Poema de natal. Vinícius de Moraes na oração inter-religiosa desta semana

Foto: UFMG

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21 Mai 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.

 

Poema de natal

Para isso fomos feitos
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

 

(Fonte: Vinícius de Moraes. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Companhia José Aguilar Editora, 1974, p. 223)

 

Vinicius de Moraes nos anos 1970 (Foto: Ricardo Alfieri | Wikimedia Commons)

 

Vinicius de Moraes (1913 - 1980): Famoso por sua presença na Música Popular Brasileira - MPB, além de músico, foi poeta, dramaturgo, jornalista e diplomata fluminense. Sua poesia é marcada pelo lirismo, já em 1932 publicou seu primeiro poema, “A transfiguração da montanha”, na revista A Ordem. Seu primeiro livro vem logo em seguida, em 1933, com a obra O caminho para a distância. Entre 1934 e 1955 trabalha em diversos jornais e atua em cargos diplomáticos representando o Brasil, além de publicar outros livros. 1956 é marcado como o ano em que conhece seu maior parceiro musical, Antônio Carlos Jobim, com quem, dois anos depois, lançaria um dos mais importantes movimentos musicais brasileiros, a Bossa Nova. O lançamento do álbum Canção do Amor Demais marca o período. Com Tom Jobim escreveu e musicou diversas letras, mas a mais famosa de todas é Garota de Ipanema. Outro grande parceiro musical foi o cantor e compositor Toquinho, com quem lançou diversos álbuns durante sua última década de vida.