"O Evangelho deste domingo se apresenta dentro de um conjunto de “três parábolas do que foi perdido” (“A ovelha perdida” em 15,3-7; “A moeda perdida” em 15,8-10 e “O filho perdido” em 15,11-32), embora a leitura indicada pule a primeira parábola, ficando as últimas duas (especialmente a terceira que é mais extensa e, de certa forma, canaliza o sentido das duas primeiras)."
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Js 5,9a.10-12
Segunda Leitura: 2Cor 5,17-21
Salmo: 33,2-3.4-5.6-7
Evangelho: Lc 15,1-3.11-32
O Evangelho deste domingo se apresenta dentro de um conjunto de “três parábolas do que foi perdido” (“A ovelha perdida” em 15,3-7; “A moeda perdida” em 15,8-10 e “O filho perdido” em 15,11-32), embora a leitura indicada pule a primeira parábola, ficando as últimas duas (especialmente a terceira que é mais extensa e, de certa forma, canaliza o sentido das duas primeiras). Em 15,1-2, apresenta a introdução, ou o contexto político-teológico-pedagógico em que se apresentam as parábolas. Ali há uma tensão entre dois grupos: um excluído e discriminado que está na mesa com Jesus (“todos os publicanos e pecadores”); o outro que rotulava, discriminava e excluía, formado por fariseus e escribas. O versículo 15,3 indica que se trata de parábolas, isto é, composições simbólicas de caráter pedagógico.
A parábola não trata apenas de uma mulher, que perde uma das suas dez moedas e ilumina e varre a casa em sua busca (15,8), mas do relacionamento com “as amigas” (fílas, isto é, “amadas”) e “vizinhas”, com quem se alegra (15,9). Lucas reconhece que as mulheres foram companheiras na missão, administradoras de bens e financiadoras do movimento de Jesus (8,1-3). As mulheres também eram discriminadas pelos defensores da sociedade e da fé excludente. Jesus convida a seguir o exemplo das pessoas por eles discriminadas e excluídas. Convida a iluminar o espaço vital - a Casa Comum - e varrer os cantos esquecidos e abandonados, pois, então, haverá grande alegria para todas as pessoas amadas e todas as que moram ao seu redor (15,10).
Este texto é comumente conhecido como a “Parábola do Filho Pródigo”, mas aqui fica evidente que a ênfase, como nas outras parábolas, está no filho perdido que foi encontrado. As palavras “perdido/a” (apololós/apólesa) e “encontrado” (eúron/euréte), aparecem nas três parábolas como um refrão: “encontrei minha/meu...que havia perdido” (15,6b.9b.24b). No entanto, nesta última parábola o “refrão” é dito duas vezes. A primeira, no v. 24ab, quando o filho retorna: “Porque este filho meu estava morto e voltou a vida (do verbo anaxao, no sentido de voltar do pecado), estava perdido e foi encontrado” (tradução própria). A segunda, após a reclamação do irmão, no v. 32bc: “...estava morto e vive (aqui é usada diretamente a palavra vida exen), e perdido e foi encontrado”.
O paralelo dialético é evidente: o irmão mais novo perde tudo “vivendo de forma extravagante/licenciosa” (cf. 15,13b). Depois de perder tudo, passar fome e perder também a dignidade, assume seus pecados e pensa em ser como um dos trabalhadores assalariados (mistoi) em 15,19; embora ao falar com o pai diga que ser tratado como quem serve sem esperar recompensa (doulous). Em 15,29, o filho mais velho, se apresenta como aquele que “durante anos” serviu (douléuo) e afirma que “nunca deixou passar/negligenciou um mandamento” (usando a palavra dos mandamentos da lei, entolén), no entanto, nunca pode “celebrar com os amigos” (filón...eufratô).
Assim, no final se estabelece o contraponto entre aquelas pessoas pecadoras que sentavam na mesa com Jesus, são o motivo da alegria, e quem não consegue participar da celebração na mesa da vida, porque – embora tenha servido com afinco - não entende a festa do reencontro e da alegria.
A leitura do Livro de Josué nos fala também de comensalidade. O povo que tinha superado a escravidão e opressão do Egito, podia finalmente sentar na mesa pascal. Este povo em seu processo de libertação não é mais dependente do maná, mas pode se sustentar e construir a vida. Assim o texto do Evangelho indica que a superação da discriminação, do preconceito e da exclusão, permite que a mesa eucarística e a sociedade sejam para todas as pessoas.
Na Segunda Carta aos Coríntios o tema é a reconciliação, isto é, o reencontro promovido por Cristo que, não tendo pecado, acolhe pessoas pecadoras fazendo delas “novas criaturas” e promovendo uma nova justiça.