Os jesuítas, os índios e a escolha do Sínodo. Artigo de Alberto Melloni

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22 Janeiro 2018

A visita do papa ao Peru “tocou um nervo sensível para a história da Companhia de Jesus e do papado: o dos índios, aos quais é preciso reconhecer uma dignidade humana e crente”.

A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha.

O artigo foi publicado no jornal La Repubblica, 20-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Francisco nem sequer levou em consideração a sugestão daqueles que, no fim do conclave, lhe disseram que se chamasse Clemente XV, para ressarcir a Companhia dissolvida por Clemente XIV, em 1773.

No entanto, na visita dessa sexta-feira, 19, tocou um nervo sensível para a história da Companhia e do papado: o dos índios, aos quais é preciso reconhecer uma dignidade humana e crente.

Desde 1537, Paulo III defendeu o fato de eles serem ser “verdadeiros homens”: princípio negado pela ferocidade dos conquistadores e afirmado por dominicanos como Las Casas.

Desde então, os jesuítas, como Manuel da Nóbrega, estudante em Salamanca, ou José de Anchieta, estudante em Coimbra, foram protagonistas da conversão deles, posta também como freio às violências escravagistas.

Em torno do Rio Paraguai, os seus sucessores experimentaram as reduções sujeitas a Madri, que organizavam a vida e até a defesa armada dos Guarani. Uma experiência que se espalhou (os sítios de Chiquitos na Bolívia são patrimônio da Unesco) com o seu paternalismo solidário e o disciplinamento, poetizados por filmes como “Missão”, que narram a sua destruição em meados do século XVIII. Uma medida que fazia parte da disputa europeia sobre a Companhia de Jesus, primeiro banida e depois dissolvida entre incertezas e ambiguidades pelo Papa Ganganelli.

Os índios, sensor da relação com o poder colonial ou de classe, permaneceriam como uma pedra de toque do papado e da Companhia, até João Paulo II.

Em 1986, quando os bispos brasileiros levantaram o problema da exploração da “terra sagrada dos índios” amazônicos, a teologia da libertação contou com os seus mártires também jesuítas, e, em 1993, o primeiro encontro continental repropôs o problema da teologia dos índios (“theologia indorum” é expressão de Las Casas!).

Apenas um quarto de século antes que um papa latino-americano, com ideias que vêm também do padre indígena Eleazar López Hernández, reconheça o povo da Amazônia como povo e uma Igreja com uma subjetividade própria, até mesmo sinodal, da qual o “Francisco amazônico” se faz voz.

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