Por: André | 14 Julho 2016
Um grupo de 45 “prelados, acadêmicos, professores, escritores e padres católicos” escreveu ao cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, para pedir que os cardeais e patriarcas da Igreja católica peçam ao Papa Francisco para que “repudie uma lista de proposições errôneas” que, supostamente, contém a Exortação Apostólica Amoris Laetitia.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 13-07-2016. A tradução é de André Langer.
O documento que foi mandado ao cardeal Sodano – detalhes que são conhecidos, por enquanto, apenas em um artigo publicado por este grupo de dissidentes – cita 19 passagens da exortação “que parecem estar em conflito com as doutrinas católicas”.
Segundo o comunicado divulgado pelo grupo, os axiomas com os quais os ensinamentos contidos na Amoris Laetitia entrariam em conflito incluiriam “a possibilidade real de obedecer aos mandamentos com a graça de Deus, o fato de que certas condutas são más em qualquer circunstância, a superioridade do esposo, a superioridade da virgindade consagrada em relação à vida matrimonial e a legitimidade da pena capital em determinadas circunstâncias”.
Além disso, o manifesto do grupo discrepante sustenta que a exortação apostólica pós-sinodal “mina o ensinamento da Igreja que diz que os católicos divorciados ou casados pelo civil que não se tenham comprometido com a continência não podem ser admitidos aos sacramentos enquanto se mantiverem nesse estado”.
“Não estamos acusando o Papa de heresia”, disse Joseph Shaw – porta-voz e único membro do grupo que, até agora, publicou o seu nome –, “mas consideramos que muitas proposições da Amoris Laetitia podem ser interpretadas como heréticas em uma leitura natural do texto”.
“Outras ideias presentes no documento poderiam incorrer em censuras teológicas estabelecidas como escandalosas, errôneas ou ambíguas, entre outras”, continuou Shaw, que é acadêmico da Universidade de Oxford e presidente da Sociedade para a Missa Latina do Reino Unido.
Como também explicou Joseph Shaw, o que este grupo dissidente busca em seu pedido ao cardeal Sodano – manifesto que, além disso, será traduzido para vários idiomas e enviado aos 218 cardeais e patriarcas atualmente vivos – é que os hierarcas da Igreja pressionem o Papa Francisco com a finalidade de que o pontífice condene “de forma definitiva e final” os erros contidos na exortação apostólica e que “declare com autoridade que a Amoris Laetitia não requer que ninguém acredite [nos supostos erros] ou considere-os corretos de maneira alguma”.
Afirmam estar agindo ao amparo do artigo do Código de Direito Canônico que estabelece que os fiéis “têm o direito... de manifestar aos Pastores sagrados sua opinião sobre aquilo que pertence ao bem da Igreja” (212, 3), e exclusivamente com o propósito de esclarecer o verdadeiro significado da exortação apostólica, que já foi objeto de debates inclusive entre cardeais.
“Esperamos que ao buscar um repúdio definitivo por parte do Santo Padre destes erros possamos ajudar a sanar a confusão que a Amoris Laetitia já produziu entre pastores e fiéis”, manifestou Shaw em seu artigo.
“Esta confusão só pode se dissipar, de forma efetiva, com uma afirmação por parte do sucessor de Pedro da autêntica doutrina católica, sem ambiguidades”, disse este representante do grupo.
Em vez de um maior grau de clareza ou precisão, não obstante, a súplica do grupo de Joseph Shaw parece, antes, ter trazido, até agora, mais dúvidas e confusão. O outro único membro do grupo dissidente que falou com a imprensa no momento em que este artigo estava sendo publicado – que, por sua vez, não quis revelar seu nome –, disse ao National Catholic Register que os signatários da carta preferem manter seu anonimato porque “temem represálias”.
“Estão preocupados com as repercussões em sua comunidade religiosa, ou se têm uma carreira acadêmica e uma família, temem por seus trabalhos”, afirmou esta fonte anônima ao sítio católico estadunidense.
Mas, não é tanto por um verdadeiro medo de revanches que os signatários do manifesto escolheram ocultar suas identidades, na opinião de Michael Sean Winters – correspondente do National Catholic Register que foi um dos primeiros a reagir a esta nova campanha de desobediência ao Papa Francisco. Trata-se, antes, de “mera covardia”. Um ato em que cerca de 45 descontentes de uma Igreja de mais de um bilhão de fiéis “atiraram a pedra e esconderam a mão”.
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Os ultraconservadores lançam campanha de desobediência ao Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU