21 Outubro 2018
Acolhida, atenção, acompanhamento. Para os migrantes, para os que estão longe da fé, para aqueles que são “atraídos por pessoas do mesmo sexo”. No documento final o Sínodo quer dizer “algo que seja inclusivo para todos”, afirmou o cardeal arcebispo de Chicago, Blase Cupich, ao resumir alguns dos sentimentos dos padres que participam no Sínodo. Começa a quarta e última semana das sessões de trabalho e se começa a delinear o resultado das relações dos Círculos Menores sobre a terceira parte do “Instrumentum laboris”.
A Reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 20-10-2018. A tradução é de Graziela Wolfart.
Na coletiva de imprensa diária na Sala de Imprensa vaticana, participaram Cupich, dos arcebispos auxiliares, Peter Andrew Comensoli, de Melbourne (Austrália), e Alain De Ramey, de Lausana, Genebra e Friburgo (Suíça), e o cardeal John Ribat, arcebispo de Porto Moresby (Papua-Nova Guiné), que destacou que “a Igreja deve acolher a todos, fazer com que se sintam em sua casa, sem excluir ninguém: todos são bem-vindos”.
Um desejo que os jovens também expressaram, segundo explicaram os relatores. E os Círculos menores aceitaram o desafio de formular um enfoque novo e diferente: em particular o tema da homossexualidade voltou a surgir nas discussões em diferentes línguas. O “Italicus B”, por exemplo, moderado pelo cardeal Fernando Filoni, cujo relator é o monsenhor Bruno Forte, pede “uma especial atenção e acompanhamento para as pessoas de orientação homossexual”. O “Anglicus B” (no qual participam três dos relatores de hoje: Cupich, Ribat e Comensoli) indica que: “Temos discutido sobre a questão dos católicos que sentem atração pelo mesmo sexo”. Motivo pelo qual “propomos uma seção separada para este problema e que o objetivo principal seja o acompanhamento pastoral destas pessoas, que segue as linhas do Catecismo da Igreja católica”.
Para esclarecer este pedido, Cupich explicou: “Queríamos nos assegurar que se diga algo que seja inclusivo para todos. O que o documento final dirá aos homossexuais? Creio que todo o documento tem algo a dizer a todos”. Ribat confirma: “Tanto nos Círculos menores como na Aula magna se falou sobre não excluir, dar as boas vindas a todos, fazer que todos se sintam à vontade. Em meio às dificuldades que os jovens vivem, a Igreja deve ser uma casa e, como tal, receber” quem se aproxima. “Os jovens”, acrescentou, “nos falam livremente, são eles que nos animam: dirigem-se assim a nós, desta maneira nos sentimos livres para dizer o que sentimos. Devemos fazer com que se sintam bem-vindos pelo que são”.
Segundo Comensoli, a questão de acolher os homossexuais se reduz a uma pergunta: “Não somos todos pecadores? Não estamos todos em busca de ser encontrados por Deus?”. “Somos chamados a tocar nossas vidas e a levar a cruz”, insistiu o prelado australiano. “Falo aos meus amigos homossexuais e lésbicas sobre a amizade de Deus, e juntos tratamos de entender como seguir adiante”.
Trata-se, indicou o cardeal Cupich, dessa “pedagogia divina” a que se refere o Papa Francisco em “Amoris laetitia”. “Não devemos por obstáculos à graça de Deus. Tomemos as pessoas de onde estão e caminhemos com elas, mesmo que às vezes recuem ou se percam. A graça é algo que devemos discernir juntos”.
As críticas a este enfoque surgiram durante a coletiva de imprensa. Segundo alguns jornalistas, trata-se de uma atitude ambígua: tudo bem acolher os homossexuais, mas assim parece que a Igreja “abençoa” o estilo de vida homossexual. Mas, sobretudo, observou um jornalista de um dos sites ultraconservadores que contribuíram com a difusão dos documentos de Viganò, a raiz dos abusos sexuais dentro da Igreja seriam as tendências homossexuais. Segundo Cupich isto não é verdade, uma vez que há várias investigações que demonstram “que a causa dos abusos não é a homossexualidade, pois muitos outros fatores acabam contribuindo”. “As opiniões serão discordantes, mas isto é o que dizem as investigações”.
A respeito dos abusos sexuais, o bispo Comensoli, que provêm da Austrália que, junto com Estados Unidos e Chile, parece ser o país mais afetado pelo terrível fenômeno, quis destacar que o tema foi analisado com atenção pelos padres sinodais. “Desde o primeiro dia do Sínodo se falou sobre o fracasso da liderança da Igreja para os casos de abusos, do fracasso dos irmãos do episcopado em escutar as vítimas”. Agora que o Sínodo está por ser concluído, se vê claramente a necessidade de “seguir adiante”, não somente com “pedidos de desculpas ou admissões de culpa”, mas com soluções concretas.
Uma foi proposta pelo próprio Cupich: a instituição de um organismo de leigos especialistas que pesquisem sobre as acusações contra os bispos, encarregados pelos mesmos prelados sob investigação. “Cada bispo deveria estar pronto para ceder sua autoridade e seus direitos. Se houvesse acusações contra mim, gostaria que se investigasse sobre mim”, afirmou o pastor de Chicago. Desta maneira, passo a passo, será possível voltar a ganhar a confiança do povo de Deus, afetada pelos últimos escândalos. “Os leigos querem que tenhamos êxito, que façamos o correto. Vejo muita raiva ao redor, mas esta raiva esconde a tristeza”.
O olhar do cardeal se revelou realista e projetado ao futuro, ou seja, para a relação da Igreja com os jovens que poderiam estar desiludidos. “Nós pedimos que os jovens sejam transparentes e honestos com Deus e com a Igreja, mas nós devemos sê-lo antes”, ao invés de continuar mostrando “um clero que recebe privilégios, proteção, poder”. Muitos jovens durante o Sínodo falaram claramente a respeito disso.
Uma das respostas concretas foi a decisão do Papa de convocar, para o mês de fevereiro de 2019, os presidentes das Conferências Episcopais do mundo com o objetivo de discutir sobre a crise dos abusos. Como a Igreja pode encontrar soluções para um problema das dimensões que têm os abusos? Cupich concluiu: “Tenho confiança de que o Papa não nos deixará ir embora sem ter chegado a um resultado”.
Além da homossexualidade e dos abusos, os padres sinodais também se preocupam com o destino de todos os migrantes que fogem da pobreza, das guerras, do desemprego, do alistamento forçado de menores, de “líderes e governantes que recorrem facilmente à guerra para resolver os conflitos”. Situações cujo preço “é pago pelas gerações que ainda não nasceram”, afirmou Ribat. “Pediram-nos para dar voz (uma voz de alto nível) a todos eles, para falarmos francamente contra as decisões que se tem tomado hoje, mas que põem em risco seu futuro”.
Muitos padres sinodais estão de acordo que “deveria existir um direito reconhecido para as pessoas que não queiram se mudar, separar-se de suas raízes, acabando perdidos em terras e culturas diferentes das próprias”, disse Cupich. “Muitos – expressou Ribat – se encontram perdidos em meio ao nada e talvez morrem. Pode-se fazer algo por elas? Isto toca no tema da pobreza, e é preciso ajudar os jovens a não deixar seus países, mediante o trabalho e a disponibilidade de recursos e possibilidades para decidir".
Ao começar a coletiva de imprensa, o prefeito do Dicastério para a comunicação, Paolo Ruffini, anunciou que na terça-feira, dia 23 de outubro, será apresentado o projeto do documento final, que depois será discutido na assembleia geral pelos padres que poderão apresentar os chamados “modos”, com o objetivo de modificar ou integrar o texto. Além da comissão para o documento final, também está trabalhando a comissão que se encarrega da redação da “Carta aos jovens” que será publicada na semana que vem e que representa a verdadeira novidade deste Sínodo.
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Sínodo; homossexuais e migrantes; Cupich: queremos nos dirigir a todos de maneira inclusiva - Instituto Humanitas Unisinos - IHU