Por: Jonas | 05 Fevereiro 2016
O escritor e jornalista Pedro Miguel Lamet proferiu uma conferência intitulada “Padre Arrupe à luz do papa Francisco”, no Centro de Pastoral Arrupe de Málaga.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 04-10-2014. A tradução é do Cepat.
Nota da IHU On-Line: Hoje, 05-02-2016, quando se celebra o 25º ano da morte do Padre Pedro Arrupe, traduzimos e reproduzimos uma série de artigos, sobre sua vida e seu testemunho.
Fonte: http://goo.gl/6ZPCX0 |
Pelo grande comparecimento de público, foi necessário habilitar o templo do Sagrado Coração, onde foi instalada uma grande tela para a apresentação da conferência, ilustrada com muitos esquemas e fotografias.
“Jorge Bergoglio, em minha opinião - afirmou o escritor -, precisou experimentar uma iluminação interior ou “ilustração”, provavelmente entre os dois conclaves, pela qual deve ter visto de maneira clara o estilo de papa que o nosso mundo necessita. Caso contrário, não se explicaria a diferença entre as fotos do cardeal, com gesto sério e mais sisudo, e a arrasadora imagem de alegria, otimismo e corajoso e arriscado compromisso que apresenta, hoje, como sucessor de Pedro. Não se deixa a lógica de São Pedro dessa maneira e se conta com esses gestos, caso não se pensou muito antes”. Durante sua conferência, o jesuíta tentou provar que muitas das atitudes do papa Francisco, estavam em germe na vida, governo e pensamento do padre Pedro Arrupe.
Lamet traçou um paralelo entre as duas figuras eclesiais, homens de Deus, com caminhos distintos e notáveis coincidências. Com origens, educação e processos bem diferentes, Arrupe filho de arquiteto de uma família burguesa em Bilbao, órfão muito jovem de pai e mãe. Bergoglio – nascido em 1936, ano em que Arrupe se ordena sacerdote – filho de imigrantes italianos, uma família simples em um bairro de Buenos Aires. O primeiro médico, o segundo químico, ambos entraram na Companhia de Jesus para viver o seguimento evangélico. Pedro logo experimentará o impacto da universalidade e inculturação, por ser expulso da Espanha, durante a República, e viver na Bélgica, Alemanha, Estados Unidos e Japão como brilhante missionário. Jorge circunscreverá sua pastoral a Argentina, mas com cargos que lhe catapultarão a longo prazo à Igreja Universal.
Os dois são provados. O basco-espanhol na encruzilhada da Segunda Guerra Mundial, acusado e encarcerado injustamente como “espião internacional” em Yamaguchi, e depois como testemunha de exceção da bomba atômica, durante seu período de mestre de noviços em Hiroshima.
Bergoglio, sucessivamente como provincial, bispo e cardeal-arcebispo de Buenos Aires, sofrerá os tempos obscuros da ditadura de Videla e a mudança de século. Os dois com uma personalidade forte, de vida austera e de oração vão assumir um compromisso com os marginalizados, os mais pobres e [enfrentarão] os grandes desafios do século passado: a injustiça, a perseguição, as mudanças pós-conciliares e a resposta evangélica a um tempo turbulento.
Lamet considera que, ainda que tenham partido da espiritualidade inaciana, empreenderam caminhos diferentes. “É certo que o padre Bergoglio, por sua forte liderança produziu uma marcada divisão na província argentina, já que aos jovens jesuítas apresentou um dilema: o compromisso com a justiça, que acarretava certo envolvimento político alinhado à Teologia da Libertação; e, por outro lado, a linha bergogliana, que então liderava uma opção pelos pobres das Vilas Miséria, mas em uma postura mais espiritualista ou mística, a partir do bondoso modelo de São Pedro Fabro. O atual papa Francisco se arrependeu publicamente daquela divisão criada”, disse o conferencista, que acrescentou que o padre Álvaro Restrepo, colombiano nomeado provincial da Argentina para solucionar o problema, esclareceu dizendo que “o argentino é muito afetivo e se apega mais a uma pessoa do que a uma ideologia”.
Arrupe, com a opção dos jesuítas pela justiça como consequência da fé, suas ideias sobre o apostolado racial, os colégios de ricos, os jovens, o eurocentrismo, a mulher na Igreja, o serviço aos refugiados e diálogo com todos, incluindo então o marxismo, foi acusado de secularizar a Companhia. Por isso, foi desautorizado por João Paulo II, hoje santo; e, padecendo um derrame cerebral, viveu de forma exemplar nove anos de santa marginalização e paciência. O próprio papa Wojtyla o reconheceu assim, visitando-o três vezes.
Já naquele momento, personalidades lúcidas com o cardeal Tarancón, disseram que era “um profeta que se adiantou a seu tempo” e que a Igreja “não estava preparada para compreendê-lo totalmente”. Pedro Miguel Lamet considera que chegou o momento no qual a profecia de Arrupe está se cumprindo. “As denúncias de Francisco contra as injustiças do poder do dinheiro, sua proximidade com os imigrantes e desempregados, a importância concedida à periferia, a descentralização da Igreja, suas tentativas de dar maior importância ao Povo de Deus e à mulher, sua rejeição a “meter o pau” e seu otimismo e alegria, já estavam de certo modo em Pedro Arrupe”. Este dizia: “Hoje, uns morrem de fome e outros de excesso de colesterol”. “Dizem que sou um otimista patológico, como não seria, se acredito em Deus?”. “Aquilo pelo qual você se apaixona muda a sua vida”. Ele, a partir de sua simpatia magnética e cativante simplicidade, já era a primavera na Igreja, mas desautorizado pelo papa que amava, e mártir incruento de suas ideias.
O conferencista concluiu sua intervenção com uma imagem eloquente: o papa Francisco acariciando por duas vezes a efígie de Arrupe, representada no baixo-relevo de sua sepultura da Igreja romana de Jesus. Outra prova desta nova hora que parece soar para Arrupe é o prólogo escrito pelo atual superior geral, Adolfo Nicolás, à nova edição da biografia atualizada de Lamet, “Pedro Arrupe, um testemunho do século XX, um profeta para o século XXI”, relançada recentemente, onde se afirma que “Arrupe era um profeta e continha vigente”.
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“Arrupe à luz do papa Francisco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU