31 Outubro 2017
Um bom pastor tenta se aproximar dos fracos, dos marginalizados. É capaz de se comover e compadecer-se, além de ajudar. Por outro lado, quem segue o caminho do clericalismo não está próximo de pessoas reais e quer profundamente, senão apenas, poder ou dinheiro. O Papa Francisco afirmou em sua homilia na missa matutina do dia 30 de outubro de 2017, na capela da Casa Santa Marta.
A reportagem é de Domenico Agasso Jr., publicada por Vatican Insider, 30-10-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
O pontífice, de acordo com a Rádio Vaticana, comentou o episódio evangélico da cura de uma mulher que narrou o Evangelho de Lucas, proposto para ser a liturgia do dia. Francisco explicou que na sinagoga, em um sábado, Jesus conheceu uma mulher que não conseguia ficar com sua postura ereta. "Uma enfermidade da coluna vertebral - disse - que durante anos a deixava assim". Ao mesmo tempo recordou que o evangelista usa cinco verbos para descrever o que Jesus faz: "Ele a viu, chamou-a, falou-lhe, pousou as mãos sobre ela e a curou".
Cinco verbos de proximidade - destacou o Papa - porque "um bom pastor está sempre próximo". Na parábola do Bom Pastor, ele está perto daquela ovelha perdida, deixando as demais para ir encontrá-la. Não pode estar longe de seu povo. Em contrapartida o clero, os Doutores da Lei, os fariseus, os saduceus, os ilustres, viviam separados do povo, censurando-os constantemente. Estes não eram bons pastores - esclareceu -, pois estavam fechados em seus próprios grupos e não se interessavam pelo povo. "Talvez fosse importante para eles, quando terminavam o serviço religioso, ver quanto dinheiro havia nas oferendas". Mas não estavam próximos das pessoas.
Por outro lado, Jesus está perto, e sua proximidade vem do que ele sente em seu coração: "Jesus se comoveu", tal como se pôde ler em outra passagem do Evangelho.
"Por isso Jesus sempre esteve lá com as pessoas excluídas por aquele grupinho clerical: haviam pobres, doentes, pecadores, leprosos, e estavam todos lá, porque Jesus tinha essa capacidade de se comover diante da doença, pois era um bom pastor. Um bom pastor se aproxima e tem capacidade de se comover. E eu diria que a terceira característica de um bom pastor é não se envergonhar da carne, tocando a carne ferida, como Jesus fez com esta mulher: 'tocou', 'pousou suas mãos', tocou os leprosos, tocou os pecadores".
Um bom pastor - continuou o Papa - não diz: "Sim, está bem... Sim, sim, estou perto de ti em Espírito". Isto é distância. Mas ele faz "o que Deus Pai fez: aproximar-se, por compaixão, por misericórdia, da carne de seu Filho".
O grande pastor, o Pai, ensinou-nos como um bom pastor faz: humilhou-se, esvaziou-se, viu-se vazio, subjugou-se, assumiu a condição de servidão.
"Mas o que acontece com esses outros - aqueles que seguem o caminho do clericalismo - a quem se aproximam?". Sempre se aproximam do poder em vigor ou ao dinheiro. E são maus pastores. Eles só pensam em como escalar no poder, serem amigos do poder e negociam tudo ou pensam apenas em seus bolsos. Estes são os hipócritas, capazes de qualquer coisa. A essas pessoas não lhes importa o povo. E quando Jesus lhes dá aquele bonito adjetivo que utiliza frequentemente para eles - "hipócritas" -, eles se ofendem: "Mas não, não, nós seguimos a lei".
Quando o povo de Deus enxerga que os maus pastores são espancados, ficam felizes - recordou Francisco - e isso é um pecado, sim, embora eles tenham sofrido tanto que tentam se "aproveitar" um pouco desta situação. Mas o bom pastor - acrescentou - é Jesus que vê, chama, fala, toca e cura. É o Pai que se faz carne em Seu Filho, por compaixão.
"É uma graça para o povo de Deus ter bons pastores, como Jesus, que não têm vergonha de tocar a carne ferida, que sabem que - não só eles, mas também todos nós - seremos julgados: estive com fome, estive na cadeia, estive doente... Os critérios do protocolo final são os critérios da proximidade, os critérios desta proximidade total, para tocar, para compartilhar a situação do povo de Deus. Não esqueçamos isto: o bom pastor está sempre perto das pessoas, sempre, como Deus nosso Pai se fez próximo de nós, em Jesus Cristo que se fez carne".
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Papa: quem segue o caminho do clericalismo busca poder ou dinheiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU