Por: Wagner Fernandes de Azevedo | 08 Novembro 2018
Em outubro de 2015 a Argentina encerrou um ciclo de três mandatos do peronismo kirchnerista. A eleição de Maurício Macri simbolizou uma mudança para além do governo argentino, mas a realização de um novo bloco da direita latino-americana. Na terça-feira, 06-11-2018, Macri anunciou que concorrerá à reeleição em 2019, colocando à prova o modelo que ajudou a semear.
Mauricio Macri ascendeu na política argentina como empresário bem-sucedido e o mais vitorioso presidente da história do Boca Juniors, o clube mais popular do país. Após a experiência no futebol, foi eleito duas vezes governante da Cidade Autônoma de Buenos Aires, com facilidade. Em 2015 chegou à presidência do país com quase 13 milhões de votos, o que representava 51,34% dos votos válidos. Uma vitória apertada, de pouco mais de 600 mil votos, menos de 2%, sobre Daniel Scioli, candidato representante dos governos Kirchners.
O seu perfil de gestor acendeu a atenção do mercado. As políticas estatizantes dos governos kirchneristas, a regulação do câmbio e os casos de corrupção que se revelavam potencializavam o lema da coalizão “Cambiemos”.
Entretanto, o governo de Macri não deu respostas à crise econômica. O peso argentino sofre uma hiperdesvalorização, a inflação já é estimada em 50% e pobreza atinge mais de 30% da população. Macri trouxe de volta à Argentina os Fundos Abutres e o FMI. Nesses 3 anos, foram constantes as greves gerais, e com forte impulso de categorias como os caminhoneiros e professores.
Diante desse cenário a popularidade do presidente está em queda livre, de acordo com pesquisa do instituto D’Alessio IROL y Berensztein, publicada na segunda-feira, 05-11, 57% dos argentinos tem uma percepção negativa de Maurício Macri, um aumento de 9% em cinco meses. Enquanto isso, 37% dos argentinos tem uma imagem positiva. São os pontos mais extremos em toda sua gestão.
A incerteza da política macrista elevou sua aliada do Cambiemos, Maria Eugenia Vidal, governadora da província de Buenos Aires, e que foi sua vice-prefeita em Buenos Aires, como potencial sucessora. De acordo com a mesma pesquisa D’Alessio IROL/Berensztein, Vidal apresenta popularidade neutra, 48% a veem positivamente e 48% negativamente.
As recentes pesquisas eleitorais apresentam que Macri é o candidato com a maior rejeição imediata na população. De acordo com a Management & Fit – M&F, na pesquisa espontânea, 31% dos argentinos não votariam nunca no atual presidente, são 10 pontos percentuais de diferença para a Cristina Kirchner, a segunda mais rejeitada.
Entretanto, na pesquisa estimulada, Macri e Cristina trocam o posto, mas aparecem quase empatados, com 55% e 57% de rejeição, respectivamente.
Nas pesquisas de intenção de voto do instituto Reyes-Filadoro, Cristina aparece com 34%, seguida de Macri com 28%. Em um segundo turno, Kirchner venceria com 46% contra 37%.
Pesquisa: Reyes-Filadoro
Eventual segundo turno entre Maurício Macri e Cristina F. Kirchner. Pesquisa: Reyes-Filadoro
Os dois últimos presidentes argentinos figuram também entre os dois piores desde o período da redemocratização, 1983-2018. Outra pesquisa da D’Alessio IROL/Berensztein, divulgada dia 02-11, demonstra que 42% consideram Cristina Kirchner a pior presidente desde 1983, seguida de Macri com 38%. O terceiro colocado, Fernando de la Rúa, que renunciou na crise de 2001, vem em 3º lugar com 9%.
Pesquisa D'Alessio IROL y Berensztein sobre o pior presidente desde 1983. Gráfico: Clarín
Por outro lado, ao questionados sobre o melhor presidente, Cristina fica em 3º com 12% e Macri em 4º com 9%. Raúl Alfonsin, primeiro presidente da redemocratização, da Unión Cívica Radical, hoje parte da coalizão Cambiemos, tem 37%, seguido de Néstor Kirchner com 29%.
O cenário não impediu que Macri anunciasse na terça-feira, 06-11, que tentará a reeleição. “Estou pronto para continuar, por sorte estamos saindo de nosso momento mais difícil. Estou convencido de que é o único caminho possível. A Argentina não pode voltar atrás, não pode se construir sobre a magia, a mentira e a demagogia”, anunciou em entrevista à rádio Niquixao, de Catamarca.
Vidal também declarou na semana passada, 01-11, em entrevista à emissora Todo Noticias, que não será candidata à presidência. “Não serei candidata à presidenta. Dedico minha energia 24 horas para a Província e que necessita desse compromisso”. Na oportunidade também criticou a falta de clareza da Igreja argentina devido a sua relação com lideranças sindicalistas opositoras ao governo Macri.
Daniel Scioli/Foto: Willson Dias/Agência Brasil
A oposição peronista, todavia, não definiu nenhuma candidatura unificada. Cristina Kirchner é investigada por casos de corrupção e as investigações fecham o cerco que podem leva-la à prisão. Daniel Scioli, que foi vice-presidente de Néstor, em entrevista ao jornal La Nación manifestou o interesse de ser o candidato peronista e a necessidade do movimento avançar para além do kirchnerismo. “A política tem que se adaptar às novas demandas sociais. Temos o caso do Brasil, que precisamos chamar a atenção. Perderam o PT, Lula, Haddad e Dilma”, expôs Scioli, que também reforçou seu distanciamento com a corrente de Cristina. “Sou diferente e por causa desses diferenças me fizeram muitas pressões daquele governo de então”, respondeu ao ser perguntado se era um kirchnerista.
Sergio Massa/Foto: Wikicommons
A chamada “terceira via” nas eleições de 2015, foi Sergio Massa, um dissidente do governo de Néstor Kirchner. Em 3º lugar com 21% dos votos válidos, reitera sua intenção de disputar em 2019. Na ocasião, apoiou Macri no segundo turno, mas aparece durante a atual gestão como opositor. Nas pesquisas aparece com alta rejeição, de 52%. As eleições de 2019 serão um teste para Macri, e de certo modo para o novo bloco da direita da região, mas ainda sem uma alternativa consolidada.
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Argentina. Macri será o primeiro teste da direita sul-americana nas urnas, mas contra quem? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU