28 Julho 2017
Nos dias 25 a 27 de julho, realizou-se a IIª Assembleia da Província Jesuíta do Brasil, em Itaici, SP, reunindo aproximadamente 345 jesuítas.
A Companhia de Jesus no Brasil manifesta, em nota publicada pela assembleia, a indignação "diante da maneira como as classes dominantes conduzem as crises econômica, social e política que assolam o país e afetam a população brasileira, sobretudo os mais empobrecidos".
"Muita gente, que tinha saído da miséria e da pobreza, está voltando à assistência social", denunciam os jesuítas.
Segundo a nota, "os ajustes desse (des)governo para atender ao mercado, assim como o domínio do agronegócio, explicitado na CPI da Funai e do Incra, abrem espaço para mais violência e mortes no campo e nas cidades, como noticiado nestes últimos tempos".
Eis a nota.
“Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5, 24).
Nós, mais de trezentos jesuítas do Brasil, reunidos em Assembleia Nacional de 25 a 27 de julho de 2017, para celebrar os três anos de caminhada da nova Província do Brasil, não podemos deixar de manifestar nossa preocupação e até nossa indignação diante da maneira como as classes dominantes conduzem as crises econômica, social e política que assolam o país e afetam a população brasileira, sobretudo os mais empobrecidos. A corrupção e a promiscuidade entre interesses públicos e privados nas esferas dos poderes instituídos escandalizam a maioria do povo brasileiro e tiram legitimidade aos poderes executivo e legislativo. Nem sempre o judiciário escapa de parcialidade.
A desigualdade socioeconômica, nestes últimos anos, agravou-se significativamente. Além dos 14 milhões de desempregados, pelo menos 10 milhões de trabalhadores ficam subempregados ou desistem de procurar trabalho. Muita gente, que tinha saído da miséria e da pobreza, está voltando à assistência social. O recrudescimento da desigualdade produz mais violência de todos os tipos na sociedade, contra a pessoa e a vida, contra as famílias, tráfico de drogas e outros negócios ilícitos, excessos no uso da força policial, corrupção, sonegação fiscal, malversação dos bens públicos, abuso do poder econômico e político, poder manipulador dos meios de comunicação social e crimes ambientais.
A idolatria do dinheiro, de acordo com o Papa Francisco, dá primazia ao mercado, tanto em detrimento da pessoa humana como em detrimento do trabalho (cf. Evangelii Gaudium, 53-57). Não é justo submeter o Estado ao mercado, em nome da retomada do desenvolvimento. Quando é o mercado que governa, o Estado torna-se fraco e acaba submetido a uma perversa lógica do capital financeiro. Como nos adverte o Papa Francisco, “o dinheiro é para servir e não para governar” (Evangelii Gaudium 58).
No esforço de superação do grave momento atual são necessárias reformas, que se legitimam quando obedecem à lógica do diálogo com toda a sociedade, tendo em vista o bem comum. Por essa razão, as Reformas Trabalhista e da Previdência, como foram encaminhadas ao Congresso, carecem de legitimidade.
Outras propostas em tramitação no Congresso, não poucas vezes por medidas provisórias, como a “liberação” do desmatamento, a “legalização” da grilagem de terras urbanas e rurais, a mercantilização de terras para corporações estrangeiras e a “outorga” das terras indígenas e quilombolas ao agronegócio, são afrontas à Constituição Federal que garante direitos e cidadania para todos.
Os ajustes desse (des)governo para atender ao mercado, assim como o domínio do agronegócio, explicitado na CPI da Funai e do Incra, abrem espaço para mais violência e mortes no campo e nas cidades, como noticiado nestes últimos tempos. Os movimentos sociais e populares, como também instituições que lutam em prol das populações excluídas, estão sendo criminalizados e falsamente denunciados.
Essa situação interpela hoje a missão dos jesuítas no Brasil. Comprometemo-nos a manter nossa presença junto aos mais empobrecidos e excluídos, como também, pela análise das causas da persistente situação de desigualdade e de exploração desordenada da natureza, contribuir para a superação do abismo da desigualdade socioambiental, em solidariedade à esperança do povo. Sentimo-nos chamados a manter-nos fieis ao Evangelho, que nos impulsiona a reconhecer e a denunciar as injustiças estruturais e históricas, sobretudo a grande dívida social em relação aos mais fracos e vulneráveis. Na esperança teimosa em dias melhores queremos colaborar na construção de um Brasil justo.
Leia mais
- O Projeto do Governo Temer de “Vender o Território do Brasil”
- Número de pobres no Brasil terá aumento de no mínimo 2,5 milhões em 2017, aponta estimativa do Banco Mundial
- Número de crianças na pobreza no Brasil equivale à metade da população Argentina
- 60% das crianças de até 14 anos vivem na pobreza na Região Norte
- Estudo da Fundação Abrinq mostra que 40% das crianças de 0 a 14 anos no Brasil vivem na pobreza
- Brasil é ultrapassado por Albânia, Geórgia e Azerbaijão em índice de desenvolvimento da ONU
- Brasil terá até 3,6 milhões de 'novos pobres' em 2017, afirma Banco Mundial
- O Brasil vai entrar, de novo, no mapa da fome?
- Reforma Trabalhista: CNBB assina nota criticando o projeto
- “Trator” do governo aprova texto-base da reforma trabalhista
- Reforma trabalhista: veja ponto a ponto como ficou a lei aprovada pelo Congresso
- Reforma da Previdência Social
- Temer assina parecer que pode afetar 28 processos de demarcação por terras indígenas no RS
- Temer acolhe pleito dos ruralistas e reedita medidas que afrontam os direitos indígenas. Entrevista especial com Roberto Liebgott
- Temer violenta direitos indígenas para tentar impedir seu próprio julgamento
- Para se salvar no Congresso, Temer estabelece regra que pode impedir demarcações indígenas
- O Supremo e a (não) demarcação de terras indígenas
- Dallari: Parecer da AGU não é vinculante. É apenas opinativo, inconstitucional e ilegal
- A MP 759 coloca terras da reforma agrária na mira do agronegócio
- Michel Temer sanciona 'MP da Grilagem'
- Temer anistia grilagem de terras
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Jesuítas do Brasil denunciam ajustes "desse (des)governo" para atender ao mercado e o agronegócio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU