14 Março 2017
Além das iniciativas de Lopez Obrador e Cardenas, o senador Martínez García afirma que os Estados Unidos deveriam devolver 845 km2 de fronteira mal localizada.
A reportagem é de Gustavo Veiga, publicada Página/12, 13-03-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
No México, começou a surgir uma reação em cadeia à política de imigração dos Estados Unidos e a seu ícone máximo, o muro de Donald Trump. Até agora não se trata de uma resposta concreta do governo de Enrique Peña Nieto, mas de várias expressões políticas. Andrés López Obrador, líder da Morena (Movimento de Regeneração Nacional) lançará hoje em Nova York o Frente Cívico en Defensa de los Migrantes (Frente Cívica de Defesa dos Imigrantes). Cuauhtémoc Cárdenas, ex-candidato à presidência e referência histórica presidencial do PRD (Partido da Revolução Democrática), apresentou na última quinta-feira, em Cuernavaca, sua proposta de declarar a nulidade do Tratado de Guadalupe Hidalgo de 1848, pelo qual o país perdeu metade de seu território para os EUA. Além disso, Patricio Martínez García, senador do PRI (Partido Revolucionario Institucional) do estado de Chihuahua, afirma que a fronteira entre as duas nações está mal localizada e que o poderoso vizinho deve retornar 845km2 no entorno da fronteira atual com o norte.
AMLO, como é conhecido Lopez Obrador no México, apresentará esta tarde, no auditório Nossa Senhora de Guadalupe, em Manhattan, a Frente Cívica em Defesa dos Imigrantes (FCDI). Seu colaborador no Morena, o ex-embaixador mexicano da Dinamarca, Noruega e Islândia, Héctor Vasconcelos, especificou que uma comissão será criada para levar isto adiante. Ele também disse que o candidato às eleições presidenciais de 2018 "virá para dar apoio moral, e estamos chamando advogados e tradutores que vivem nos Estados Unidos para ajudar os imigrantes que sofrerão processos de deportação". AMLO também apresentará a FCDI em Washington, São Francisco e Laredo, em uma turnê pelos Estados Unidos, que começou em fevereiro.
Já em campanha, o próprio Lopez Obrador - citado pelo jornal Excelsior na quinta-feira - declarou: "nas pesquisas realizadas, quando se pergunta em que partido as pessoas votariam para presidência da república se as eleições de 2018 fossem hoje, o Morena já está em primeiro lugar em todo o país. Por isso informamos que agora estamos em excelentes condições para alcançar uma verdadeira mudança, uma transformação".
A respeitada jornalista Stella Calloni, correspondente do jornal mexicano La Jornada na Argentina, definiu o momento que o país vive como "o ressurgimento de um nacionalismo que vem desde a revolução de 1910, possibilitado pela política de Trump". Nesta linha de resposta à pregação xenófoba e anti-imigração do presidente dos Estados Unidos, Cardenas solicitou que um acordo do século XIX, que já tem 169 anos, seja revogado. O ex-candidato presidencial do PRD nas eleições de 1988, 1994 e 2000 pediu, na verdade, um julgamento internacional para anular o chamado Tratado de Paz, Amizade, Limites e Doação entre os Estados Unidos Mexicanos e os Estados Unidos da América.
"A maior prova de nulidade desses acordos é que na primeira frase do Tratado Guadalupe Hidalgo, os militares dos EUA admitem que invadiram nosso país", explicou o advogado e historiador Guillermo Hamdan Castro, que compartilhou o anúncio com Cardenas. Documentos como este continuaram surgindo. Recuperar a história de uma fronteira conturbada de 3.180 quilômetros pode levar anos de disputas legais. O mexicano especialista em questões da fronteira com os EUA, Gastón García Cantú, escreveu no livro Las invasiones norteamericanas en México (Ediciones Era, 1971) que o país perdeu 2.263.866 km2, mais de 50 por cento do território ao sul do Rio Grande.
Hamdan Castro admitiu que muitas causas impossibilitariam a devolução do território, mas sugeriu que os EUA deveriam indenizar o México pelo usufruto da vasta porção de terra durante 169 anos. Nesse sentido, ele apela para o mesmo antídoto de Trump ao argumentar que o vizinho tem que pagar pela construção do muro. Cardenas divulgou que vai convocar uma marcha nacional até a residência presidencial de Los Pinos para apresentar a Peña Nieto o projeto de revogação do Tratado de Guadalupe Hidalgo.
O senador do PRI e ex-governador de Chihuahua, Martínez García, abriu outro debate sobre as diferenças com o governo dos Estados Unidos. Ele observou que a fronteira com seu vizinho está mal localizada e que o seu país poderia recuperar cerca de 84.500 hectares (ou 845km2) de território considerando os limites do lugar correspondente de acordo com ele. A delimitação foi mal aplicada na época do governo Porfirio Díaz no México, no século XIX, disse ele. O legislador apresentou sua iniciativa ao Senado, mas como não encontrou apoio suficiente, decidiu custear o estudo topográfico e por satélite que confirmaria sua hipótese. O estudo já foi encomendado a uma empresa privada.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Reação patriótica a la mexicana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU