09 Fevereiro 2018
"Enquanto os bancos e os rentistas auferem lucros sobre lucros, mais de 60 milhões de brasileiros adultos estão negativados por conta dos juros escorchantes cobrados pelo sistema financeiro", alerta Mauro Lopes, jornalista, em artigo publicado no blog Caminho Pra Casa, 08-02-2018.
2017 foi um dos piores anos da história para o povo brasileiro: mais de 12 milhões de desempregados, a volta do terror da fome, redução ou fim de programas sociais. Para os banqueiros e seus associados, os rentistas, foi uma festa de gala: o lucro dos três maiores bancos no ano passado foi de R$ 53,8 bilhões, mais de duas vezes o orçamento do Bolsa Família para 2018, de R$ 28,7 bilhões. Em cinco anos, o lucro dos bancos saltou nada menos que 127%.
Os banqueiros e rentistas gargalham, às custas do povo brasileiro. Enquanto 2017 passa à história como um dos piores anos para os mais pobres do país, o Itaú, Bradesco e Santander tiveram em 2017 um lucro de R$ 53,8 bilhões, 20% superior ao lucro do ano anterior. Isso ao mesmo tempo em que o Bolsa Família sofreu um corte de R$ 1 bilhão e seu orçamento, o primeiro em termos nominais em desde sua criação em 2003 e o salário mínimo foi estabelecido em R$ 954,00, retornando ao mesmo valor real de janeiro de 2015.
De um lado, um punhado de famílias brasileiras que controlam o Itaú e o Bradesco e espanholas que controlam o Santander, além deles, mais 121 mil sócios do Itaú e 321 mil do Bradesco - não some os dois números, pois milhares são sócios dos dois bancos. Esse grupo embolsou os quase R$ 54 bilhões. De outro, as 12,7 milhões de famílias participantes do Bolsa Família -que, de fato, beneficia nada menos que 21% da população do Brasil (cerca de 40% da população), assim como as 48 milhões de pessoas que têm seus ganhos referenciados no salário minimo.
A festança dos bancos e rentistas em 2017 foi tamanha que o Itaú, com lucro recorde de R$ 24,9 bi anunciou um inédito “superdividendo” para seus acionistas. Mas a voracidade do “mercado” (dos ricos, leia-se) não tem limite: mesmo o lucro de R$ 19 bilhões do Bradesco -11% maior que o de 2016 - não foi suficiente e as ações do banco caíram na Bolsa depois da divulgação dos resultados do banco. Explicação de uma das publicações porta-voz do “mercado”: o lucro ficou “um pouco abaixo do esperado” no último trimestre do ano. Para o período, os “investidores” (os ricos) esperavam lucro de R$ 4,87 bilhões; e ele foi só de R$ 4,86 bilhões!
Na Espanha, a presidenta do Santander, Ana Botín, da família controladora do banco, estava rindo à toa quando anunciou os resultados de 2017 numa entrevista coletiva há pouco mais de uma semana. Estava rindo porque o banco teve um lucro de R$ 25,8 bilhões de reais em todo mundo - mas, sobretudo, porque sua operação arrancou o coro dos brasileiros e garantiu que o país fosse o responsável por nada menos que 26% do lucro global do Santander. Sim, o Brasil é disparado o país de onde o Santander aufere mais lucro: a operação que aparece em segundo lugar é a do Reino Unido, com apenas 16% de participação no total da margem do banco dos Botín. No ano desastroso para o povo brasileiro, o Santander deu um salto de 42% em seus lucros no país.
A frase de Ana Botín no texto divulgado à imprensa é lapidar: “2017 foi, uma vez mais, um ano muito bom, e os resultados que anunciamos hoje mostram a fortaleza de nossa dimensão e diversificação. O Santander manteve sua posição como um dos bancos mais rentáveis e eficientes do mundo” - e isso só aconteceu por causa da operação brasileira.
Ano a ano, os lucros dos bancos crescem, numa curva brutal. Em 2013, os três grandes bancos privados lucraram R$ 23,7 bilhões; agora, R$ 53,8 bilhões – um salto de R$ 30,1 bilhões nada menos que 127%:
Enquanto os bancos e os rentistas auferem lucros sobre lucros, mais de 60 milhões de brasileiros adultos estão negativados por conta dos juros escorchantes cobrados pelo sistema financeiro, como apontou recentemente o economista Ladislau Dowbor, autor de A Era do Capital Improdutivo. Esta situação população endividada versus bancos com lucros escandalosos e controle sobre a política nacional gera, conforme Dowbor, um sentimento de impotência: “Perplexas e endividadas, as famílias vêm aparecer o seu ‘nome sujo’ na Serasa-Experian – aliás uma multinacional – caso não respeitem as regras do jogo. Na confusão das regras financeiras, contribuem para a concentração de riqueza e de poder através dos altos juros que pagam nos crediários e nos bancos, através dos juros surrealistas da dívida pública, e através das políticas ditas de ‘austeridade’ que as privam dos seus direitos.”
As mídias controladas por famílias profundamente imbricadas com o sistema financeiro asseguram que tudo isto é “normal”. Escreveu Dowbor: “Estas regras do jogo profundamente deformadas serão naturalmente apresentadas como fruto de um processo democrático e legítimo, pois está escrito na Constituição que todo o poder emana do povo.”
Mas não haverá democracia no país sem que esta concentração da renda nacional nas mãos dos banqueiros e dos rentistas seja posta abaixo.
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Bancos: lucro em 2017 foi maior que dois anos de Bolsa Família - Instituto Humanitas Unisinos - IHU