18 Dezembro 2017
O ano de 2017 do Papa Francisco encerra-se com um balanço bem complicado. Neste ano, de fato, ficaram seriamente trincadas as duas reformas fundamentais de Jorge Bergoglio: aquela econômica e a referente à luta contra a pedofilia no clero.
Paradoxalmente, os dois episódios se cruzam como o homem-chave chamado por Francisco para orientar a Secretaria da Economia, o cardeal George Pell, que é acusado pela justiça do seu País por estupros e pedofilia. O relatório final da comissão de inquérito australiana, contido em 17 volumes, que não diz respeito apenas à Igreja Católica, é impressionante: 2.559 denúncias recolhidas até agora, 230 processos em andamento, mais de 42 mil pedidos de ajuda e 60 mil sobreviventes com direito a indenização. Em algumas dioceses australianas chegam a ser 15 por cento dos sacerdotes suspeitos de pedofilia.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 15-12-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas Pell não foi o único entrave das reformas econômicas de Francisco. Existem dois outros incidentes graves e, no mínimo, deploráveis. Os afastamentos, após apenas dois anos desde suas nomeações, de Libero Milone, o primeiro e até agora único auditor geral do Vaticano, e do vice-diretor do IOR, Giulio Mattietti. Em ambas as demissões sumárias pairam muitas dúvidas. Milone acusou a Santa Sé de ter sido forçado a sair sob ameaça de prisão. Mattietti foi subitamente afastado de seu gabinete sem qualquer explicação.
O outro problema diz respeito à pedofilia que, além do caso de Pell também teve a desistência da segunda vítima de abuso do clero, a irlandesa Marie Collins, da Pontifícia Comissão para a Proteção da Criança. A mesma decisão dolorosa realizada um ano atrás por outra vítima, Peter Saunders. Entre os primeiros atos de 2018 o Papa, portanto, será chamado a renovar todo o delicado organismo, inclusive porque os demais 15 membros estão terminando seus mandatos. Sem esquecer também que ainda está em curso a investigação no Vaticano de monsenhor Carlo Alberto Capella, diplomata da Santa Sé acusado pelos Estados Unidos e Canadá por pornografia infantil.
Enquanto celebra 81 anos e está prestes a cruzar a linha de chegada do quinto ano de seu pontificado, Francisco já entrou definitivamente naquela "normalidade" que caracteriza o papado. Após a lua de mel inicial, que inclusive contou também com Bento XVI apesar de sua caricatura de panzerkardinal que o acompanhava há anos, antes mesmo da eleição, Bergoglio está agora imerso nos problemas de uma Cúria romana difícil de reformar. Embora exista no Vaticano a sensação de que 2018 será o ano da virada, com o trabalho do C9, os cardeais conselheiros papais, que poderiam finalmente trazer alguma luz. A verdadeira reforma, no entanto, que resultou muito indigesta para a Cúria Romana, Francisco a fez com seu estilo e seus ensinamentos, demonstrando com gestos e não só com palavras aquela "conversão", inclusive do papado, que desde o início está pedindo para a Igreja.
Não por acaso o Papa frisou que "é preciso ressaltar que a reforma será eficaz apenas e somente se for realizada com homens "renovados" e não simplesmente "novos" homens. Não basta contentar-se com mudar o pessoal, mas precisamos fazer com que os membros da Cúria se renovem espiritualmente, humanamente e profissionalmente. A reforma da Cúria não pode ser realizada com a troca de pessoas, o que certamente acontece e irá acontecer, mas com a conversão nas pessoas. Na verdade, não basta uma formação permanente, é preciso também e acima de tudo uma conversão e uma purificação permanente. Sem uma mudança de mentalidade o esforço funcional será inútil". Palavras que, como é evidente, a Cúria romana ainda não incorporou.
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Reforma da Cúria, o Papa deixa para trás um ano difícil. Quais serão as primeiras providências de 2018 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU