25 Agosto 2015
Fonte: http://bit.ly/1EiO9Vd
Os fariseus e alguns doutores da Lei foram de Jerusalém e se reuniram em volta de Jesus. Eles viram então que alguns discípulos comiam pão com mãos impuras, isto é, sem lavar as mãos. Os fariseus, assim como todos os judeus, seguem a tradição que receberam dos antigos: só comem depois de lavar bem as mãos. Quando chegam da praça pública, eles se lavam antes de comer. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre.
Os fariseus e os doutores da Lei perguntaram então a Jesus:
“Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, pois comem pão sem lavar as mãos?” Jesus respondeu: “Isaías profetizou bem sobre vocês, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim. Não adianta nada eles me prestarem culto, porque ensinam preceitos humanos’. Vocês abandonam o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens.”
Em seguida, Jesus chamou de novo a multidão para perto dele e disse: “Escutem todos e compreendam: o que vem de fora e entra numa pessoa, não a torna impura; as coisas que saem de dentro da pessoa é que a tornam impura.
Pois é de dentro do coração das pessoas que saem as más intenções, como a imoralidade, roubos, crimes, adultérios, ambições sem limite, maldades, malícia, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas essas coisas más saem de dentro da pessoa, e são elas que a tornam impura“.
(Correspondente ao 22º domingo do Tempo Comum, do ciclo B do Ano Litúrgico).
Neste domingo lemos o texto do Evangelho de Marcos que apresenta-nos as práticas essenciais da religião de Jesus de Nazaré. Mas, hoje podemos perguntar-nos: qual é o significado deste texto para as primeiras comunidades? Por que os Evangelistas marcam essa clara diferença entre as tradições antigas e a novidade da mensagem de Jesus?
Para melhor entender é preciso conhecer alguns dados do Antigo Testamento. Quando Deus entregou a Moisés os mandamentos, eles tinham a função de orientar o povo para assim guardar a Aliança entre ele e o seu Deus.
No tempo do exílio, o povo de Israel sentia a necessidade de ser obediente a Deus. Dessa forma não perdia sua identidade no meio dos povos pagãos entre os quais estava exilado.
Ao mesmo tempo, isso servia de testemunho entre as nações. Por isso, era importante observar a Lei da melhor maneira possível, sem nada tirar ou acrescentar.
Mas, depois do Exílio os escribas fizeram tantas interpretações, tradições, jurisprudências em torno da Lei que a tornaram inacessível para o povo comum e perverteram sua intenção fundamental. Corria o risco de não ser expressão do Amor de Deus, da sua gratuidade e foi transformando-se progressivamente num exagero de normas, proibições, cuidados... E é o exagero o que faz mal, sobretudo quando se transforma em critério de boa conduta.
Os fariseus inventaram que só os que observavam todas estas invenções exageradas eram realmente bons judeus. Os outros que nem conheciam a Lei e as suas interpretações eram ignorantes e até desprezíveis.
Desde este contexto, entendemos melhor o diálogo entre os Doutores da Lei e Jesus. Os fariseus e os Doutores da Lei perguntaram a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, pois comem pão sem lavar as mãos?”. Eles estão no pecado, não podem fazer isso, é o “contrário” daquilo que é prescrito pela Lei.
A pergunta também está dirigida para Jesus que deixa que isso aconteça. Eles não são bons judeus, mas são do grupo dos impuros, ignorantes.
Jesus reage fortemente, chamando-os de hipócritas e desmascarando sua falsa religião: “Vocês abandonam o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens“.
Denuncia a tentação de esquecer a relação vital com Deus, por ritos e expressões externas esvaziadas de sentido. Já o Antigo Testamento manifesta a rejeição de Deus diante de uma religião ritualista: “Misericórdia quero, e não sacrifício" como tambèm é repetido várias vezes pelo Papa Francisco.
Chama a atenção a liberdade de Jesus diante das autoridades judaicas. Abertamente manifesta sua contrariedade e ruptura com o fardo pesado que tinha sido colocado sobre o povo simples como forma de servir a Deus.
Por sua vez, Jesus nos convida a descobrir a essência de sua proposta, que é a opção por construir o Reino de Deus.
Como é que Jesus revela o Reino que anuncia? Ele o faz, na medida em que se compadece dos pobres, na medida em que chama a si os que estão aflitos e sobrecarregados e os alivia, na medida em que traz a boa nova aos pobres, dizendo que a eles pertence o reino e na medida em que acolhe os oprimidos na liberdade e comunhão com ele.
Desse modo, o Reino que Jesus manifesta e instaura é um reino de compaixão e misericórdia. Participar dele é um presente que Jesus oferece à humanidade ao doar-lhe seu próprio Espírito, que opera nos homens e nas mulheres, que acolhem sua proposta, um novo nascimento (Jo 3,5-6).
Viver esta vida nova é um convite e um desafio à liberdade humana. O ser humano conforme sua opção contribui para a evolução deste mundo de acordo com o Plano de Deus.
A liberdade se constrói de uma opção ou orientação de vida.
O evangelho apresenta as “possibilidades de opção”: doar a vida ou guardá-la. Jesus colocou como centro orientador de sua vida o Reino, a vida plena da humanidade, e por essa causa, no uso pleno de sua liberdade, entregou sua vida cotidianamente até chegar ao máximo da entrega.
Quando Jesus chama a multidão para perto dele, é porque quer questionar as pessoas sobre onde estão construindo sua liberdade, em favor do reino (e isso seria vida pura) ou em favor de si mesmas (e aqui talvez pudéssemos situar a verdadeira impureza!).
Qual é a opção que orienta a vida de uma pessoa? Que desejos, sentimentos, interesses alimenta? Porque daquilo que o coração está cheio, fala a boca, orienta a vontade.
Também podemos nos perguntar: que opção orienta a vida de uma comunidade, de uma instituição, de um país?
Felizes aqueles
Felizes aqueles que diante de Deus são pobres:
a eles Deus dará o seu Reino.
Felizes aqueles que estão tristes:
Deus os consolará.
Felizes aqueles que não são violentos:
Deus lhes dará a terra prometida.
Felizes aqueles que desejam ardentemente aquilo que Deus quer:
Deus atenderá os seus desejos.
Felizes aqueles que têm compaixão dos outros:
Deus terá compaixão deles.
Felizes aqueles que são puros de coração:
esses verão a Deus.
Felizes aqueles que defendem a paz:
Deus os acolherá como filhos.
Felizes aqueles que são perseguidos:
a eles Deus dará o Reino
Referências
COLEÇÃO NOVO TESTAMENTO. O Evangelho segundo Marcos. Petrópolis: Vozes, 1983.
EQUIPE DE REFLEXÁO BÌBLICA. Reconstruir relaçoes num mundo ferido. Uma leitura de Marcos em perspectiva de relaçoes novas. CRB: 2008
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia, 1981.
MIRANDA, Mario de França. A salvação de Jesus Cristo. São Paulo: Loyola, 2004.
MOLTMANN, Jürgen. Trindade e Reino de Deus. Petrópolis: Vozes, 2000.
SICRE, José Luis. O Quadrante. A busca. São Paulo: Paulinas, 1999.
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Evangelho segundo Marcos 7, 1-8.14-15.21-23 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU