17 Julho 2018
Foi dado início na Diocese de Roma de uma causa para a beatificação do pe. Pedro Arrupe SJ, antigo Superior Geral da Companhia de Jesus. O padre, que atuou como um mentor para o futuro Papa Francisco, era uma figura controversa dentro da Companhia.
Foto de arquivo sem data, Jorge Mario Bergoglio (E) celebra a missa com o Superior Geral dos Jesuítas, Pedro Arrupe. (Foto: Cúria Geral dos jesuítas)
A reportagem é de Elise Harris, publicada por Catholic Agency News, 13-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
O Superior Geral dos Jesuítas, pe. Arturo Sosa anunciou a abertura do processo de Arrupe numa reunião em Bilbau, Espanha, com cerca de 300 jesuítas e associados leigos envolvidos com a Associação Internacional de Universidades Jesuítas.
O diretor de comunicações para a Cúria Jesuíta em Roma, pe. Patrick Mulemi confirmou a notícia ao CNA. Ele disse que a causa foi realmente "aberta", mas está apenas iniciando. "Estamos no início do processo", disse ele, explicando que os jesuítas seguirão o protocolo como em qualquer outra causa.
Nascido na Espanha, em 1907, Arrupe serviu como Superior Geral da Companhia de Jesus entre 1965-1983, conduzindo a ordem na sequência do Concílio Vaticano II. Durante esse tempo, também serviu três mandatos consecutivos como presidente da União dos Religiosos Superiores Gerais, de 1967-1982.
De acordo com o biógrafo papal Austen Ivereigh, que escreveu a biografia amplamente lida do Papa Francisco, Arrupe e o então padre Bergoglio "tinham uma relação muito boa e próxima, e Bergoglio o vê como um pai espiritual, o admirava muito e foi inspirado por ele."
Foi Arrupe que nomeou Bergoglio Provincial Jesuíta da Argentina em 1973, e os dois permaneceram próximos. Os dois fizeram uma visita conjunta à Diocese de La Rioja, para apoiar o bispo Enrique Ángel Angelelli Carletti, que foi assassinado em 1976, durante a guerra suja na Argentina.
Arrupe entrou na Companhia de Jesus em 1927 depois de estudar medicina. Depois que a ordem foi expulsa da Espanha em 1932, foi estudar na Bélgica, Holanda e Estados Unidos como parte de sua formação antes de ser ordenado padre.
Ele foi ordenado em 1936 e obteve licenciatura em ética médica antes de ser enviado ao Japão em 1938 para trabalhar como missionário. No exterior, se tornou mestre de noviços do noviciado jesuíta no Japão e vivia em Hiroshima quando os EUA jogou a bomba atômica no dia 6 de agosto de 1945.
Em função de seu antecedente com a medicina, o jovem padre transformou o noviciado num hospital improvisado para os feridos da bomba. Uma década mais tarde, em 1958, ele foi nomeado o primeiro provincial para o Japão, supervisionando todos os jesuítas que viviam no país.
Arrupe ocupou o cargo até maio de 1965, quando foi eleito Superior Geral dos jesuítas durante 31º Congregação Geral da Companhia de Jesus, apenas seis meses antes do encerramento do Concílio Vaticano II.
Após a reunião, os jesuítas, que eram a maior ordem religiosa do mundo na época, mudaram o foco e abraçaram uma abordagem com ênfase na justiça social ao seu trabalho apostólico, sob a direção de Arrupe.
Durante a 32ª congregação geral da ordem, Arrupe passou uma série de novos decretos, incluindo um intitulado: "Nossa missão hoje: O serviço de fé e a promoção de Justiça", fortemente focado em questões de justiça social, e se tornou um modelo para a direção da Companhia.
Pe. Pedro Arrupe (Foto: Jesuítas Provincia Argentino-Uruguaya)
As mudanças de Arrupe se confrontaram com a oposição de muitos jesuítas, e sob sua liderança, a ordem bateu de frente com o Papa Paulo VI e outras figuras do Vaticano.
Em 1973, o Papa Paulo VI emitiu um aviso a Arrupe sobre as ‘experimentações’ na Companhia de Jesus. Seis anos mais tarde, Papa João Paulo II acusou a liderança jesuíta de "causar confusão entre o povo cristão e ansiedades para a Igreja e também pessoalmente ao Papa", criticando em particular "tendências secularizantes" e "doutrinação não ortodoxa" dentro a ordem.
Arrupe reconheceu problemas dentro da Companhia de Jesus e fez esforços para repreender alguns sacerdotes acusados de distorções doutrinárias. Alguns na ordem questionaram se ele deveria ter feito mudanças sistêmicas em resposta às críticas do Papa ao invés correções meramente individuais.
Dentro da Companhia de Jesus, um dos grupos que se opuseram às mudanças de Arrupe se chamavam "la vera sociedad", ou "a verdadeira Companhia", e estavam à beira de se separarem da ordem, planejando intervir na Congregação Geral de 1974, até que Bergoglio entrou em cena, a pedido do Arrupe, para acalmar a fúria.
Arrupe, Ivereigh disse, "tinha [Bergoglio] em alta estima, confiava nele."
Sobre o futuro Papa, Ivereigh disse que Bergoglio "inquestionavelmente" foi influenciado pela liderança de Arrupe e frequentemente citava seu antigo Superior Geral em discursos.
"Arrupe era algo como um modelo para Francisco", disse o biógrafo, explicando que as principais semelhanças entre os dois eram não só uma preocupação compartilhada para com os pobres, mas também a abordagem em relação à modernidade, acreditando que o que era necessário era "um compromisso" entre a fé e o mundo moderno.
"Não para rejeitar a modernidade, mas para discernir o que era bom, o que não era, e o que ameaçava o Evangelho. Acho que foi uma grande coisa por parte de Arrupe ter um diálogo com o mundo moderno ao invés de se confrontar constantemente com ele", disse Ivereigh.
Depois de sofrer um acidente vascular cerebral em 1981, Arrupe renunciou ao cargo de Superior Geral da ordem e recomendou o jesuíta americano Vincent O'Keefe para tomar seu lugar. No entanto, num movimento que alguns perceberam como uma repreensão, o Papa João Paulo II nomeou os jesuítas Paolo Dezza e Giuseppe Pittau para supervisionarem a Companhia até que fosse eleito um novo líder.
Durante a congregação geral de setembro de 1983, Pe. Peter-Hans Kolvenbach, S.J. foi eleito novo Superior Geral, cargo que ocupou até 2008, quando renunciou e foi sucedido pelo Pe. Adolfo Nicolas.
Arrupe morreu em 05 de fevereiro de 1991.
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Congregação para as Causas dos Santos inicia processo do jesuíta Pedro Arrupe, antigo mentor de Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU