22 Fevereiro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lc 6,27-38 que corresponde ao 7° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Por que tantas pessoas vivem secretamente insatisfeitas? Por que tantos homens e mulheres acham a vida monótona, trivial, insípida? Por que se entediam no meio do seu bem-estar? Que lhes falta para encontrar de novo a alegria de viver?
Talvez a existência de muitos mudasse e adquirisse outra cor e outra vida, simplesmente se aprendessem a amar alguém de graça. O queira ou não, o ser humano está chamado a amar desinteressadamente; e, se não o faz na sua vida, abre-se um vazio que nada nem ninguém pode preencher. Não é uma ingenuidade escutar as palavras de Jesus: “Façam o bem... sem esperar nada”. Pode ser o segredo da vida. O que pode devolver-nos a alegria de viver?
É fácil acabar sem amar ninguém de uma forma verdadeiramente gratuita. Não faço mal a ninguém. Não me meto nos problemas dos outros. Respeito os direitos dos outros. Vivo a minha vida. Já tenho o suficiente com que me preocupar comigo e com as minhas coisas.
Mas isso é vida? Viver despreocupado dos outros, reduzido ao meu trabalho, à minha profissão ou ao meu ofício, impermeável aos problemas dos outros, alheio aos sofrimentos das pessoas, me encerro na minha “redoma de vidro”?
Vivemos numa sociedade onde é difícil aprender a amar gratuitamente. Quase sempre perguntamos: para que serve isso? É útil? Que ganho com isso? Tudo o contamos e medimos. Criamos a ideia de que tudo se obtém “comprando”: alimentos, vestuário, casa, transporte, entretenimento... E assim corremos o risco de converter todas as nossas relações numa pura troca de serviços.
Mas o amor, a amizade, o acolhimento, a solidariedade, a proximidade, a confiança, a luta pelos fracos, a esperança, a alegria interior... não se obtêm com dinheiro. São algo gratuito que se oferece sem esperar nada em troca, que não o crescimento e a vida do outro.
Os primeiros cristãos, ao falar de amor, usaram a palavra “ágape”, justamente para enfatizar mais esta dimensão da gratuidade, em contraste com o amor entendido apenas como "eros" e que tinha, para muitos, uma ressonância de interesse e egoísmo.
Entre nós há pessoas que só podem receber um amor gratuito, porque quase nada têm para retribuir a quem se quer aproximar delas. Pessoas sozinhas, maltratadas pela vida, incompreendidas por quase todos, empobrecidas pela sociedade, com quase nenhuma saída na vida.
Aquele grande profeta que foi Helder Câmara recorda-nos o convite de Jesus com estas palavras: “Para libertar-te a ti mesmo, lança uma ponte para além do abismo que o teu egoísmo criou. Tenta ver para além de ti mesmo. Tenta escutar outra pessoa e, acima de tudo, tenta esforçar-te por amar em vez de amar-te a ti próprio”.
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