13 Janeiro 2016
As Bodas de Caná. Por Giotto, na Capela Scrovegni, em Pádua.
O seguinte comentário do Evangelho é elaborado por Maria Cristina Giani, Missionária de Cristo Ressuscitado.
No terceiro dia, houve uma festa de casamento em Caná da Galileia, e a mãe de Jesus estava aí. Jesus também tinha sido convidado para essa festa de casamento, junto com seus discípulos.
Faltou vinho e a mãe de Jesus lhe disse: -"Eles não têm mais vinho!".
Jesus respondeu:
-"Mulher, que existe entre nós? Minha hora ainda não chegou."
A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo:
- "Façam o que ele mandar."
Havia aí seis potes de pedra de uns cem litros cada um, que serviam para os ritos de purificação dos judeus.
Jesus disse aos que serviam:
- "Encham de água esses potes."
Eles encheram os potes até a boca.
Depois Jesus disse:
-"Agora tirem e levem ao mestre-sala."
Então levaram ao mestre-sala. Este provou a água transformada em vinho, sem saber de onde vinha. Os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água. Então o mestre-sala chamou o noivo e disse:
-"Todos servem primeiro o vinho bom e, quando os convidados estão bêbados, servem o pior. Você, porém, guardou o vinho bom até agora."
Foi assim, em Caná da Galileia, que Jesus começou seus sinais. Ele manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele.
No segundo domingo do Tempo Comum, a Igreja oferece-nos um texto do evangelho de João. Situado no capitulo dois este texto apresenta-nos uma realidade muito bonita e também tem um grande sentido simbólico e espiritual: uma boda.
Jesus é convidado para participar dessa festa junto com seus discípulos e discípulas e também aparece uma presença muito importante que é Maria.
Situado depois da passagem de Jesus pelo deserto, do encontro com o Batista e seus primeiros discípulos, o evangelista apresenta-nos uma festa de casamento em Caná de Galileia. Caná é uma aldeia muito simples, situada a poucos quilômetros e rodeada de pequenas colinas cobertas de oliveiras.
Para os discípulos de Jesus, anteriormente discípulos de João Batista, participar de uma festa de casamento com seu Mestre era sem dúvida uma situação muito diferente daquela que eles estavam acostumados.
Lembremos que João Batista vivia e pregava no deserto, vestia peles de camelo e comia gafanhotos e mel silvestre (Mc 1, 6). Suas palavras continuamente convidam a reconhecer os próprios pecados, a uma mudança de vida; revelam um Deus exigente mais também animam a esperança no Messias desejado.
Possivelmente para eles não era muito fácil pensar num Messias tão próximo que celebra, junto com eles e todo o povo, suas alegrias como vemos neste relato de uma boda.
Desta maneira, o evangelista, desde o início da vida pública de Jesus, mostra o essencial que Ele veio nos revelar.
Uma nova imagem de Deus. Não é um Deus preso à lei dos fariseus, senão que, pelo contrário, o Deus que Jesus revela é um Deus que celebra a vida, que partilha com o povo porque está a seu lado, nas alegrias, nas dores, nos diferentes momentos d e sua vida.
Os seguidores de Jesus ensinam-nos uma atitude principal de um/a discípulo/a, permanecer junto com o Mestre, estar com Ele, segui-Lo, mesmo sem compreender tudo, porque é no caminhar juntos que o vamos conhecendo, sem conhecê-Lo plenamente.
Entra em cena Maria, trazendo no meio da festa a necessidade dos noivos: "Eles não têm mais vinho!".
Se olharmos ao nosso redor, nosso país, nosso mundo podemos perguntar-nos quais são as necessidades que neste momento Maria está sinalizando: "Há crianças que morrem de fome", "Elas são vítimas do tráfico humano", "Eles não têm moradia digna", "Eles não encontram sentido para sua vida"...
Cada um/a de nós pode se sensibilizar e solidarizar com Maria olhando para a realidade na qual vivemos, e como ela apresentá-la a Jesus. Que diríamos para Ele?
Fonte: www.novotempo.com
Maria confia no seu Filho.
Ela simboliza todos aqueles que, em Israel, esperam a realização das promessas messiânicas. Representa aqueles que, conscientes da realidade aguardam algo novo.
Eles não se conformam porque esperam algo mais!
Aparece uma característica nova de Jesus. Ele se deixa tocar e comover pelo sofrimento dos outros.
Ele se apresenta como um Deus sensível e próximo. Que diferente do Deus inacessível e intocável dos fariseus e sacerdotes da Lei!
Jesus não age sozinho, precisa da comunidade para fazer acontecer o novo: "Jesus disse aos que serviam: «Encham de água esses potes»".
Os potes de pedra serviam para a purificação dos judeus, segundo a sua tradição. O evangelista disse que eram seis, representando neles o Antigo Testamento, a Antiga Aliança.
Mas eles já nos servem mais, ao transformar a água em vinho, Jesus inaugura um tempo novo, uma nova festa caracterizada pela generosidade e gratuidade de Deus que a faz possível. Doravante os ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus.
As expectativas messiânicas realizam-se em Jesus.
O mestre-sala não sabia de onde vinha o vinho novo, mas "os que serviam estavam sabendo, pois foram eles que tiraram a água".
A comunidade representada nos serventes é testemunha da ação de Jesus: "Porque a vida se manifestou, nós a vimos, dela damos testemunho..." (1Jo 1, 2).
O primeiro sinal de Jesus é através do vinho novo, que permite a festa de casamento acontecer.
Neste texto, o evangelista nos apresenta já o projeto de vida nova que Jesus traz: a vida em abundância, na qual todos/as somos convidados/as a ser ativos-/as protagonistas.
Que este poema nos ajude a continuar descobrindo a Presença de Deus na vida diária.
As Bodas de Caná. 1562-63. Por Paolo Veronese, atualmente no Louvre, em Paris
Ai daqueles
que saboreiam o doce do açúcar em pratos refinados
mas não têm paladar para a amargura do haitiano que corta a cana;
que olham a beleza nas fachadas dos grandes edifícios
mas não ouvem nas pedras o grito dos operários mal pagos
que passeiam em carros de luxo pelas novas avenidas,
mas não têm memória para as famílias desalojadas como escombros
que exibem roupa elegante em corpos bem cuidados
mas não se preocupam com as mãos que colhem o algodão;
porque deixam resvalar sobre a vida seu olhar de turistas
e não contemplam por trás das fachadas com olhos de profeta!
Ai daqueles
que só vêem no pobre uma mão que mendiga
e não uma dignidade indestrutível que busca a justiça;
que só vêem nas numerosas crianças marginalizadas uma praga
e não uma esperança para todos que há que cultivar;
que só escutam nos gritos dos pobres caos e perigos
e não ouvem o protesto de Deus contra os fortes;
que só contemplam o sadio, belo e poderoso
e não esperam salvação desde o mais baixo e humilhado,
porque não poderão contemplar a salvação
que brota em Jesus marginalizado desde baixo!
Benjamin Gonzalez-Buelta ("Salmos para sentir e saborear internamente as coisas")
BROWN, Raymond. La Comunidad del discípulo amado. Salamanca: Sígueme, 1983.
KONINGS, Johan. Espírito e Mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
LEON-DUFOUR, Xavier. Leitura do Evangelho segundo João I. São Paulo: Ed. Loyola, 199
SUSIN, Luiz Carlos. Jesus Filho de Deus e Filho de Maria. São Paulo: Paulinas, 1997.
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Evangelho segundo São João 2,1-11 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU