04 Julho 2018
Novo presidente mexicano eleito no domingo, Andrés Manuel López Obrador, é um candidato de esquerda. Ele disputou como anti-establishment em uma plataforma populista, se comprometendo a combater a pobreza, a corrupção e a violência do tráfico de drogas.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 04-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
As credenciais não convencionais de Lopez Obrador se refletem no fato de que ele recebeu apoio explícito da ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, da ex-presidente argentina Cristina Kirchner, e do presidente da Venezuela investigado por corrupção, Nicolas Maduro.
Muitos observadores acreditam que Lopez perdeu na primeira vez que concorreu à presidência, em 2006, devido a uma campanha que o ligava ao líder venezuelano Hugo Chávez. Apesar das reticências explícitas, depois de saírem os resultados das eleições, a Igreja Católica no México expressou seus cumprimentos para López Obrador, também chamado de AMLO, salientando a necessidade de "colaborar de forma positiva com nossos oficiais eleitos."
Em um comunicado divulgado em 02 de julho, dia após a eleição, a Conferência Episcopal Mexicana sublinhou que a eleição foi "em geral, pacífica e ordenada".
Próximo da votação, os bispos pediram às pessoas para cumprirem com seu dever cívico e votarem "conscientemente" em quem eles viam como sendo a melhor escolha.
"Por trás que deste exercício de democracia está a dignidade e a liberdade de cada ser humano, chamado a participar na vida social", afirma o comunicado da Conferência. "Nós expressamos nossa gratidão para com os eleitos, bem como para com todos os cidadãos em geral. Com o governo e a sociedade trabalhando juntos podemos fazer grandes coisas."
Os bispos também advertiram que nenhum governante sozinho tem todas as ideias e soluções, e, portanto, é responsabilidade de todos os mexicanos continuarem a participar na vida cívica do país, garantindo o respeito dos direitos humanos e do bem comum.
Para superar a desigualdade, o egoísmo e o abuso, os bispos argumentaram que a educação, a luta em favor da verdade, da liberdade e contra a pobreza são fundamentais.
"Convocamos, sobretudo, os católicos que redobrem seu empenho para que o testemunho de nossa dedicação e generosidade ilumine a vida social com o evangelho da vida, da paz e da solidariedade", escreveram os bispos.
Além disso, vários bispos se manifestaram por conta própria. A maioria realçou a importância do número de pessoas que votaram no domingo.
Entre eles estava o cardeal Carlos Aguiar Retes, arcebispo da Cidade do México, que também parabenizou Claudia Sheinbaum Pardo, nova prefeita do Distrito Federal.
Nesta eleição, escreveu o cardeal, cidadãos votaram para governos nacionais e locais. "Agora cabe a todos nós colaborarmos com nossas autoridades para que a transformação desejada que a sociedade demanda possa acontecer; para que o país tome um sentido positivo e que pobreza pare de fazer sofrer o tecido social; para que o México atinja um nível ideal de desenvolvimento e que atos criminosos deixem de ser a marca da nossa pátria."
"Nenhum projeto nacional é possível sem a participação de todos, [porque] somente unidos poderemos fazer do México um forte país", escreveu Aguiar Retes.
Bispo Ramon Castro de Cuernavaca, no estado mexicano de Morelos, também divulgou um comunicado pedindo aos políticos "trabalharem para o bem do povo" independentemente de ter sido eleito ou não.
Uma fonte próxima à hierarquia mexicana disse que apesar dos desafios apresentados por algumas perspectivas políticas do novo presidente, "tem a esperança de que será uma mudança positiva."
Uma das coisas sublinhadas como ponto positivo é que o gabinete de AMLO tem mais mulheres do que homens, uma coisa incomum na política do México.
Os meses que antecederam as eleições foram extremamente violentos para os políticos: cerca de 130 foram mortos durante a campanha, com mais de 40 deles sendo candidatos, ou pessoas que estavam pensando em se candidatar. Assume-se que a maioria deles foi assassinada pelo crime organizado.
No seu discurso após a vitória ser anunciada, López Obrador disse que quer lutar contra a corrupção. Também disse que vai ficar de olho em seu próprio governo e em sua família, porque "um bom juiz começa a partir de sua casa."
Ele também prometeu que o setor de negócios terá liberdade de ação e que também haverá "liberdade de expressão e de crença, e que as liberdades individuais e sociais serão garantidas", assim como os outros direitos previstos em nossa Constituição.
AMLO concorreu como líder de uma coligação de partidos de esquerda. Em maio, houve uma controvérsia sobre uma série de folhetos que alegadamente foram apoiados pelo partido Morena, da coligação, em que a Igreja Católica foi acusada de ser uma "máfia de poder", e a famosa Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira do México e das Américas, foi reduzida a uma "história".
Lopez abordou o escândalo afirmando que ele dizia respeito a sua coligação na medida em que o movimento que está formando é inclusivo e respeita a liberdade de todos, incluindo aqueles que veneram a Virgem de Guadalupe.
"No meu caso, me ajoelho onde o povo se ajoelhar. Eu respeito a religião do povo", disse.
Seguindo a norma, muitos bispos felicitaram AMLO. Durante a campanha não havia nenhum apoio explícito a favor de um ou outro candidato, pois entre as acusações de corrupção e as contestações ao ensino moral da Igreja Católica, nenhum deles encarna o que a Igreja esperava.
Por este motivo, os bispos mexicanos tinham estabelecido pedir aos eleitores católicos para olhar para a "possibilidade do bem" dentro do contexto.
Diversos observadores locais têm apontado que a razão pela qual muitos eleitores votaram em AMLO, o candidato "anti-establishment", foi por causa da violência fora de controle e da corrupção que tomou conta no México.
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México. Apesar das dúvidas, bispos se dispõem a colaborar com López Obrador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU