19 Março 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de João 12,20-33, que corresponde ao 5° Domingo de Quaresma, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Poucas frases encontramos no Evangelho tão desafiadoras como estas palavras que reúnem uma convicção bem própria de Jesus: «Garanto-vos que se o grão de trigo cai na terra e não morre, fica infecundo; mas se morre, dá muito fruto».
A ideia de Jesus é clara. Com a vida acontece o mesmo que com o grão de trigo, que tem de morrer para libertar toda a sua energia e, um dia, produzir fruto. Se «não morre», fica sozinho sobre o chão. Pelo contrário, se «morrer» ressurge, trazendo consigo novos grãos e nova vida.
Com esta linguagem tão gráfica e cheia de força, Jesus deixa antever que a Sua morte, longe de ser um fracasso, será precisamente o que dará fecundidade à Sua vida. Mas, ao mesmo tempo, convida os seus seguidores a viverem de acordo com esta mesma lei paradoxal: para dar vida é necessário «morrer».
Não se pode gerar vida sem dar a própria. Não é possível ajudar a viver se não estivermos dispostos a «desvelar-nos» pelos outros. Ninguém contribui para um mundo mais justo e humano vivendo apegado ao seu próprio bem-estar. Ninguém trabalha seriamente pelo reino de Deus e a Sua justiça se não está disposto a assumir os riscos e rejeições, a conflitualidade e perseguição que Jesus sofreu.
Passamos a vida a tentar evitar sofrimentos e problemas. A cultura do bem-estar obriga-nos a organizar-nos da forma mais cômoda e agradável possível. É o ideal supremo. No entanto, há sofrimentos e renúncias que é necessário assumir se queremos que a nossa vida seja fecunda e criativa. O hedonismo não é uma força mobilizadora; a obsessão com o próprio bem-estar empequenece as pessoas.
Estamos a habituar-nos a viver fechando os olhos ao sofrimento dos demais. Parece o mais inteligente e sensato para ser felizes. É um erro. Seguramente conseguiremos evitar alguns problemas e dissabores, mas o nosso bem-estar será cada vez mais vazio e estéril, a nossa religião cada vez mais triste e egoísta. Entretanto, os oprimidos e aflitos querem saber se alguém se importa com a sua dor.
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Uma lei paradoxal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU