14 Outubro 2018
Recentemente, perguntei a um renomado liturgista a respeito das instruções do Missal Romano sobre ajoelhar-se durante a liturgia e aprendi duas lições. Primeiro, nos Estados Unidos, nossos bispos determinaram que os fiéis se ajoelhassem a partir do fim do canto ou recitação do Santo até depois do Amém da oração da eucaristia. Segundo, em outras partes do mundo, os fiéis se levantam e permanecem de pé após a aclamação memorial.
O artigo é de James Keenan, S.J., teólogo moral, fundador da Catholic Theological Ethics in the World Church, e professor e diretor do Instituto Jesuíta do Boston College, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 12-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Eu estava pensando nisso quando lia, no NCR, que o Papa Francisco convocou todos os presidentes das várias conferências de bispos católicos do mundo para irem a Roma para uma reunião sobre o abuso sexual clerical, na primeira convocação global desse tipo feita por um pontífice. O tema da reunião, que será realizada de 21 a 24 de fevereiro, é a “proteção de menores”.
Como nossa própria conferência episcopal se prepara para ir a essa reunião, eu estava tentando encontrar algum sinal tangível de esperança que pudéssemos expressar em oração como povo de Deus. Fiquei pensando em como o restante da Igreja universal levanta após a aclamação do memorial e permanece de pé em oração.
Não deveríamos nos levantar também?
O que aconteceria se, por todos o EUA, os católicos levantassem e ficassem erguidos em seus lugares depois de recitarem ou cantarem a aclamação memorial, assim como o resto da Igreja Católica Romana faz?
Essa iniciativa simples poderia ser uma expressão tangível de esperança e de expectativa que nosso clero e, particularmente, nossa hierarquia entendam que devem desenvolver junto dos leigos reformas reais e concretas que visem a transparência em relação à proteção de menores.
É claro que não estou pensando em reformas só de fachada, mas em verdadeiras - como desmantelar as culturas clericais e patriarcais da Igreja, criando um espaço mais amplo para a liderança leiga, particularmente de liderança feminina, bem como desenvolvendo estruturas de prestação de contas e governança de nossas dioceses que sejam mais como os conselhos laicos de nossas faculdades e hospitais católicos.
Essas e outras reformas são como nós, enquanto Igreja, leigos e bispos, precisamos proceder. É por isso que nos levantaríamos e permaneceríamos de pé com esperança. No entanto, essa proposta de levantar e permanecer de pé é um primeiro passo e, como tal, é modesta.
Não estou sugerindo que permaneçamos de pé durante a consagração; estou apenas sugerindo que sigamos o Missal Romano como se instrui a todos os outros, em todos os lugares da Igreja. Não estou sugerindo nada fora da prática da Igreja universal. Afinal, a última coisa que queremos é relançar uma guerra cultural distrativa sobre a liturgia.
Penso que, ao andarmos de encontro à prática do Missal Romano da mesma forma como é instruída nos outros lugares, poderíamos fornecer o tempo, o lugar e a postura para expressar nossa determinação esperançosa de que, enquanto Igreja, nossos menores nunca mais estarão em risco. A Eucaristia não é justamente o lugar onde encontramos os fundamentos de nossa esperança como povo de Deus?
Também não estou propondo um protesto, mas sim uma expressão confiante e cheia de esperança, congruente com a Eucaristia, que queremos expressar de maneira tangível aos nossos padres e aos nossos bispos que devemos avançar com responsabilidade e que, sem nenhuma dúvida, estamos falando sério.
Em suma, estamos nos levantando simbolicamente na esperança de uma Igreja que incorpore mais intimamente aquilo que o Senhor ressurreto nos convida a ser.
John Baldovin escreve na introdução do importante livro The Postures of the Assembly During the Eucharistic Prayer (As Posturas da Assembleia Durante a Oração Eucarística, em tradução livre) que “seria uma pena se permanecer de pé durante a oração eucarística fosse introduzido sem dar às pessoas os meios para tornar isso um ato reverente de oração”.
Baldovin oferece algumas sugestões, entre elas ficar de pé “com as mãos juntas no gesto mais moderno da oração”. Eu gostaria de ajustar a sugestão de Baldovin e acrescentar que devemos nos erguer e ficar de pé, não abatidos ou escorados no banco à nossa frente, mas evidentemente eretos, na vertical, como se estivéssemos entre os eleitos que estão sendo perguntados se estão prontos e dispostos. Acho que essa maneira de ficar de pé poderia transmitir claramente nossa esperança.
Finalmente, pensando em se erguer e permanecer de pé, me lembro deste poema de E. E. Cummings, “I am a little church” (“sou uma pequena igreja”), no qual ele oferece estas linhas como conclusão:
Winter by spring, i lift my diminutive spire to
Merciful Him Whose only now is forever:
Standing erect in the deathless truth of His presence
(Welcoming humbly His light and proudly His darkness)
[De inverno a primavera, ergo a minha espiral diminuta para
O misericordioso Ele Cujo único agora é para sempre:
Permanecendo ereto na verdade imortal da Sua Presença
Acolhendo humildemente a Sua luz e orgulhosamente as Suas trevas]
Enquanto as conferências episcopais de todo o mundo se preparam para o encontro com Francisco e enquanto continuamos a trabalhar para essa reforma tão necessária, comecemos no próximo domingo a nos levantar e permanecer dessa forma como testemunhas de nossa esperança.
Quando recitarmos ou cantarmos uma das aclamações memoriais, vamos nos levantar e deixar que toda a igreja saiba que, enquanto trabalhamos pela reforma da Igreja, trazemos nossa esperança para a Eucaristia, permanecendo eretos na verdade imortal de Sua presença.
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Que os católicos dos EUA se levantem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU