11 Junho 2018
O cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que também ficou surpreso com a carta da Congregação para a Doutrina da Fé, propõe uma solução para essa discussão em curso, que ele define como inútil, em artigo publicado por katholisch.de, 07-06- 2018, e reproduzido por Settimana News, 10-06-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
A carta do Prefeito da Congregação romana para a Doutrina da Fé ao presidente da Conferência Episcopal, Reinhard Marx, sobre a questão da comunhão aos cônjuges casados não católicos suscitou em muitos, e também em mim, algumas perguntas para as quais eu - como alguém estranho - não posso responder, mas apenas os responsáveis podem fazê-lo.
Irrita-me o fato que essa carta endereçada, especificamente, a uma pessoa, antes de chegar ao interessado tenha sido vazada justamente para aquela mídia comumente conhecida pela posição crítica em relação ao papa Francisco.
Esse fato é uma continuação da cadeia dos Vatileaks e uma falta de lealdade por parte de alguns funcionários da Cúria através dos quais foram infligidos danos não só à autoridade dos bispos alemães, mas também àquela da cúria e do papa, assim como à imagem da Igreja em geral, além de semear confusão entre os fiéis. Esperamos que os responsáveis sejam responsabilizados e tenham que pagar pelas consequências.
Surpreendeu-me também que, mesmo aqueles que deveriam ser melhor informados, afirmem que a comunhão dos cristãos e não-católicos seja por princípio excluída ou deva ser pelo menos esclarecida antes pela Igreja Universal. O correto é dizer: a possibilidade ao nível da Igreja universal foi expressamente aprovada há muito tempo pelo Concílio Vaticano II e pelo Código vigente, no sentido de uma norma para cada caso individual e posteriormente esclarecida, em sentido positivo, por duas encíclicas do Papa João Paulo II.
Nesses textos é expressamente estabelecido que, no caso individual, quem deve decidir é o bispo diocesano ou a Conferência episcopal. Não se trata, portanto, como foi várias vezes sugerido, de uma solução específica alemã ou de um sistema eclesial próprio alemão.
O fato de que não tenha sido possível, por essa base eclesial universal e, nesse quadro, uma solução consensual da Conferência dos bispos alemães é ainda mais surpreendente porque na Alemanha - e não apenas em Mônaco, mas também em Colônia e em outras dioceses - já está difundida de facto a prática segundo a qual os cônjuges não-católicos, seriamente cristãos, recebem a comunhão sem que por parte dos bispos, já informados quanto a essa prática, tenha havido até agora qualquer clara objeção.
Foi bom que a Conferência Episcopal alemã tenha procurado liberar essa prática de facto da névoa do ilícito, do semi-ilícito ou do apenas tolerado. Como se trata de decidir sobre casos individuais, não cabe considerar uma permissão geral ou uma norma comum, mas critérios para a decisão pessoal de consciência e para o debate pastoral.
Esses critérios são claramente indicados por João Paulo II. Os interessados devem pedir livremente e ser guiados por uma necessidade interior. Portanto, nenhum proselitismo ou pressão de grupo do tipo, por exemplo, que pode ser embaraçoso ficar sentado sozinho no banco.
Em segundo lugar, eles devem compartilhar a fé católica sobre a eucaristia, certamente não em todos os detalhes teológicos, mas como é professada por um católico "normal" moderadamente instruído. Esta não é uma condição arbitrária; pelo contrário, é a convicção comum dos católicos e dos protestantes, segundo a qual os sacramentos são, por natureza, também sacramentos da fé e que só na fé podem ser recebidos dignamente e com frutos. O apóstolo Paulo já nos exorta a examinar a nós mesmos e a distinguir o corpo do Senhor dos outros alimentos; porque quem come e bebe sem reconhecer o corpo do Senhor, come e bebe sua própria condenação (1 Cor 11: 27-29).
É evidente que essa exortação a examinar a si mesmos também se aplica aos cristãos católicos. Mas o que acontece com os cristãos evangélicos que honestamente não podem conhecer a fé eucarística católica? Eles também podem apresentar-se e - como já vi regularmente em países escandinavos e anglo-saxônicos - colocar a mão direita sobre o coração e pedir a bênção dessa forma. Depois eles participam da Eucaristia da maneira que lhe é possível. Infelizmente, esse belo costume é até agora pouco conhecido e pouco usado entre nós. Não discrimina ninguém e deixa a cada um a liberdade de uma livre decisão em consciência.
Seria incompreensível para qualquer pessoa razoável não encontrar logo uma solução unânime que tenha condições de colocar um fim na atual indescritível discussão.
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"Uma controvérsia inútil". Artigo de Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU