18 Janeiro 2019
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo João 2, 1-11 que corresponde ao 2° Domingo de Tempo Comum, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Houve um casamento na Galileia. Assim começa este relato em que nos é dito algo inesperado e surpreendente. A primeira intervenção pública de Jesus, o Mensageiro de Deus, não tem nada de religioso. Não acontece num local sagrado. Jesus inaugura sua atividade profética “salvando” uma festa de casamento que poderia ter terminado muito mal.
Naquelas aldeias pobres da Galileia, a festa de casamento era a mais apreciada por todos. Durante vários dias, familiares e amigos acompanhavam os noivos, comendo e bebendo com eles, bailando danças festivas e cantando canções de amor. João nos diz que foi no meio de um desses casamentos que Jesus deu seu “primeiro sinal”, o que nos oferece a chave para compreender todas suas ações e o significado profundo de Sua missão salvadora.
O evangelista João não fala de “milagres”. Aos gestos surpreendentes que Jesus realiza chama-lhes sempre “sinais”. Não quer que os seus leitores fiquem no que possa ter de prodigioso na sua ação. Convida-nos para que descubramos o seu significado mais profundo. Para isso, oferece-nos algumas pistas de natureza simbólica. Vejamos apenas uma.
A mãe de Jesus, atenta aos detalhes da festa, percebe que “não resta vinho” e conta ao filho. Talvez os noivos, de condição humilde, tenham sido ultrapassados pelos convidados. Maria está preocupada. A festa está em perigo. Como pode terminar uma festa de casamento sem vinho? Ela confia em Jesus.
Entre os camponeses da Galileia o vinho era um símbolo muito conhecido de alegria e amor. Todos sabiam disso. Se na vida falta a alegria e o amor, como pode ser a convivência? Maria não se engana. Jesus intervém para salvar a festa, proporcionando vinho abundante e de excelente qualidade.
Este gesto de Jesus ajuda-nos a compreender a orientação de toda a sua vida e o conteúdo fundamental do seu projeto do reino de Deus. Enquanto os líderes religiosos e os mestres da lei se preocupam com a religião, Jesus dedica-se a tornar a vida das pessoas mais humana e suportável.
Os evangelhos apresentam Jesus focado não na religião, mas na vida. Não é só para pessoas religiosas e piedosas. É também para aqueles que vivem desapontados pela religião, mas sentem a necessidade de viver de uma maneira mais digna e feliz. Por quê? Porque Jesus transmite a fé num Deus em quem se pode confiar e com quem se pode viver com alegria, e porque Ele atrai para uma vida mais generosa, movida por um amor solidário.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Um gesto pouco religioso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU