25 Mai 2018
Tomar distância das riquezas, porque elas nos foram oferecidas por Deus para que sejam doadas aos outros. Esse é o significado das palavras do Papa na missa da manhã desta quita-feira na Casa Santa Marta, em intenção de Maria Auxiliadora, que Francisco dedicou ao "nobre povo chinês", pois em Xangai - ele lembra - comemora-se Nossa Senhora de Sheshan, Maria Auxiliadora.
A informação é de Giada Aquilino, publicada por Vatican News, 24-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa se inspirou da Primeira Leitura, tirada da Carta de São Tiago Apóstolo, em que se evidencia como o salário não pago aos trabalhadores clama e os protestos chegaram aos ouvidos do Senhor, o Papa repetiu o que foi dito pelo apóstolo aos ricos, sem usar "meias-palavras" dizendo as coisas "com força". Ele recordou as riquezas "apodrecidas". E, lembrou que Jesus também foi contundente:
"Ai de vós, os ricos!", é o primeiro discurso após as Bem-aventuranças na versão de Lucas. "Ai de vós ricos!" Se alguém hoje proferisse um sermão assim, do dia seguinte os jornais iriam dizer: "Esse padre é comunista!". Mas a pobreza está no cerne do Evangelho. A pregação sobre a pobreza está no centro da pregação de Jesus: "Bem-aventurados os pobres" é a primeira das Bem-aventuranças: E a cédula de identidade, a carteira identitária com que se apresenta Jesus quando retorna à sua aldeia, em Nazaré, na sinagoga é: "O Espírito está sobre mim, fui enviado para anunciar o Evangelho, a Boa Nova aos pobres, o alegre anúncio aos pobres." Mas sempre tivemos ao longo da história essa fraqueza de tentar remover essa pregação sobre a pobreza acreditando que se trata de algo social, político. Não! É Evangelho puro, é Evangelho puro.
Francisco convidou a refletir sobre o porquê de uma “pregação assim tão dura”. A razão está no fato de que “as riquezas são uma idolatria”, são capazes de “sedução”. O próprio Jesus, explicou o Papa, disse que “não é possível servir a dois senhores: ou você serve a Deus ou serve às riquezas”: ele dá, portanto, “categoria de ‘senhor’ às riquezas, ou seja, - acrescenta o Papa - a riqueza “te pega e não te larga e vai contra o primeiro mandamento”, amar a Deus com todo o coração.
O Papa observou, a seguir, que as riquezas também vão "contra o segundo mandamento, porque eles destroem a relação harmoniosa entre nós homens", "arruínam a vida", "arruínam a alma". O Papa recordou a parábola do rico - que pensava na "boa vida", nas festas e nas roupas luxuosas – e o pobre Lázaro "que não tinha nada." As riquezas – ele reiterou - “nos afastam da harmonia com os irmãos, do amor ao próximo, nos tornam egoístas”. Tiago reivindica o salário dos trabalhadores que cultivaram a terra dos ricos e não foram pagos: “alguém poderia confundir o apóstolo Tiago com ‘um sindicalista’”, afirmou Francisco. E na verdade, acrescentou o Pontífice, é o apóstolo que “fala sob a inspiração do Espírito Santo”. Parece uma coisa dos nossos dias, ressalta o Papa: também aqui, na Itália, para salvar os grandes capitais as pessoas são deixadas sem trabalho. Vai contra o segundo mandamento e quem fizer isso: “Ai de vós!”. Não eu, Jesus. Ai de vocês que exploram as pessoas, que exploram o trabalho, que pagam por fora, que não pagam a contribuição previdenciária, que não dão férias. Ai de vós! Fazer “economias”, fraudar o que se deve pagar, fraudar os salários, é pecado, é pecado. “Não, padre, eu vou à missa todos os domingos e participo daquela associação católica e sou muito católico e faço a novena disso e daquilo…”. Mas você não paga? Essa injustiça é pecado mortal. Você não está nas graças de Deus. Não sou eu quem diz isso, é Jesus, é o apóstolo Tiago. Por isso as riquezas te afastam do segundo mandamento, do amor ao próximo.
As riquezas, portanto, têm uma capacidade que nos tornar “escravos”. Eis porque Francisco exorta a “fazer um pouco mais de oração e um pouco mais de penitência” não pelos pobres, mas pelos ricos.
Você não está livre diante das riquezas. Para ser livre diante das riquezas você deve tomar distância e rezar para o Senhor. Se o Senhor lhe deu riquezas é para distribuí-las aos outros, para fazer em seu nome muitas coisas boas para os outros. Mas as riquezas têm essa capacidade de nos seduzir e nós caímos nessa sedução, somos escravos das riquezas.
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A injustiça da exploração do trabalho é pecado mortal, atesta o papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU