27 Outubro 2016
Durante o evento, o professor Rudá Ricci valorizou o trabalho dos observatórios e problematizou sua atuação com os dados e a informação. Os dados necessitam ganhar sentido em diálogo dos pesquisadores com a população.
Na terça-feira, dia 18-10-2016, ocorreu o VI Seminário de Observatórios, que neste ano tematizou “DEMOCRACIA, POLÍTICAS PÚBLICAS E INFORMAÇÃO”. A programação aconteceu a partir da manhã, com a “Roda de Conversa: Experiências dos Observatórios”, com ênfase aos temas de aprofundamento desta sexta edição do Seminário, que contou com a assessoria do prof. Dr. Rudá Ricci¹.
Após as pontualizações dos Observatórios presentes, o professor Rudá Ricci fez provocações sobre o papel dos observatórios. “O dado de que vocês estão falando faz sentido para a população? Como estes dados chegam à população?”, questionou o professor.
Na Roda de Conversa estiveram presentes os seguintes observatórios, que compõem a Rede de Observatórios: Observatório da Cultura de Porto Alegre, Observatório da Cidade de Porto Alegre – ObservaPOA, Observatório Juvenil do Vale, Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas – Unilasalle, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Segurança Alimentar e Nutricional – Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Rural – UFRGS, Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares – Fiocruz e Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, além de outros parceiros da Rede como o Sindicato de Sociólogos do Rio Grande do Sul, PPG Educação Unisinos, PPG Sociologia UFRGS e Federação de Economia e Estatística – FEE. A roda buscou trazer as experiências dos Observatórios, como também provocar o debate sobre a conjuntura e como isso afeta as ações dos observatórios.
Foto: Carolina Lima
Para Rudá, é preciso considerar que nem sempre os dados dialogam com a sociedade. “Isso não cria nenhum tipo de demérito ao trabalho que vocês realizam, mas serve para que a gente se localize”, apontou. A partir disso, o professor afirmou que para fazer acontecer a democracia é preciso que esse elemento seja considerado para que possa ser problematizado. “Eu vejo que há um esforço muito grande, mas que há um diálogo que se afasta de quem está no ‘chão da rua’”, explicou.
Em seguida Rudá apontou que a Rede de Observatórios reúne cinco grandes frentes de trabalho. Sendo elas: articulação de frentes e trabalho; pesquisa; acompanhamento de resultados via indicadores; assessoria técnica; e formação. Rudá afirmou que esta é a observação geral que ele fez a partir das experiências apresentadas.
O professor também apontou que vivemos um recuo da cultura política democrática no Brasil. “Em especial da cultura política de democracia deliberativa. Nós perdemos isso, nós fomos derrotados”, lamentou. A partir dessa questão, ele apontou os observatórios como agentes para a restauração do fortalecimento das políticas públicas. “É aqui que os observatórios começam a ter importância de capital. E é por isso que tem que estar aberto à sociedade”, indicou.
Para Rudá, também estamos vivendo um estado de exceção. “Nós estamos vivendo uma seleção de leis e situações jurídicas que colocam qualquer brasileiro ameaçado na sua conduta”, afirmou, completando que “isso depõe absolutamente contra qualquer tipo de gestão participativa”. Ele explicou que por trás dessa lógica está a intenção de recuperar a ordem do Brasil a partir da construção das elites. “Nós não temos (a participação) dos cidadãos depois de votar e se aponta que não tem mais por que discutirem a decisão dos eleitos”, conta.
Na parte da tarde, o VI Seminário de Observatórios contou com a apresentação de trabalhos. Os temas apresentados estavam relacionados com dados e indicadores, principalmente, da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os trabalhos foram: “Indicadores de Bem-Estar para Povos Tradicionais: O caso de uma comunidade indígena na fronteira da Amazônia brasileira”, “Aspectos Históricos Evolutivos da Agricultura nos territórios dos campos de cima da Serra e do Litoral”, “Uma metodologia de busca ativa participativa na política de assistência social”, “Aspectos Ambientais e Populacionais dos territórios Campos de Cima da Serra e Litoral”, “Diagnóstico Territorial: reunindo informações para problematizar a realidade nos Territórios Campos de Cima da Serra e Litoral/RS”, “Estratificação centílica de renda e patrimônio dos declarantes de imposto de renda no Brasil”, “Economia comportamental e as políticas públicas: um enfoque sobre o tabagismo”, “Evolução e perfil dos beneficiários do Programa Bolsa Família: um estudo do município de Gravataí (RS) (2004-2014)” e “Entidades não governamentais na proteção e defesa dos animais urbanos: o caso de Sapucaia do Sul (Rio Grande do Sul)”.
Ainda na parte da noite o professor Rudá fez uma exposição sobre os observatórios e a democratização da democracia. Ele apontou que vivemos uma época de desafio da participação, pois há um afastamento das instituições cada vez maior. Para ele os grupos de interesse têm assumido o papel de representação. “Em vez de organizações discutirem um território ou políticas públicas de toda uma região, (os grupos) estão fragmentando a discussão do território a partir do próprio interesse, principalmente capturados pela lógica do consumo”, apontou o professor.
Foto: Jonathan Camargo
Para Rudá, o lulismo criou um problema grave que foi criar a inclusão a partir do consumo. “Quando as pessoas começam a ter acesso ao consumo e elas começam a perceber que o prestígio tem a ver com o carro que ela comprou ou o avião que ela pegou pela primeira vez, elas deixam de ser solidárias”, indicou o professor, complementando que isso reforça o aumento do individualismo e do conservadorismo.
Nesse sentido, para Rudá, os observatórios têm um papel maior. “Os observatórios têm uma estratégia que é criar controle social sobre políticas públicas, controle da sociedade sobre as políticas”, argumentou. Além disso, para ele os observatórios têm a capacidade de criar “capital social”².
O professor ainda destacou o papel da universidade. Segundo Rudá, é importante que a academia não forme cidadãos para o sucesso individual. “Nós temos que formar vocês para serem lideranças territoriais. A ideia é universal. Que aqui vocês pensem acima do problema individual”, apontou, além de muitas outras contribuições e provocações.
O “VI Seminário de Observatórios: Democracia, políticas públicas e informação” foi transmitido ao vivo pelo canal do IHU no Youtube e pode ser acessado aqui. Também é possível conferir a Entrevista especial com Rudá Ricci: “O principal problema do Brasil não é a corrupção, mas a desigualdade.”
¹ - Rudá é graduado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e doutor em Ciências Sociais também pela Unicamp. Além disso, é diretor do Instituto Cultiva, professor do curso de mestrado em Direito e Desenvolvimento Sustentável da Escola Superior Dom Helder Câmara e colunista Político da Band News.
² - Capital social é o grau de confiança que a população tem em si mesma para superar problemas comuns. Não é depender do vereador, do prefeito. É ela assumir e coordenar as políticas locais.
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Observatórios são desafiados a dialogar com a população, provocando o controle social e mediando a democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU