Por: Jonas | 10 Junho 2016
Neste momento, no México, está ocorrendo o Congresso sobre Pensamento Complexo: todos os saberes e todas as fronteiras. Que saberes e que fronteiras terão a oportunidade e o privilégio de se dar a conhecer como partes vivas e ativas da complexa rede que acomoda nosso mundo atual? E, todas as periferias, e todos os excluídos e todas as excluídas, conseguirão algum grau de visível presença complexa neste Congresso sobre pensamento complexo?
O artigo é de Román Espadas, jesuíta, publicado por Religión Digital, 09-06-2016. A tradução é do Cepat.
O Congresso é promovido pela União de Universidades da América Latina e o Caribe e pela Universidade Multidiversidade Mundo Real Edgar Morin.
As múltiplas modalidades (conferências, painéis, audiovisuais...) do Congresso vão até quinta-feira, dia 09.
O grande protagonista do Congresso será o pensamento complexo sobre o real, visto, entendido e apreendido como um todo orgânico, como uma rede contextualizada e interconectada; pensamento a respeito do qual Edgar Morin (Paris, 1921) é pai e principal promotor e que será a figura e presença principal do Congresso.
A razão primeira deste Congresso é reconhecer, aprofundar, agradecer e promover o trabalho e a produção intelectual realizada por Edgar Morin ao longo de seus noventa e cinco anos de intensa e complexa vida em nosso complexo mundo.
Reinventar a educação (2014), último livro de Morin, escrito conjuntamente com o Dr. Carlos J. Delgado Díaz, professor e Decano de Filosofia da Universidade de Havana, terá uma presença central e de protagonismo, durante o Congresso.
Juntamente com Morin, o Dr. Delgado se encarregará de acentuar as linhas mestres desta estimulante e prometedora síntese (“reinventar”) de pensamento complexo, de bioética global, de política democrática e cidadã, e de humana e humanizadora educação planetária.
Ao terminar o Congresso, o Dr. Delgado oferecerá um seminário no qual continuará, aprofundará e concretizará a temática do Congresso: o pensamento complexo em nossa vida cotidiana, visto a partir de pensadores do Sul: Edgar Morin e Paulo Freire, que será a própria temática do seminário oferecido pelo Dr. Delgado.
Quem são Edgar Morin e Paulo Freire? Quem é Carlos Delgado? Por que e para que os ler, estudar, dialogar com eles e sobre eles? Por que chamá-los pensadores do Sul? Em que e como podem nos ajudar a humanizar e civilizar a vida humana, nossa vida, em nosso planeta azul?
Além de nos aproximar de Edgar Morin e Paulo Freire, será bom olhar na direção dos enfoques e propostas de Carlos Delgado para o complexo mundo da bioética global.
Edgar Morin (1921, Paris)
Adentrar-se na vida e obra intelectual de Edgar Morin é um trabalho tão complexo como querer conhecer e entender sua alucinante rota e proposta de pensamento complexo.
Devido à pobre saúde de sua mãe, Edgar quase perece ao nascer.
Aos seus dez anos, sofre a perda de sua mãe; vazio que Edgar procurará preencher com uma intensa e diversificada dedicação à leitura.
Aos 19 anos, movido por sua intensa e habitual dedicação à leitura, cinema, música, observação da natureza e sociedade, e pelo desejo de aprender, matricula-se em Letras, Direito e Ciências Políticas na Sorbonne.
A guerra o impede de se graduar; objetivo que conseguirá ao final da mesma, em História, Geografia e Direito.
Esta diversidade de estudos acadêmicos fala claramente da complexidade subjetiva que movia sua radical e diversificada curiosidade intelectual.
Aos 15 anos, começa a desenvolver e acionar sua visão e militância política, orientada para um socialismo, inimigo da guerra.
Milita no Partido Comunista Francês até que os gulags stalinistas o fazem ver que o paraíso soviético possui infernos muito habitados em seu interior.
Luta decididamente para fazer com que a França se veja livre da dominação nazista-alemã.
Identifica-se ativa e profundamente com os valores democráticos e participativos da revolução juvenil de maio de 1968.
Toda esta profunda e permanente atividade política vai formando, radical e complexamente, sua identificação e promoção de uma democracia cidadã e planetária que respeite e incorpore na ação política: a liberdade, os direitos, as necessidades e as habilidades de cada ser humano em todas e cada uma das partes de nosso complexo mundo.
Os títulos de alguns dos livros escritos por Morin, de 1946 até 2014, falam clara e coerentemente da humanizada complexidade de sua visão e proposta epistemo-político-educativa:
Rumo ao abismo?, Civilização e barbárie, O paradigma perdido: A natureza humana, A Via: Para o futuro da Humanidade, O Caminho da esperança, A humanidade da humanidade, A vida da vida, A natureza da natureza, O conhecimento do conhecimento, Ciência com consciência, A mente bem ordenada, Introdução ao Pensamento Complexo, A Complexidade humana, Por uma política de civilização, A Ética, Amor, poesia, sabedoria, Os sete saberes necessários para uma educação do futuro, Reinventar a educação.
Estas citações, retiradas de suas obras, irão nos motivar a adentrar crítica, criativa e dialogalmente no complexo e esperançoso paradigma de Morin:
“Nunca pude, ao longo de toda a minha vida, resignar-me ao saber parcializado, nunca pude isolar um objeto de estudo de seu contexto, de seus antecedentes, de seu devir. Aspirei sempre a um pensamento multidimensional, nunca pude eliminar a contradição interior. Sempre senti que as verdades profundas, antagonistas umas com as outras, eram para mim complementares, sem deixar de ser antagonistas. Nunca quis reduzir à força a incerteza e a ambiguidade”.
“É um dever importante da educação armar a cada um no combate vital para a lucidez”.
“A educação deve promover uma inteligência apta para se referir ao complexo, ao contexto, em uma concepção global”.
“Para abrir caminhos à metamorfose da humanidade, requeremos reinventar a educação, o que é o mesmo, avançar pela via que enlaça a cidadania com a transformação da política e as reformas do pensamento e do ensino: enlaçar e fundir em uma as reformas do pensamento, o ensino, a política e a vida”.
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A complexidade do real: Edgar Morin e Paulo Freire - Instituto Humanitas Unisinos - IHU