29 Julho 2017
Santa Maria Madalena – cujo dia comemora-se em 22 de julho – foi a responsável por proclamar a novidade da alegria pascal aos apóstolos. Isso significa que ela foi a primeira pessoa a verdadeiramente proclamar a mensagem plena do Evangelho, uma vez que a salvação não estava completa até que Cristo tivesse ressuscitado dos mortos.
A entrevista é de Kathryn Jean Lopez, publicado por Crux, 22-07-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Celebramos o dia de Santa Maria Madalena em 22 de julho, uma dignidade litúrgica que o Papa Francisco tornou oficial no ano passado. Para explicar a sua significação, o Pe. Sean Davidson, dos Missionários da Santíssima Eucaristia, apresenta-a como um “verdadeiro modelo de adoração”, que “nos dá exemplos dos quatro pilares da oração eucarística”, que são a “adoração, a ação de graças, a reparação e a intercessão”. Em outras palavras, Maria nos mostra como viver uma vida católica mais verdadeira, mais orante. O religioso falou também de seu livro, intitulado “Saint Mary Magdalene: Prophetess of Eucharistic Love”.
O que há de especial em torno de Maria Madalena e o que há de tão significativo em ter, no calendário da Igreja, um dia oficial para lembrá-la?
Os cristãos sempre a veneraram de uma maneira muito fervorosa e, apesar dos debates que normalmente giram em torno de sua identidade, uma coisa pelo menos está clara: ela é “A Apóstola dos Apóstolos”, quer dizer, a primeira pessoa na história humana a proclamar a boa nova da Ressureição.
Maria Madalena foi a responsável por proclamar a novidade da alegria pascal aos apóstolos. Isso significa que ela foi a primeira pessoa a verdadeiramente proclamar a mensagem plena do Evangelho, uma vez que a salvação não estava completa até que Cristo tivesse ressuscitado dos mortos. Por esse motivo, é compreensível que o Papa Francisco tenha recentemente elevado a sua celebração litúrgica ao status de um dia de festa.
Todos os cristãos precisam destes elementos – adoração, ação de graças, reparação e intercessão – em suas vidas de oração? Como estas coisas podem transformas vidas?
Falei das quatro disposições que São Pedro Julião Eymard julgava necessárias para aquele que deseja adorar e servir o Senhor perfeitamente. A adoração é um dever de todos os seres humanos. Faz parte da virtude da justiça, uma dívida que temos com Aquele que nos criou por amor. O homem foi feito para a adoração. A adoração nos põe em relação certa tanto com Deus quanto com sua criação, trazendo à alma a paz que vem da ordem.
Se não adoramos o único Deus verdadeiro, inevitavelmente iremos adorar alguém ou algo mais, estejamos ou não plenamente cientes disso. Alguma criatura irá ascender ao trono que Deus ergueu em nossos corações somente para Ele. A adoração tem a ver essencialmente com submissão e amor diante do Altíssimo.
Visto que Jesus Cristo é divino e humano, Ele é digno de nossa total submissão, e do tipo de amor que oferecemos somente a Deus. Adorá-Lo nos liberta das garras dos ídolos do mundo. Nos textos evangélicos, Maria Madalena sempre tem, na presença de Cristo, estas disposições de adoração. Ela não só adora, mas a parábola de Cristo sobre o credor que soltou dois devedores mostra que ela é também repleta de gratidão por sua experiência de Misericórdia Divina (Lucas, 7,41-43).
Em diferentes passagens evangélicas, creio que também podemos vê-la marcando uma reparação e uma intercessão diante do Senhor. As palavras de intercessão que ela e Marta enviam a Jesus para informá-lo do irmão moribundo são magníficas: “Senhor, aquele a quem amas está doente” (João, 11,3). Eis uma bela forma de falar a Jesus sobre os nossos entes queridos que podem estar doentes em corpo, mente ou alma.
Todas as atitudes que admiramos em Maria Madalena se unem para formar a imagem de uma adoradora perfeita do mesmo Senhor que permanece conosco até o fim dos tempos no mistério da Eucaristia. A Santa Missa é o ato mais elevado de adoração na vida da Igreja, mas podemos prolongar esta graça por meio da Adoração Eucarística.
O Papa São João Paulo II, profundamente devoto ao Senhor Eucarístico, pedia, em sua encíclica final, que preenchêssemos a Igreja com o “enlevo eucarístico”. Estudar o coração de Madalena nos Evangelhos é estudar um coração cheio do santo enlevo perante o Senhor.
O senhor escreve que seu livro é “o fruto de muito tempo passado com Santa Maria Madalena diante do Santíssimo Sacramento...
Eu tive o privilégio de passar dois anos trabalhando na basílica francesa onde suas relíquias estão guardadas e são veneradas. Aí, eu usei alguns textos como base para o meu diálogo de amor com Cristo na Adoração Eucarística. Na companhia de Maria Madalena, esta adoração bíblica acendeu um fogo renovado de amor em meu coração. Madalena é uma mulher de fogo, a mestra de uma forma radical de amor.
Por meio de um amor fervoroso, um adorador deve tentar reparar e compensar a negligência com que Cristo é muitas vezes cercado. Quanto mais abundam este pecado e esta irreverência, mais o adorador deve tentar contrabalançar e superar o mal através do amor fiel. Onde a escuridão se impõe, a luz do amor por Deus deve emergir mais alto ainda.
Santa Maria Madalena me ensinou esta verdade. Se olharmos com atenção para o primeiro texto em que ela unge os pés de Cristo, acredito que a testemunharemos uma reparação ao Sagrado Coração de Jesus (Lucas 7,36-50). Como já mencionado, por algum motivo o fariseu não prestou a Jesus os sinais de respeito que são devidos a um convidado de honra. Ele não o abraçou à porta, não lavou seus pés, nem ungiu sua cabeça com óleo.
Em seguida, Madalena entra de repente e faz estas três coisas de um modo espetacular. Ela anulou um insulto a Cristo com o fervor do amor em seu coração apaixonado. É provável que não entendia plenamente ainda o grande mistério em que havia entrado, mas, simplesmente seguindo as inspirações de amor que brotavam em seu coração, a vontade de Deus se realizou e ela fez uma reparação digna à dignidade de Cristo.
Mais tarde, no momento da segunda unção, ficamos sabendo que Judas está roubando do Senhor, enquanto ela derrama, de uma só vez, uma enorme quantia de perfume, equivalente a um ano de salário, só para deixar Jesus sabendo que é amado (João 12,1-8). Enquanto via o fervor do amor puro dela, o Senhor pôde esquecer, por alguns instantes, a amargura causada em seu coração pelo traidor. O amor dos amigos de Cristo permitem-Lhe esquecer a traição dos que se fizeram inimigos.
Penso que meditar sobre todos estes textos bíblicos, e usá-los para ensinar os demais sobre a adoração, tem o poder de inflamar e transformar os corações. Foram estas as medicações que me convenceram de que a tradição está correta em sua interpretação dos textos bíblicos relativos a esta santa mulher de Deus.
Um padrão semelhante surge em todos estes escritos, padrão que aponta para o fato de que é uma mesma personalidade que está em evidência. Ela quase sempre está junto do seu perfume, quase sempre está aos pés de Cristo e quase sempre é incompreendida pelos outros, sendo defendida por Jesus. É a mulher que fez “algo bonito” por Cristo, reconhecimento que deve ser ensinado sempre que se for pregar o Evangelho (Mateus 26,10-13).
Da mesma forma como ela preencheu a casa de Betânia com a fragrância de nardo, simbólico pelo doce sacrifício de seu amor, penso que uma devoção renovada a Maria Madalena ajudará a preencher as nossas igrejas com um amor zeloso por Cristo em seu modo sacramental de presença. (João 12,3).
O senhor observa que podemos nos distrair durante a Sagrada Comunhão, deixando de “ouvir ao Senhor quando ele quer falar aos nossos corações”. Existe uma receita para desenvolver “um coração discernente (...) para penetrar por trás do véu eucarístico e ver que é verdadeiramente Jesus que estamos encontrando”?
Além de acreditar que a adoração aprofunda a nossa visão espiritual, estou cada vez mais convencido de que existe uma conexão profunda entre a Eucaristia e Nossa Senhora. Na condução de missões paroquiais em diferentes lugares, percebo que, sempre que Maria é amada, a Eucaristia é também amada.
O contrário também é verdadeiro. Se uma pessoa se consagra a Maria e vive em fidelidade diária a esta consagração, tenho certeza de que em breve descobrirá que a Sagrada Comunhão se torna uma experiência mais intensa. A fim de ser receptiva ao Verbo Encarnado, precisamos o auxílio daquele em quem o Verbo se fez carne.
Depois de fazer a minha própria consagração a Maria em 2004, quase imediatamente me senti chamado a passar mais tempo em ação de graças silenciosa depois da Missa. Em 22-07-2013, enquanto rezava diante das relíquias de Santa Maria Madalena, senti um forte chamado a estender a duração daquele tempo. Nossa Senhora e Santa Maria Madalena são modelos de receptividade perfeita a Cristo, mas eu me inclino a apostar que a segunda aprendeu muito com esta disposição santa da primeira.
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Adorando a Cristo com Maria Madalena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU