Jogo armado: Lula ocupa centro da cena numa corrida com 3 chapas da esquerda e 5 da direita

Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores, que lançou a candidatura do ex-presidente Lula à Presidência da República, no último sábado, dia 04-08-2018. | Foto: Paulo Pinto/ Fotos Públicas

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06 Agosto 2018

Está armado o jogo para a largada das eleições rumo ao primeiro turno em 7 de outubro.

O comentário é de Mauro Lopes, jornalista, publicado por Brasil 247, 06-08-2018.

Esquerda terá três chapas: PT com PC do B na vice (sendo Lula ou Haddad na cabeça da chapa e Manuela D’Ávila como vice), Ciro/Kátia Abreu e Boulos/Guajajara.

Direita com cinco chapas com alguma expressão: Bolsonaro/Mourão, Alckmin/Ana Amélia, Marina/Eduardo Jorge, Álvaro Dias/Rabello de Castro e Meirelles/Rigotto.

Uma marca importante dessas eleições: há apenas duas chapas com coligações mais amplas, exatamente as lideradas pelos dois partidos que hegemonizam a disputa política nacional desde 1990. Á direita, a de Alckmin, com o "centrão"; à esquerda, a de Lula, com o PT mais PC do B, PROS, PCO e o apoio informal da maior parte do PSB e dos segmentos progressistas do MDB. Ciro, Boulos, Bolsonaro, Marina, Álvaro Dias e Meirelles vão com chapas "puro sangue" ou quase isso, sem alianças ou apoios de expressão.

As seis caraterísticas mais relevantes do cenário:

1) Tudo gira em torno de Lula; sendo candidato ou impugnado pelas elites, as eleições acontecem ao redor dele, como maior líder político da história do país. Se for candidato, liquidará a fatura no primeiro turno. Se não for, deverá conduzir o "candidato do Lula" (Haddad) ao segundo turno, conforme indicam as pesquisas e a experiência histórica com Getúlio-Dutra (leia aqui).

2) O campo da direita tem sua dinâmica pautada pelas composições direita/extrema-direita, com Bolsonaro/Mourão, Alckmin/Ana Amélia e Álvaro Dias/Rabello de Castro; a única candidatura que poderia significar algo próximo da centro-direita, a de Marina, parece condenada à irrelevância. Neste campo há ainda a chapa-laranja de Meirelles/Rigotto, cuja missão é tentar engambelar o eleitorado ao ocupar o espaço da "candidatura do governo" para livrar Alckmin, o verdadeiro candidato do golpe, do beijo da morte de Temer. Não deixa de ser irônico um ex-banqueiro (Meirelles) fazer papel de laranja. Não existe centro ou centro-direita nesta eleição.

3) O campo da esquerda caminhará, ainda que entre tapas e beijos, sob a liderança inconteste de Lula, sendo ele candidato ou apontando quem será "o candidato do Lula" se for ao fim e ao cabo interditado pelo golpe. O nome escolhido é Fernando Haddad. Ciro fez um cálculo que o condenou a um isolamento que parecia impossível meses atrás: apostou que Lula estava liquidado e que ele receberia a herança do eleitorado lulista. Errou feio e está restrito a uma aliança entre o PDT e o quase inexistente Avante. Boulos correrá em faixa própria, à margem da disputa eleitoral efetiva e buscando projetar-se como uma liderança para o futuro -num projeto mais pessoal que partidário.

O PT caminhará com o PC do B, PCO, PROS, a fatia mais relevante do PSB, com o segmento progressista do PMDB e com o apoio de cabos eleitorais de todos os partidos, especialmente no Nordeste, onde Lula é quase um consenso. Se for Lula o candidato, haverá uma avalanche de apoios. Se for seu candidato, será preciso esperar pelas pesquisas. Caso a tendência de um alto grau de transferência se confirme, uma avalanche semelhante acontecerá. Haverá uma disputa no campo da esquerda com Ciro Gomes; mesmo isolado ele tentará impor-se como o nome mais viável caso Lula não concorra.

4) À esquerda e à direita deverá haver uma convergência de votos no primeiro turno, caso estabeleçam-se favoritismos claros nas rodadas de pesquisas, como é usual nas disputas eleitorais. Se, por exemplo, Bolsonaro consolidar-se e crescer um pouco, Alckmin poderá derreter de vez antes de 7 de outubro -o contrário, menos provável, é também possível. Se Lula for candidato, os rios correrão todos para o mar. Se for "o candidato do Lula" (Haddad) e ele confirmar as taxas de transferência de votos que as pesquisas indicam, é possível que Ciro seja abandonado pelo PDT no percurso, com os candidatos a governador e ao Legislativo cuidando de sua sobrevivência política.

5) Especula-se aqui e ali sobre o desastres que significaria Alckmin e Bolsonaro no segundo turno. Parece, ao menos neste momento, uma especulação tão despropositada como imaginar um segundo turno entre Lula ou seu candidato e Ciro. A eleição está polarizada entre o governo e a oposição, direita e esquerda. O polo governo não tem chance na eleição; a polarização acontece então entre duas oposições, a de esquerda e a de direita. Há duas vagas no segundo turno, se ele acontecer. Os votos de cada campo devem garantir um candidato de esquerda e outro de direita.

As chances apontam, se Lula estiver fora da disputa, para Bolsonaro ou Alckmin pela direita e Hadadd ou Ciro pela esquerda. Bolsonaro larga com favoritismo, mas sua presença no pleito é tão inusitada que tudo pode acontecer. No campo da esquerda, com o apoio de Lula, Haddad é amplamente favorito.

6) Lula, percebendo o espaço aberto no centro político, com o ambiente polarizado entre direita/extrema-direita e esquerda, lançou o nome de Haddad como "candidato do Lula" caso seja de fato impugnado. Uma manobra inteligente. Visto como um petista "moderado", Haddad poderá aglutinar o centro órfão de alternativas à direita, uma fatia eleitoral que se sentiu representada em algum momento pelo PSDB mas não aprova a trajetória golpista do partido e menos ainda o movimento rumo à extrema direita com Ana Amélia, a Marine Le Pen brasileira, como vice de Alckmin. O nome de Lula atrai o eleitorado de esquerda; o de Haddad pode ajudar a compor uma saída de conciliação que supere o ódio e a violência política dos últimos anos.

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