30 Outubro 2017
“Reduzir a evasão traz benefícios adicionais para a sociedade. Os adultos mais escolarizados têm menores problemas de saúde e são menos propensos à criminalidade, além de aumentarem a produtividade e estimularem o investimento privado”, escreve Marcos Lisboa, doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia. Foi secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e é Presidente do Insper, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 29-10-2017.
Não há apenas más notícias no relatório de Ricardo Paes de Barros sobre as causas da evasão no ensino médio e as possíveis ações para reduzi-la.
O percentual de jovens de 15 a 17 anos que frequenta o ensino médio passou de 20% para 56% de 1991 a 2015, o que contribuiu para a melhora da qualidade de vida.
Os adultos com mais de 25 anos e ensino médio completo têm uma renda média de R$ 1.142 por mês, bem mais do que os R$ 534 que recebem os com ensino fundamental incompleto. Diferenças equivalentes são observadas na participação no mercado formal de trabalho, no planejamento familiar e nos indicadores de saúde. Educação importa.
O ciclo de três anos do ensino médio custa cerca de R$ 18 mil por aluno ao setor público. Por outro lado, os jovens que completam esse ciclo têm um aumento de renda durante o restante da sua vida equivalente a receber uma herança de R$ 35 mil.
Vamos às más notícias. Deveríamos ter avançado mais. Na última década, o Brasil caiu da posição 43 para a 55 quando se compara o percentual de jovens que frequentam o ensino médio entre 98 países. Todo ano, quase 1 milhão dos nossos jovens desistem da escola.
Reduzir a evasão traz benefícios adicionais para a sociedade. Os adultos mais escolarizados têm menores problemas de saúde e são menos propensos à criminalidade, além de aumentarem a produtividade e estimularem o investimento privado.
No caso dos Estados Unidos, estima-se que esses fatores resultem em um custo social de US$ 137 mil ao longo da vida de cada jovem que desiste do ensino médio. Russell Rumberger sistematiza a pesquisa acadêmica sobre as razões e consequências da evasão no livro "Dropping Out".
A perda por aqui seria de R$ 95 mil por jovem, caso o impacto da evasão seja semelhante ao estimado para os Estados Unidos, o que significa um custo social total de R$ 95 bilhões. Bem mais do que o setor público gasta com o ensino médio, cerca de R$ 50 bilhões.
A evasão dos jovens prejudica as próximas gerações. Filhos de mães pouco educadas e mais pobres têm maior probabilidade de serem igualmente pobres e pouco educados. Completam o ensino médio 42% dos jovens cujas mães apenas terminaram o ensino fundamental. Esse número sobe para 78% caso as mães tenham concluído o ciclo médio.
A evidência indica que reduzir a evasão aumentará a renda dos novos adultos em meio a muitos outros benefícios sociais. Vamos utilizar os diagnósticos e as experiências de sucesso para aperfeiçoar a gestão da política pública? Ou a desigualdade será para sempre uma herança, que passaremos de geração a geração?
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Os filhos da desigualdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU