03 Outubro 2016
O Papa Francisco disse que os católicos devem discernir caso a caso situações difíceis de moral sexual, mesmo quando for na presença de uma pessoa que está considerando, ou que já fez, a cirurgia de mudança de sexo.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 02-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em uma coletiva de imprensa a bordo do voo que o trouxe de volta a Roma no dia 2 de outubro, após a visita de um fim de semana que fez à Geórgia e ao Azerbaijão, o papa disse que “devemos tomar as coisas como elas se apresentam” e tirar um tempo para acompanhar e discernir individualmente as várias situações que as pessoas enfrentam.
Francisco lembrou de um encontro que ele teve no Vaticano ano passado com um transexual espanhol que lhe havia escrito para descrever o seu próprio caso, pedindo por um encontro no Vaticano.
“Era uma jovem que sofreu muito porque se sentia como um homem”, explicou o papa. “Ela se sentia como um jovem, mas fisicamente era uma mulher”.
Esta mulher, disse Francisco, se submeteu a uma cirurgia de mudança de sexo e, depois, se casou com uma mulher. “Me escreveu uma carta dizendo que, para ele, seria um consolo vir [me ver] com sua esposa”, disse o papa, esclarecendo: “Ele que era ela mas é ele”.
O pontífice disse que, durante o encontro, o transexual falou de sua experiência paroquial na Espanha, onde um jovem padre havia recentemente substituído o antigo pastor, quem completara 80 anos.
“Quando o novo padre o via, gritava da calçada: ‘Você vai para o Inferno’”, disse Francisco. “Mas quando o velho pastor o encontrava, costumava perguntar: ‘Quanto tempo faz desde a última vez que se confessou? Venha e se confesse. Assim vai poder participar da Comunhão’”.
“Entendem?”, perguntou o papa aos jornalistas a bordo do voo. “A vida é a vida e devemos tomar as coisas como elas se apresentam”.
“Devemos ser atenciosos, não dizer que são todos a mesma coisa”, continuou. “Em cada caso: acolham, acompanhem, estudem, discernindo e integrando”.
“Isso é o que Jesus faria hoje”, disse o papa.
Francisco falou sobre as pessoas transexuais em uma resposta à pergunta de um jornalista sobre as críticas frequentes que ele tece ao que chama de “teoria de gênero”. Num encontro com os católicos na Geórgia sábado de noite, o pontífice considerou a teoria de gênero como uma “grande inimiga” do matrimônio.
Durante a coletiva de imprensa, o jornalista perguntou o que o papa diria a alguém que tivesse lutado durante anos contra sua sexualidade e que sentia que a aparência física tem não corresponde com a sua identidade sexual.
Francisco primeiro respondeu revelando que como padre, bispo e “até mesmo como papa”, ele vem acompanhando pessoas homossexuais na tentativa de ajudá-las a chegarem mais perto de Deus.
“Tenho acompanhado pessoas com tendências homoafetivas e também com práticas homossexuais”, disse o pontífice. “Tenho acompanhado estas pessoas, ajudado elas a se aproximarem do Senhor; algumas não conseguiram, mas eu as acompanhei e junca abandonei ninguém”.
“As pessoas devem ser acompanhadas, como Jesus acompanhou”, continuou. “Quando uma pessoa que está nesta situação vem diante de Jesus, Jesus não vai dizer: ‘Vá embora porque você é homossexual’”.
Ao continuar explicando a sua visão sobre a assim-chamada teoria de gênero, o pontífice traçou uma distinção entre o que chamou de “indoutrinação” dos jovens e o acompanhamento das pessoas em situações pastorais.
Francisco recordou uma conversa que teve com um pai francês cujo filho de dez anos tinha dito que queria ser uma menina quando crescer.
“Nos livros escolares dela estava sendo ensinada a teoria de gênero”, disse o papa. “Isso é contra as coisas naturais”.
“Uma coisa é alguém que tem essa tendência (...) e que também muda de sexo”, continuou. “Outra coisa é ensinar essas coisas na escola. Mudar a mentalidade: eu chamo isso de colonização ideológica”.
Francisco também falou na coletiva de imprensa sobre as eleições americanas deste ano e os planos de viagem para 2017. Deu também algumas pistas de quando pretende criar mais cardeais para a Igreja Católica.
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Francisco: Moral sexual é determinada caso a caso, inclusive com os transexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU