14 Dezembro 2018
O professor de Ciências Antropológicas Luis Liberman é diretor e fundador da Cátedra do Diálogo e da Cultura do Encontro — hoje Instituto. O recente acordo com a Repam, a complexidade do território amazônico e alguns dos seus desafios, a relação com o Papa Francisco e o diálogo inter-religioso foram alguns dos temas abordados na entrevista.
A entrevista é de Griselda Mutual, publicada por Vatican News, 11-12-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Cátedra – hoje Instituto – do Diálogo e da Cultura do Encontro nasceu na Argentina em 2014, com o objetivo de acompanhar o pontificado do papa Francisco, pensando em três linhas de ação: educação, trabalho e meio ambiente, e, em relação a esse último, a problemática da água em particular. Hoje o Instituto é liderado pelo seu Diretor, o professor de Ciências Antropológicas Luis Liberman, com uma presidência simbólica do cardeal Hummes, que impulsiona a presença do Instituto a nível regional. Entre outras coisas, a cátedra denuncia profundamente o trabalho escravo e entende no trabalho uma dignidade.
Recentemente, no final do mês de outubro, o Instituto para o Diálogo e a Cultura do Encontro assinou um convênio com a Repam: se trata de um acordo que é informação, conhecimento e capacitação. Sobre a finalidade e os objetivos que se propõem com esse Acordo, conversamos com o Prof. Luis Liberman:
“O Sínodo sobre a Amazônia é um desafio central desse pontificado, que dá uma mensagem ao mundo desde a América Latina e encontra na Repam uma ferramenta que pode estruturar essa mensagem”. “Como Instituto, entendemos que devíamos ter junto à Repam mecanismos institucionais mais eficazes no intercâmbio de informação”, diz o professor.
Fazendo referência à matriz comunitária da Repam, que conta com mais de 130 dioceses em lugares complexos, o professor Luis Liberman fala da complexidade do território amazônico:
“A Amazônia é um território complexo: por um lado é o pulmão do planeta e por outro é uma área profundamente atacada com uma economia extrativista e neoextrativista que destrói permanentemente a selva, e com todos os conflitos, ao mesmo tempo, geopolíticos que a região tem em si, como a guerrilha, o narcotráfico. Nesse cenário, falar de desenvolvimento integral, de ecologia integral, de paz, de encontro, implica na construção de lideranças, e a Repam vai nesse caminho. Esse acordo tem como objetivo fortalecer gerando áreas de comunicação, de pesquisa, de transferência de formação de conhecimento e de apoio, a essa questão das soluções”.
O tema do diálogo inter-religioso na construção da unidade dos povos também se inclui na conversa com o catedrático. Embora não seja sua especialização – como o mesmo aclara – provém de uma fé diversa, e sua colaboração profunda com o pontificado de Francisco determina a pergunta:
“Não sou especialista no diálogo inter-religioso, mas sim, penso que o diálogo inter-religioso se inscreve em um padrão cultural identitário, de mestiçagem, geocultural, de processos que têm a ver fundamentalmente com poder me reconhecer no outro como próximo, sem ser o outro. Quando quero convencer o outro que tem que ser como eu sou, ou somente recebo do outro a demanda de ser como não sou, na realidade isso é fundamentalismo, é pensamento único. O papa Francisco fala do Mar Mediterrâneo como um grande cemitério: estamos esquecendo que a humanidade é uma humanidade migrante desde que se constituiu como humanidade. Estamos esquecendo que esse caráter migratório é um caráter de poder encontrar a riqueza das diferenças”.
“O papa Francisco é talvez profético quando nos coloca que o desafio é construir um futuro para todos, e que a paz não é um fato econômico, mas sim ontológico. O diálogo então é também parte dessa ontologia, porque dialogar é saber escutar, interpretar, esperar, é no tempo, e se é no tempo, o diálogo constrói o futuro”.
Sobre o encontro tido com o Sumo Pontífice no final de novembro, um encontro privado, de amizade e afeto, o professor Liberman conta:
“O Papa está terminando este ano – para nós que vivemos no hemisfério Sul – planejando um 2019 muito intenso, com os dois ou três grandes temas onde a igreja está discutindo questões críticas. No que nos diz respeito é o Sínodo da Amazônia.
“Ao Papa dói enormemente e expressa sua enorme dor com respeito à situação que se vive no nosso país, em seu país, e o faz de forma permanente. Evidente, ele diz claramente que não participa de nenhuma operação do tipo, somente observa, estende a mão, convida para o diálogo”. “E trata de, na oração, fazer o melhor e dizer o melhor e expressar a nível universal aquilo que nós temos que tomar como ensinamento”.
“Eu venho de outra fé e nesse sentido também o vejo como um mestre”, diz Liberman na conclusão da entrevista. "Jorge Mario Bergoglio manteve uma coerência conceitual com suas convicções e princípios, ao menos desde que eu o conheço, faz quase 15-18 anos. E não somente o seu pensamento evoluiu, mas sim que evoluiu essa visão 360° graus que tem das coisas, do fazer do outro. E um dado mais importante, que creio no que disse no Angelus de domingo: 'o amor vence'. E o amor é encontro".
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O Sínodo sobre a Amazônia é um desafio desse pontificado. Entrevista com Luis Liberman - Instituto Humanitas Unisinos - IHU