03 Julho 2018
Visando a paz no Oriente Médio, o Papa Francisco realizará no próximo sábado uma oração ecumênica na cidade de Bari, no sul da Itália. O evento contará com representantes cristãos, incluindo a Igreja Ortodoxa Russa.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 03-07-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
A peregrinação a Bari, uma cidade ecumênica por excelência, dado a presença dos restos de São Nicolau, venerado tanto pelos católicos como pelos ortodoxos, tem como lema: “Que a paz esteja convosco! Cristãos unidos pelo Oriente Médio”.
“Francisco sempre teve gestos de amizade, acolhimento e franqueza para quebrar paradigmas com os patriarcas orientais e ortodoxos”, disse o cardeal argentino Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais do Vaticano.
"Ele também fez um gesto de aproximação ao cunhar o termo 'ecumenismo de sangue'. Ainda há um longo caminho para a unidade da Igreja, mas já estamos juntos através desses mártires que católicos e ortodoxos compartilham", disse Sandri, em uma entrevista coletiva realizada na cidade de Roma na terça-feira".
Falando sobre vítimas do terrorismo e da violência, ele disse que não são escolhidos, e sim que todos são afetados. "Quando o nome de Deus e a paz são profanados, as vítimas são cristãos, muçulmanos e yazidis, e as pessoas de todas religiões", ressaltou Sandri.
O objetivo do evento é que os líderes cristãos se reúnam para rezar por uma região que, devido aos conflitos e perseguições em curso, está vendo sua população cristã diminuir ano após ano.
"O Oriente Médio, uma terra caracterizada por suas origens, é uma das regiões do mundo onde a situação dos cristãos é mais precária", disse o cardeal Kurt Koch, da Suíça, chefe do escritório do Vaticano dedicado à promoção da Unidade dos Cristãos.
Falando com jornalistas na terça-feira, o cardeal observou que enquanto os cristãos representavam 20% da população na região antes da Primeira Guerra Mundial, hoje eles são apenas 4%. Só no Iraque, o número de cristãos passou de 1,5 milhão em 2003 para cerca de 300 mil hoje.
De acordo com Koch, os cristãos só permanecerão na região se a paz for restaurada, e essa é uma das razões pelas quais a Igreja Católica sempre trabalhou, principalmente por meio de soluções políticas.
"Não é possível imaginar um Oriente Médio sem cristãos, não apenas por razões políticas, mas porque são essenciais para o equilíbrio da região", disse Koch.
Entre os líderes cristãos que responderam ao chamado do Papa Francisco, estão os chefes de Igrejas ortodoxas, Igrejas ortodoxas orientais, a Igreja Ortodoxa Assíria, membros de Igrejas orientais católicas, um representante da Igreja Luterana e outro do Conselho de Igrejas do Oriente Médio.
A maioria dos 19 líderes presentes são patriarcas ou chefes de igrejas. Apenas cinco estão enviando um representante, incluindo a Igreja Ortodoxa Russa e o Patriarcado Católico Melquita de Antioquia.
Apesar dos sinais de reaproximação nos últimos anos - incluindo um encontro histórico com o chefe da Igreja Católica -, a intenção do serviço de oração e a importância de Bari como local de peregrinação para seus fiéis, o Patriarca Ortodoxo Russo, Kirill, não comparecerá ao encontro. No entanto, ele está enviando seu braço direito, o metropolita Hilarion de Volokolamsk, como seu representante.
Se Kirill tivesse aceitado o convite, teria sido a segunda vez que os líderes do cristianismo ocidental e oriental se encontraram, após um encontro histórico em Cuba.
Entre os recentes sinais de diminuição da tensão, está o fato de que em abril após um bombardeio realizado pelos Estados Unidos, Reino Unido e França contra complexos militares que supostamente continham armas químicas, o próprio Kirill chamou Francisco, preocupado com os últimos acontecimentos na guerra síria.
"Nós avançamos com esta iniciativa sabendo que os cristãos não podem ficar à mercê vendo o que está acontecendo na Síria. Tivemos um diálogo significativo de pacificação", disse Kirill a repórteres.
Ele também disse que os dois líderes cristãos esperam ver um fim para o "derramamento de sangue" na Síria.
"Falamos sobre como os cristãos devem influenciar os eventos, com o objetivo de pôr fim à violência para acabar com a guerra e impedir ainda mais vítimas", disse Kirill.
Respondendo a perguntas de jornalistas, Koch disse que o convite de Kirill à Francisco em abril "não é a causa" para o encontro de sábado.
Segundo Sandri, a ideia já está em andamento há algum tempo e vem de pedidos que Francisco recebeu de várias Igrejas e patriarcas do Oriente Médio.
Bari é considerada uma cidade sagrada para as Igrejas do leste europeu por causa da basílica dedicada a São Nicolau, conhecida por muitos como o santo que dá presentes para as crianças no Natal. Pessoas de todo o mundo o chamam de Papai Noel.
Fachada da Basílica de São Nicolau (Foto: www.around.bari.it)
Interior da Basílica de São Nicolau (Foto: www.around.bari.it)
Esta não é a primeira iniciativa de oração do Papa pela paz no Oriente Médio.
Em 7 de setembro de 2013, ele convocou um dia de oração e jejum pela paz na Síria. Em 2014, liderou uma oração inter-religiosa pela paz que incluiu o presidente israelense, Shimon Peres, e seu colega palestino, Mahmoud Abbas, que veio ao Vaticano para orar pela paz na região.
O pontífice também pediu aos cristãos de todo o mundo para se juntarem à iniciativa, orando de onde eles estiverem. Também pediu isso depois de sua oração semanal do Angelus de domingo, na Praça de São Pedro, e através de sua conta no Twitter, que atinge mais de 40 milhões de pessoas em vários idiomas.
A reunião será dividida em dois momentos: uma oração pública, que incluirá canto em aramaico e em árabe, e um encontro privado entre os líderes da igreja e os patriarcas.
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Francisco quebra barreiras com ortodoxos pela paz no Oriente Médio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU