade, é a morte do corpo, a destruição da alma (...) ele remove totalmente a verdade da mente”. Ele acusava a Igreja de ser governada por uma cabala gay que acobertava uns aos outros e dava uns aos outros a absolvição por seus pecados.
O papa da época, Leão IX, entretanto, recusou-se a banir o clero gay e argumentou que o problema era daqueles que faziam sexo “como uma prática de longa data ou com muitos homens”. Um lapso ocasional poderia ser perdoado, se confessado. Francisco e Leão IX concordariam a séculos de distância.
Damião foi um dos principais reformadores da Igreja da sua época, muito além da questão dos padres gays, e um sínodo em 1059 respondeu a todas as suas muitas propostas – exceto a contrária ao clero gay. O Papa Alexandre II até pediu a Damião o seu único manuscrito do “Livro de Gomorra”, a fim de copiá-lo. Ao invés disso, Alexandre trancou tudo! Quando confrontado com esse fato, de acordo com Damião, o papa “ri e tenta me aplacar com o untuoso humor da urbanidade”.
Em 1102, em um momento semelhante, o Concílio de Londres decidiu promulgar um decreto contra o recém-definido pecado de “sodomia” – apenas para que a publicação fosse impedida pelo arcebispo de Canterbury, que observou que “esse pecado tem sido tão público até agora que dificilmente alguém se envergonhe dele”.
A maré virou decisivamente no século XIII, com o gênio teológico Tomás de Aquino, que denunciou os atos homossexuais como “contra a natureza”. Todo o sexo – hetero e homossexual – deveria ser reservado apenas para homem e mulher casados e abertos à procriação, e qualquer outra atividade sexual era pecado grave.
Os homossexuais, na nova teologia, faziam parte da natureza – muitos notaram o comportamento homossexual no reino animal, particularmente entre lebres e hienas –, mas também eram, de algum modo, contrários à natureza. Aquino nunca resolveu esse paradoxo. Nem mesmo a Igreja.
À medida que o tabu se aprofundava nos séculos seguintes, há poucas razões para acreditar que os padres gays tenham desaparecido, mas a maioria entrou ainda mais completamente na clandestinidade. Mesmo assim, o amor entre pessoas do mesmo sexo permaneceu como parte profunda do cristianismo católico.
A amizade que cresceu entre Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, por exemplo, criou a Companhia de Jesus, ou os jesuítas, no século XVI. Inácio enviou Francisco para evangelizar a Ásia, e a sua longa separação foi fonte de sofrimento para ambos. Francisco uma vez respondeu a uma carta de Inácio: “Entre muitas outras palavras sagradas e consolações da sua carta, eu li as conclusivas, ‘Inteiramente seu, sem poder ou possibilidade de esquecer você jamais, Ignatio’. Eu as leio com lágrimas e com lágrimas, agora, as escrevo (...) Você me diz o quanto deseja me ver antes que esta vida se encerre. Deus sabe a profunda impressão que essas palavras de grande amor causaram na minha alma”. Eles nunca mais se viram de novo.
Ambrose St. John (esq.) e John Henry Newman (Foto: Governatorato S.C.V., Direzione dei Musei, New York)
O maior teólogo católico do século XIX, o cardeal John Henry Newman, dedicou sua vida pessoal a outro homem, Ambrose St. John. Isso não significa que os dois tiveram um relacionamento sexual (embora possam ter tido), mas sugere que o amor profundo entre pessoas do mesmo sexo ainda estava vivo nos mais altos escalões do sacerdócio católico, até mesmo no ápice da repressão vitoriana e até mesmo em alguém prestes a ser celebrado como santo. Quando St. John morreu, Newman escreveu: “Eu nunca pensei que luto algum fosse igual ao de um marido ou de uma esposa, mas sinto dificuldade em acreditar que qualquer um possa ser maior do que o meu, ou que a tristeza de alguém possa ser maior do que a minha”.
Newman, como se sabe, converteu-se do anglicanismo ao catolicismo e fez parte do movimento reformista e estético de Oxford, que foi fortemente influenciado por homens homossexuais. Ele insistiu – “como minha última e imperativa vontade” – para ser enterrado no mesmo lugar que St. John. Na lápide, as palavras sobre as quais os dois concordaram: “Out of shadows and phantasms into Truth” [Das sombras e fantasmas para a Verdade].
O maior poeta católico do século XIX, o padre jesuíta Gerard Manley Hopkins, era gay; um dos mais profundos padres-teólogos do século passado, Henri Nouwen, também era. Ambos sofreram crises de depressão profunda. Mais uma vez, não há nenhuma prova de que qualquer um tenha quebrado o seu voto do celibato, mas ambos se apaixonaram, ambos lutaram com a solidão e ambos produziram uma obra de enorme beleza e espiritualidade.
A maior obra de Nouwen foi uma reflexão sobre a parábola do filho pródigo. Um dos poemas mais famosos de Hopkins, “Pied Beauty”, é um hino a “All things counter, original, spare, strange; / Whatever is fickle, freckled (who knows how?) / … He fathers-forth whose beauty is past change. / Praise him” [Todas as coisas contrárias, originais, sobressalentes, estranhas; / O que quer que seja inconstante, sardento (quem sabe como?) / (...) Ele que gera, cuja beleza é mudança passada. / Louve-o].
Mas por que o sacerdócio é tão gay? Vale a pena notar que a conexão entre homossexualidade e espiritualidade não se restringe, de forma alguma, ao catolicismo. Alguns psicólogos evolucionistas encontraram uma antiga ligação entre homens gays e xamanismo tribal. Carl Jung identificou os dotes arquetípicos do homossexual: “Uma grande capacidade de amizade, que muitas vezes cria laços de impressionante ternura entre os homens”; um talento para o ensino, estética e tradição (“ser conservador no melhor sentido e valorizar os valores do passado”); “uma riqueza de sentimentos religiosos, que ajudam a trazer a ecclesia spiritualis para a realidade; e uma receptividade espiritual que faz com que ele responda à revelação”.
Entre os próprios padres homossexuais, eu ouvi várias explicações. Alguns descreveram como o seu senso de inadequação quando eram meninos e adolescentes os tornou mais sensíveis às necessidades de outras pessoas marginalizadas: “Você era um estranho, e agora pode ajudar outros ‘estranhos’ e acolhê-los”. Outro simplesmente disse: “Nós entendemos o sofrimento”. Outro falou do apelo de pertencer a uma comunidade religiosa.
Outros explicaram que se sentiram atraídos pela ritualística da Igreja. “O catolicismo era diferente, e eu era diferente (...) Eu tinha um forte senso de experiência mística”, disse um deles. O catolicismo é uma fé centrada na missa, onde o corpo, a alma e os sentidos são tão importantes quanto a mente. A missa é, de certa forma, uma performance. E eu não sei como dizer isso sem ceder a estereótipos, mas há algo sobre a liturgia, o ritual, a música e o drama que atraem um certo tipo de homem gay. Esses tipos – também encontrados nas artes e na academia – são defensores dos detalhes, impiedosos quanto às regras e sintonizados com a tradição e a beleza. De muitas maneiras, a missa antiga e elaborada, com seus incensos e procissões, vestes codificadas por cores, complexidade litúrgica, precisão musical, coros, órgãos e puro drama, obviamente, em parte, é uma criação do sacerdócio gay. Sua sexualidade foi sublimada de uma maneira que se tornou integral e essencial ao culto católico.
Depois, há a experiência comum de um menino ou adolescente gay, criado na Igreja, que se volta para Deus na luta com a sua diferença e deslocamento em relação à normalidade. Ele é forçado a ponderar questões mais profundas do que a maioria de seus pares, adquire poderosas habilidades de observação e desenvolve uma espiritualidade precoce que nunca o abandona completamente.
Isso ressoa em mim mesmo quando eu era um menino e adolescente católico. A primeira pessoa com quem eu “saí do armário” foi Deus, em uma oração silenciosa a caminho da Comunhão. Eu era coroinha, sabia muito bem como balançar um turíbulo cheio de incenso, podia debater sobre as nuances da transubstanciação aos 11 anos e considerava o sacerdócio como uma vocação (eu concluí que não era uma pessoa suficientemente boa). Como muitos rapazes católicos gays solitários, eu via em Jesus um modelo – solteiro, sensível, fora de uma família, marginalizado e perseguido, mas finalmente vingado e vivo para sempre.
Mas há outras razões pelas quais os homens gays buscam o sacerdócio que estão longe de serem saudáveis. A primeira é o celibato. Se você fosse um jovem católico gay nos séculos passados, uma maneira de evitar o ostracismo social ou as constantes perguntas sobre por que você não tinha interesse em meninas ou em mulheres seria se tornar padre (um padre também me disse que a força mais poderosa por trás das vocações ao sacerdócio, por muito tempo, foi a mãe, que, intuindo que um filho “não era do tipo que se casa”, o encorajaria a entrar na Igreja para salvar a posição social de sua família). Esse padrão, embora muito menos severo do que no passado, perdura. Uma profunda falta de autoestima, alimentada em parte pela homofobia da Igreja, também levou alguns a buscarem o sacerdócio como um meio para reprimir ou, de algum modo, curar a si mesmo.
“Antes mesmo de sermos adolescentes, percebemos que tudo isso é uma abominação”, disse um padre a quem eu chamarei de Pe. John. “E, assim, vamos ao encontro do ensino da Igreja e efetivamente dizemos: ‘Preencha-me com o que você está dizendo, e eu me tornarei você. Vou me tornar uma personalidade magisterial’”. Com “magisterial”, ele se referia à encarnação do Magistério, o ensino formal da Igreja. “Em outras palavras, eu desisti de ser eu mesmo. E tenho a sensação de que é por isso que você pode encontrar tantos homens que, de fato, são assustadoramente ‘cinzentos’ e impessoais. Em algum momento em suas vidas, eles concordaram que não seriam eles mesmos”.
Eu já vi isso em muitos padres. Incapazes de serem eles mesmos, eles se tornam personae, símbolos e, no fim, caricaturas ou até mesmo máscaras encarnadas.
Muitas vezes, essa luta inconsciente desmorona. É simplesmente difícil demais não ser você mesmo. Alguns lidam com isso mediante uma extravagância absurda e com hotéis de luxo; outros afundam na depressão. O alcoolismo e a dependência assumem o controle. “Ah, meu Deus”, disse-me o Pe. Andrew, “quando eu voltei para a Igreja em 2010, eu não conseguia entender como esses padres haviam ficado tão extremamente obesos. Eles eram verdadeiros atletas quando eram jovens”. Outro padre me disse: “Eu enterrei tudo isso muito profundamente. E, então, tive um colapso. Foi um daqueles momentos em que queremos que algo ocorra com um amigo. Uma noite, quando saí de casa, percebi que realmente queria ter um relacionamento com aquele homem. Então, isso começou a fluir dentro de mim. Eu não queria ser essa pessoa. Eu não queria ser eu”.
Outros padres gays, mais autoconscientes e cínicos, acham que há uma carreira a ser feita mediante toda essa falsidade. A partir do século XIII, é fácil ver como os homens secretamente gays encontraram na Igreja, e somente na Igreja, uma fonte de status e poder. Marginalizados externamente, dentro dela eles podiam se tornar conselheiros de monarcas, perdoar os pecados alheios, ter uma vida estável, desfrutar de enormes privilégios e ser tratados instantaneamente com respeito. Tudo era suprimido, nenhuma pergunta era feita nos seminários, e o aconselhamento psicológico estava ausente (e até agora é raro). Homens assustados e feridos tornavam-se padres, e emergiam certos padrões característicos.
Um deles, como ficamos sabendo, era a vida sexual ativa e o abuso. Confundir o abuso sexual com o sacerdócio gay, como muitos fazem agora de forma reflexiva, é um libelo grotesco para a vasta maioria que nunca contemplou tais crimes e de fato está horrorizada com eles. É um clássico bode expiatório. Ao mesmo tempo, desvincular a crise dos abusos sexuais inteiramente da questão dos padres gays é evitar intencionalmente uma feia verdade. A pedofilia é uma categoria separada fora da questão da orientação sexual. Mas alguns abusos de adolescentes e jovens adultos do sexo masculino, assim como o abuso de outros padres, estão claramente relacionados à homossexualidade horrivelmente extraviada – e cerca de um quarto dos casos relatados envolvem vítimas de 15 a 17 anos de idade.
A escala disso no fim do século XX foi extraordinária – mas, em retrospecto, previsível. Se você não lidar honestamente com a sua sexualidade, ela vai lidar com você. Se você construir uma instituição composta por homens reprimidos e que odeiam a si mesmos e sustentá-la com o sigilo e a obediência completa aos superiores, você praticamente criou uma máquina para a disfunção e a predação. E a verdade hedionda é que nunca saberemos a extensão dos abusos nos séculos passados ou o que ainda está acontecendo, especialmente em lugares do mundo (como a África e a América Latina) onde um robusto escrutínio da Igreja ainda é um tabu às vezes.
Outro padrão foi a homofobia exteriorizada: aquilo que você odeia em si mesmo, mas não pode enfrentar, você policia e pune nos outros. O fato é que muitos dos bispos e cardeais mais homofóbicos foram – e são – gays. Tomemos como exemplo o cardeal estadunidense mais poderoso do século XX, o cardeal Francis Spellman, de Nova York, que morreu em 1967. Ele teve uma vida sexual gay ativa durante anos, enquanto era um dos sustentadores mais rígidos da ortodoxia. Mons. Tony Anatrella, defensor da terapia de conversão consultado pelo Vaticano, foi recentemente suspenso por abuso sexual de outros homens. Um dos principais cardeais da Europa, Keith O’Brien, da Escócia, descreveu a homossexualidade como uma “degradação moral”, e a igualdade no casamento como “loucura”. Indubitavelmente, ele acabou sendo forçado a renunciar e a deixar o país depois de ser acusado de relações sexuais abusivas com outros quatro padres.
O cardeal arquiconservador e antigay George Pell foi recentemente considerado culpado de abuso sexual de meninos na Austrália. Descobriu-se que o fundador da Legião de Cristo, Marcial Maciel, outrora altamente influente, de extrema-direita e antigay, tinha abusado sexualmente de incontáveis homens, mulheres e crianças. O líder do Church Militant, que é obcecado por padres gays, é alguém que se autodescreve como “ex-gay”.
Esta é uma boa regra: aqueles membros da hierarquia que são obcecados com a questão homossexual muitas vezes se revelam gays; aqueles que são mais calmos tendem a ser heterossexuais.
Bento XVI se descreveu como um menino estudioso, avesso ao esporte. Sua fala suave é notavelmente efeminada; ele era visto constantemente na companhia de seu secretário particular, George Gänswein, bastante arrojado; e se enfeitava com vestes de tamanha extravagância que incluíam arminho e pantufas vermelhas personalizadas. Ele também foi o teólogo que demonstrou um desejo maníaco de policiar o menor desvio da ortodoxia, que descreveu as pessoas gays como “objetivamente desordenadas” e inclinados a um “mal moral intrínseco” e que, depois de proibir os padres gays, chamou-os de “uma das misérias da Igreja”. Até mesmo o fato de sugerir algum tipo de conexão entre todos esses aspectos de alguém que também é santo, celibatário e sensível leva a ser acusado de uma insinuação repugnante. Mas isso ocorre porque muitos na hierarquia ainda não conseguem ver a homossexualidade como algo que tem a ver com amor e identidade, em vez de atos sexuais e luxúria. À medida que revelamos camadas e mais camadas de disfunção no próprio topo da Igreja, pode ser que seja hora de mostrar como esses imperadores cheios de joias estão nus.
E isso, é claro, acrescentou outra camada de complexidade à história dos padres gays: as gerações importam. Aqueles que têm seus 70 e 80 anos cresceram em um universo diferente, em que o “armário” era automático, e a noção de até mesmo discutir sobre os padres gays era escandalosa. Um padre descreveu essa geração para mim como “tão ‘dentro do armário’ que podiam muito bem estar em Nárnia”. Eles podem até não saber que são gays. Mas a reação deles ao reexame moderno do amor homossexual e a consideração do sexo como algo distinto da procriação foi um entrincheiramento em pânico. Aqueles que têm seus 50 ou 60 anos ou são mais jovens, ao contrário, geralmente são muito mais autoconscientes, e seus pares católicos e famílias são muito mais acolhedores. Essa diferença geracional é a fonte de grande parte do conflito dentro dos mais altos níveis gays da Igreja.
No início do terceiro milênio da Igreja, a crise dos abusos sexuais explodiu na consciência pública. De repente, todo o sistema de sigilo, autoproteção clerical, encobrimentos e escândalos foi brutalmente exposto. Para a maioria dos padres gays, isso foi um grande alívio. Eles estavam tão chocados quanto qualquer um. Mas também sabiam que o sistema que agora estava sendo desmantelado tinha ocultado não apenas os crimes e os abusos dos maus padres, mas também os pecados e o sexo adulto consensual dos bons. Eles também tinham segredos.
Lembre-se: o celibato não é uma tarefa fácil. É impossível para a maioria dos seres humanos evitar se apaixonar ou expressar fisicamente o seu ser sexual em algum momento de suas vidas. Na prática, esses fracassos foram frequentemente confrontados e confessados; contanto que os padres sejam honestos e se comprometam novamente com o celibato, permite-se que eles sigam em frente. Alguns dos padres gays com quem eu falei reconheceram lapsos, mas insistiram que, em consulta com seus diretores espirituais e superiores, eles escolheram o celibato quando a escolha se tornou impossível de ignorar ou evitar. O objetivo, explicaram, era estar livre de qualquer apego particular para que pudessem dedicar seus próprios “eus” à Igreja como um todo.
Mas a maioria tinha algum tipo de incidente ou fracasso no passado que podia ser usado contra eles, caso se tornasse público, mesmo que se tratasse apenas da sua identidade de homem gay. E, então, um tipo venenoso de omertà tomou conta, em que o sacerdócio agia como um fórum de destruição mutuamente assegurada. Como muitos colegas padres conhecem a sexualidade e/ou os lapsos uns dos outros, todos eles podem chantagear uns aos outros. Falhas mundanas – como um breve caso amoroso – podem se tornar facilmente obscurecidas por males profundos como o abuso infantil. Se você expuser um molestador de crianças ao seu superior, por exemplo, ele pode expor a sua própria homossexualidade e destruir a sua carreira.
Essa dinâmica tornou o “armário clerical” – não o fato de haver padres gays, mas o modo como esse fato era escondido – um mecanismo central para tolerar e permitir o abuso. Além de tudo isso, o voto de obediência aos superiores dá aos bispos e cardeais gays uma enorme influência sobre o seu rebanho sacerdotal. Alguns, é claro, perceberam que esse poder podia ser aproveitado para o sexo e abusaram dele.
Novos procedimentos para a proteção dos menores foram implementados depois de 2002. Mas muitos danos do passado ainda precisam ser enfrentados. O caso McCarrick, em particular, revelou que o padrão de ocultação e tolerância aos abusos chegou à própria cúpula da Igreja. João Paulo II, Bento XVI e Francisco, todos eles, protegeram os abusadores ou optaram por não confrontá-los. O fato de alguns criminosos sexuais também serem responsáveis por direcionar vastas somas de dinheiro para o Vaticano – Maciel e McCarrick eram lendários em sua arrecadação de fundos – fazem com que a tolerância pareça particularmente cínica.
Ainda não sabemos por que, exatamente, o tradicionalista Bento XVI decidiu ser o primeiro papa a renunciar ao cargo, mas alguns foram rápidos em observar que ele havia compilado um extenso dossiê sobre o abuso sexual na Igreja... e, mesmo assim, de alguma forma, sentiu-se incapaz de agir. Ele simplesmente ficou sobrecarregado pela tarefa, surpreendido pela sua escala e temeroso de que toda a Igreja pudesse entrar em colapso?
Francisco, em uma de suas primeiras coletivas de imprensa como papa, iniciou um curso diferente. Ele reiterou a distinção entre pecados e crimes e, apesar de denunciar o abuso, não insistiu na perfeição sexual no sacerdócio, contanto que as falhas fossem confessadas; os pecados, absolvidos; e o padre se comprometesse com um futuro de celibato. Depois, ele foi mais longe ao permitir os bons padres gays na Igreja: “O problema não é ter essa tendência, não; devemos ser irmãos e irmãs uns dos outros”. O problema, disse ele, era se os gays formassem algum tipo de facção ou lobby dentro da Igreja – mas isso, explicou, se aplicava a qualquer lobby: “Um lobby de avarentos, um lobby de políticos, um lobby de maçons”.
A mudança de tom por parte de Francisco indignou os conservadores no Vaticano (isso também preocupou, talvez, alguns poderosos abusadores sexuais, que reconheceram o papel do “armário clerical” para manter tudo quieto). E, quando Francisco buscou o conselho de McCarrick, um liberal moderado, aqueles que sabiam sobre o abuso de seminaristas por parte de McCarrick explodiram de raiva. Em um dos mais dramáticos atos de dissensão na história da Igreja moderna, o arcebispo Carlo Maria Viganò, ex-núncio vaticano nos Estados Unidos, divulgou uma carta em agosto afirmando que os abusos de McCarrick eram conhecidos tanto por Bento XVI quanto pelo Vaticano desde o ano 2000. Além disso, Francisco sabia dos abusos de McCarrick desde 2013 e agora fazia parte de um acobertamento. Comentaristas conservadores, como o ex-católico Rod Dreher e Ross Douthat, do New York Times, falaram de um potencial novo “cisma”, e Dreher usou insultos como “Máfia Rosa” para descrever a ameaça que ele via em relação à doutrina estabelecida.
Viganò foi mais longe. Ele pediu ao papa que renunciasse: “É preciso abater a espiral do silêncio com que bispos e sacerdotes protegeram a si mesmos à custa dos seus fiéis, omissão que, aos olhos do mundo, corre o risco de fazer com que a Igreja pareça uma seita, omissão não tão diferente daquela que vigora na Máfia”. Viganò também citou alguns dos cardeais mais liberais que eram protegidos de McCarrick.
“Ninguém no Vaticano foi enganado em momento algum”, disse-me James Alison, um padre e teólogo gay com bons contatos na política da Igreja. “Isso foi o mais próximo de uma ‘saída do armário’ pública do que qualquer outra, exceto por parte de um jornalista de fora do círculo católico.” Alison acredita que isso pode ter ferido o caso Viganò. “Isso assustou até mesmo alguns dos aliados mais conservadores de Viganò, ao perceberem que poderiam ser ‘tirados do armário’ também se isso viesse a se tornar uma grande guerra intra-armário.” Então, eles recuaram (a calmaria pode ser temporária. Um livro publicado em fevereiro, In the Closet of the Vatican, do jornalista francês Frédéric Martel, contém evidências extraordinárias de hipocrisia gay no Vaticano há várias décadas).
Mas o testemunho de Viganò sobre a questão-chave – que um cardeal homossexual ativamente abusivo foi intencionalmente tolerado por João Paulo II e Bento XVI e consultado por Francisco – tinha o anel da verdade. Claramente, quando confrontado com a acusação, Francisco não fez nenhuma tentativa de negar as acusações, recusou-se a liberar quaisquer documentos que pudessem refutar as acusações de Viganò e, em vez disso, pediu “silêncio” e oração.
Em setembro, Francisco pareceu perder a sua equanimidade. Ele comparou a carta de Viganò com o trabalho do Diabo: “Nestes tempos, parece que o Grande Acusador se soltou e está atacando os bispos. Ele tenta revelar os pecados, para que sejam vistos, para escandalizar o povo”. Ele convocou uma cúpula global de cardeais em Roma em fevereiro para discutir toda a questão dos abusos sexuais na Igreja. Esse pode muito bem se tornar um momento de recontagem para o seu papado – e os dos seus dois antecessores. Pode forçar algum tipo de decisão sobre o papel dos padres gays, do celibato clerical e da homossexualidade em toda a Igreja. Está claro para todos que o atual aparato de sigilo, hipocrisia, abuso e homofobia precisa acabar se a autoridade moral da Igreja quiser ter alguma chance de se restaurar. Mas como?
Uma opção possível é a preferência da direita católica: que todos os envolvidos no acobertamento de McCarrick renunciem, incluindo, supõe-se, Francisco (e o Papa Emérito Bento XVI); que uma investigação maciça seja lançada sobre como padres, bispos e cardeais gays se tornaram tão comuns e poderosos; e a estrita aplicação da proibição de 2005 aos padres gays. Mas purificar o sacerdócio das “tendências homossexuais” exigiria a remoção de até um terço do clero nos EUA e a demissão de vários bispos e cardeais, incluindo muitos que mantiveram o celibato, pregaram a ortodoxia e viveram vidas exemplares. Inúmeros católicos leigos assistiriam seus padres serem colocados para “fora do armário” e demitidos pela Igreja. Como eles reagiriam?
As demissões em massa rotulariam a Igreja como evidentemente homofóbica e facilmente levariam a renúncias em massa e a um declínio ainda maior nas vocações. Que assim seja, dizem os tradicionalistas. Eles querem uma Igreja muito menor e mais pura. Mas poucos papas em potencial gostariam de ser aquele que precipitará a implosão. Mais ao ponto: isso poderia piorar o problema. A Igreja perderia todos os padres que são ajustados o suficiente para serem honestos sobre a sua orientação e manteria todos aqueles que são os mais profundamente avariados, “trancados no armário” e autoaversivos. O potencial para o abuso sexual poderia aumentar.
Uma segunda opção seria uma “lorota”, uma reprise de 2005, quando a Igreja disse que todos os padres gays deveriam ser demitidos e que nenhum homem gay fosse admitido no seminário... e então não fez muito a esse respeito. Essa seria, de certa forma, a pior escolha. Foram justamente a retenção e a anatematização simultâneas de padres gays que ainda estão no “dentro do armário” que, ao longo das décadas, ajudaram a alimentar os abusos e o seu encobrimento.
Uma terceira opção seria simplesmente incentivar o fim do “armário clerical”, isto é, pedir que todos os padres obedeçam a um dos Dez Mandamentos: não mentir sobre si mesmos. Isso exigiria que os padres gays se identificassem como tais aos seus superiores e paroquianos e, ao limpar o ar, fizessem um voto público renovado ao celibato (se o celibato é saudável para a Igreja é outra questão, estranhamente distinta da atual crise; um relaxamento das regras não resolveria a posição da Igreja sobre a homossexualidade, e uma aceitação da homossexualidade é compatível com um sacerdócio celibatário). Incentivar o fim do “armário” ressaltaria a distinção que a Igreja faz formalmente entre identidade homossexual e atos homossexuais. Isso impediria que gays problemáticos que ainda estão “dentro do armário” entrem no sacerdócio e forneceria exemplos sacerdotais para os católicos gays que se sentem chamados ao celibato. Aqueles padres gays que se recusarem a ser totalmente transparentes podem ir embora. Cardeais, bispos e diretores de seminários poderiam insistir em conversas francas sobre o assunto. Vidas duplas se tornariam bem menos comuns. Se um padre está comprometido com o celibato e está fazendo um bom trabalho, por que sua homossexualidade pública seria um problema?
O único obstáculo que está no meio desse caminho é a homofobia formalmente incorporada na doutrina da Igreja em 1986 pelo futuro Bento XVI. A Igreja agora ensina explicitamente que as pessoas gays são “objetivamente desordenadas” porque seu próprio ser as leva a um mal moral intrínseco. Esse “mal” é a orientação a fazer sexo que não pode procriar – a mesma razão pela qual a Igreja se opõe ao controle de natalidade para casais heterossexuais. A diferença, é claro, é que o controle de natalidade é uma escolha, enquanto a homossexualidade não é.
Uma analogia melhor talvez fosse o infértil, que também, simplesmente por causa do jeito que é, não pode fazer sexo para procriar. Mas a Igreja não os chama de “objetivamente desordenados”. Ela os casa com ânsia, assim como os casais heterossexuais idosos. De fato, a Igreja abrange todas as outras minorias, pessoas com deficiências e indivíduos perseguidos ou marginalizados pela sociedade por causa de alguma característica involuntária. Nenhum outro grupo de seres humanos é descrito pela Igreja como “objetivamente desordenado”.
Em algum momento, você percebe que esta é, no fim, a moral da história. Há uma crueldade profunda e não cristã no centro do ensinamento da Igreja, um fanatismo profundamente em desacordo com o próprio compromisso da Igreja a ver cada pessoa como digna de respeito, merecedora de proteção e feita à imagem de Deus. Ela se baseia em uma mentira – uma mentira que a hierarquia sabe que é falsa, e uma mentira que foi provada como falsa pela ciência, pela história e pela própria experiência da Igreja.
“A hierarquia está se emaranhando em público por causa de algo que já concedeu em particular”, explicou-me o Pe. Leo. A tarefa, parece-me, não é livrar a Igreja da homossexualidade, que faz parte do mistério humano, mas sim da hipocrisia, da desonestidade e da disfunção.
Impossível? Eu admito, às vezes, um fatalismo esmagador. Mas também acredito, como católico, que nada é impossível para Deus.
Em um domingo de manhã no fim de 2017, na paróquia conservadora de Santa Bernadete, em Milwaukee, o Pe. Gregory Greiten estava extremamente nervoso. No dia seguinte, o National Catholic Reporter publicaria um artigo que ele escreveu no qual ele “sairia do armário”. Ninguém na sua comunidade sabia disso de antemão, e agora ele estava prestes a presidir a missa. Ele queria contar à sua própria paróquia por primeiro.
O Pe. Greg – sim, esse é o seu nome de verdade – tinha ido a um seminário menor, onde alguma experiência adolescente com outra pessoa do mesmo sexo tinha acontecido, e foi exposto como um dos culpados e “tirado do armário” para a sua família. “Eu tive um colapso total no dia em que meus pais foram chamados”, ele me disse. “Eu estava chorando muito... as cicatrizes que ficaram me provocaram um estresse pós-traumático por anos.” Ele reprimiu a sua sexualidade e buscou aquilo que via como o seu chamado a ser padre, mas sofreu um colapso em sua homossexualidade quando tinha 24 anos.
Com o passar do tempo, ele se recuperou e se concentrou no seu ministério, mas, depois de 25 anos de sacerdócio celibatário, ele finalmente decidiu que não podia mais mentir sobre si mesmo e manter a sua integridade. Em 2017, ele encontrou o seu caminho em um retiro para padres gays ministrado pelo New Ways Ministry, um grupo católico amigável aos gays.
“Chegar a um lugar onde você podia ser tão aberto e tão honesto... Foi muito libertador estar perto de pessoas que só querem conversar e ser honestas e seguir seu próprio caminho de autenticidade.” Isso aumentou a sua confiança.
Ele estava preocupado com a sua pensão e o seu seguro de saúde, mas “eu pensei: ‘Bem, se você quiser tirar o sacerdócio de mim, tire...’ Eu não estou mais fingindo ser um homem heterossexual para ajudar a Igreja a ignorar a questão. Eu bebi esse veneno durante a maior parte dos anos da minha vida. Se você precisa que eu minta sobre quem sou, então o sacerdócio é uma farsa”.
Enquanto conversávamos, não havia nenhuma raiva na sua voz dele, apenas uma informalidade característica do Meio-Oeste norte-americano. Ele me disse que o pedágio do armário era imenso para muitos à sua volta, incluindo suicídios que tinham sido silenciados. Ele estava ciente de que era relativamente fácil para ele “sair do armário”; ele sabia que seu próprio histórico de celibato era imaculado desde os 24 anos. Outros estavam mais comprometidos e poderiam ser mais facilmente visados. Se ele não assumisse a liderança, quem mais o faria?
Naquele domingo de manhã, quando ele se levantou para proferir a sua homilia, ele sentiu a boca secar. A igreja estava lotada, e, quando ele começou a contar a sua história, o silêncio era quase insuportável. Ele seguiu em frente. Sem resposta.
No fim, uma mulher se levantou entre os bancos, e ele se preparou. “Deus te abençoe, padre! Deus te abençoe!”, ela gritou. E, então, de repente, a comunidade se levantou e aplaudiu. No fim da homilia, outra salva de palmas de todos em pé.
Ele não olhou para trás desde então. O arcebispo de Milwaukee fez uma declaração pública, lamentando que o Pe. Greg tivesse “saído do armário”, mas prometendo tratá-lo com “compreensão e compaixão”. Greg me disse que não teve nenhuma interação pessoal com o arcebispo desde que lhe contou que “sairia do armário”. Ele recebeu, sim, um correio de voz gentil em seu aniversário, no entanto.
“Este ano foi um dos melhores anos da minha vida”, disse Greg. “Eu me sinto muito mais perto de Jesus. Alguém me perguntou se eu me arrependia, e eu lhe disse: ‘Você sabe o que é liberdade? Porque, se você sabe, você não teria feito essa pergunta.’ Toda aquela energia que foi preciso para criar um falso eu... os deboches... todo aquele fingimento acabou. Eu gostaria que outros padres pudessem ter um pouco dessa liberdade.”
Então, ele disse algo inesperado: “Eu quero dizer algo sobre a minha mãe. Minha mãe fez por mim o que a Igreja nunca fez – amar e me respeitar por quem eu sou e por quem Deus me criou para ser”.
Talvez, em algum momento, a Mãe Igreja fará o mesmo.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A Igreja gay - Instituto Humanitas Unisinos - IHU